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SANTIAGO: UM DESENHISTA CRÍTICO.
Ele nasceu Neltair Abreu, mas enquanto cursava Arquitetura na UFRGS, na década de 1970, ganhou o apelido pelo qual é conhecido até hoje: Santiago. O desenhista de humor, que foi o sabatinado da vez em nosso programa Em Sintonia Com, contou que rabiscava desde os três anos de idade (com a escassez de papel, na época, usava até mesmo as folhas de um calendário velho). Foi durante a faculdade, no entanto, que ele percebeu que a sua vocação era mesmo ser desenhista: participou de (e venceu) um concurso de charges, em São Paulo, com um desenho realizado para um jornal estudantil. Segundo ele, foi aí que pensou: “Acho que meu negócio mesmo é o desenho”. Nessa ocasião, conheceu os responsáveis pela publicação rebelde O Pasquim, para a qual viria a contribuir diretamente de Porto Alegre. Santiago conta que nos anos de chumbo trabalhou durante muito tempo no Jornal Folha da Tarde. E todos os desenhos que eram barrados por seu editor, com a desculpa de serem impublicáveis, iam direto para O Pasquim – e lá “faziam sucesso”.
Em tempos tão turbulentos, não poderíamos deixar de perguntar a Santiago sobre a sua visão do crime envolvendo o semanário francês Charlie Hebdo. A morte de 12 pessoas ligadas ao jornal satírico despertou discussões sobre os limites do humor. De acordo com o desenhista, que disse em alto e bom tom “Je suis Charlie” durante a entrevista, o acontecimento “foi uma estupidez sem nenhum tipo de ‘mas...’”. Para ele, “o humor é anarquista, é de esquerda, é oposição”. E completa: “Não tem como tu fazer piada elogiando o rei. A piada vai ser sempre criticando o rei”. Pois é exatamente assim que o Charlie Hebdo atua: criticando e debochando de todo e qualquer tipo de poder. Para concluir, o desenhista arremata: “A gente só dessacraliza as coisas rindo delas”.
Por Gabriella Scott/Jornalista