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ELIPA — Encontro Literário nas Periferias
ELIPA — Encontro Literário nas Periferias

O BAIRRO NO CENTRO DA PRODUÇÃO CULTURAL

 

Encontro literário nas periferias reúne diferentes iniciativas culturais comunitárias na quadra da Imperatriz Dona Leopoldina

  

O que as divisões geográficas consideram como periférico também pode ser visto como o coração de algumas das manifestações culturais mais potentes das grandes cidades brasileiras nos últimos anos.

 

Vêm das periferias, grande parte dos escritores e artistas responsáveis por movimentos culturais como slams (campeonatos de poesia falada), batalhas de rap e até festas que lotam espaços como o largo Zumbi dos Palmares, o viaduto do Brooklyn ou os arredores do Mercado Público, na Capital. Seja por meio da música, da poesia ou da estética, suas mensagens apontam para uma direção: as periferias como grandes centros de produção intelectual.

 

Um dos resultados desse movimento é o Encontro Literário nas Periferias (Elipa), que começa hoje (12/10) na quadra da Escola de Samba Imperatriz Dona Leopoldina, no bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre. Promovido por poetas, universitários, fotógrafos e pessoas da comunidade local, o Elipa pretende destacar a produção literária que se dá fora do centro da cidade. O encontro terá mais de 15 atrações, entre elas o ator, ativista e escritor baiano Hamilton Borges Walê, o poeta paulista Akins Kintê, a poeta, rapper e produtora cultural carioca MC Martina, os poetas gaúchos Duan Kissonde, Lilian Rocha, Pâmela Amaro e Sidnei Borges, a rapper Negra Jaque e o grupo de rap Síganus.

 

Lançando em Porto Alegre os livros TEORIA GERAL DO FRACASSO e SALVADOR CIDADE TÚMULO, o baiano Hamilton Borges Walê é o articulador político da organização Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta, campanha de atuação contra a violência policial que atinge a população negra, exigindo reparação a famílias de vítimas de milícias e esquadrões da morte. Também é coordenador da Marcha Internacional contra o Genocídio do Povo Negro.

 

Já o poeta e cineasta Akins Kintê apresenta narrativas que remetem desde à ancestralidade da cultura negra aos campos de várzea por onde a bola de futebol rola nas vilas. Kintê participa da mesa Literatura Negro Brasileira: Usos e Sentidos, que pretende debater sua obra, abordando entraves e dificuldades que enfrentou, mas também suas conquistas.

 

A conexão entre periferias de várias partes do país também vai ser um dos temas do encontro, na mesa que terá a participação de MC Martina – idealizadora do Slam da Laje, a primeira batalha de poesia do Complexo do Alemão, uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro. O evento é realizado uma vez por mês, de forma itinerante, em diferentes locais do Complexo do Alemão.

 

Além das atrações nacionais, a programação do Elipa também reserva espaço para representantes do próprio Rubem Berta, como o grupo de rap Filhos da Norte e a Escola de Samba Imperatriz Dona Leopoldina. Outra atração do fim de semana será a segunda final gaúcha de slam, que vai reunir os vencedores das primeiras competições de poesia falada na disputa por uma vaga no campeonato nacional da modalidade.

 

ESCOLA DE SAMBA COM BIBLIOTECA

 

Se o encontro é visto pelos organizadores como o resultado de diversos movimentos literários espontâneos que ocorrem por meio da produção de artistas da periferia, a concepção do evento segue o mesmo fluxo e tem a autonomia como fio condutor. O evento não tem patrocínio público ou privado, o que possibilita maior independência para sua realização e continuidade. Para tornar essa independência possível, o grupo promoveu o autofinanciamento, recorrendo a uma vaquinha na internet, além da venda de rifas, livros e botons para chegar à soma necessária para a realização do encontro.

- Acho que essa que é a grande questão do Elipa: a autonomia. Nós não queremos ser a solução, mas somos uma possibilidade de alternativa para essas questões – destaca Alisson Batista, 29 anos, um dos organizadores do evento.

 

Além de destacar as periferias como centros de produção literária, o Elipa também pretende explorar o conceito de escola ao transformar a quadra da Imperatriz Dona Leopoldina em polo de leitura por meio da construção de uma biblioteca no local. A ideia é que o encontro seja o primeiro passo para uma série de oficinas e projetos que vão envolver as crianças e os adolescentes da comunidade.

- A escolha da Imperatriz se deu porque não temos encontros literários na zona norte e também porque o Carnaval de Porto Alegre está num momento de desmonte. É importante fortalecer esses espaços e retomar a ideia de que a escola de samba não é só uma agremiação que desfila no Carnaval. A Imperatriz é uma escola de samba muito comunitária, localizada em um dos bairros mais violentos do Estado. E quem faz a escola é a comunidade – diz Andressa Morais, 25 anos, também organizadora do Elipa.

 

Segundo Alisson, a biblioteca comunitária é o maior projeto da iniciativa e o Elipa existe em função dela.

- Nós queremos proporcionar à molecada que frequenta a quadra (da escola de samba) uma relação de educação diferente da escola. Uma relação em que eles serão sujeitos da produção. Estamos pensando também em educação, uma educação que está fora da sala de aula, uma educação que promova a autonomia dessa juventude.

 

Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno/Bruno Teixeira (bruno.teixeira@rdgaucha.com.br) em 12/10/2018