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Dicionário da Escravidão e Liberdade
Dicionário da Escravidão e Liberdade

DICIONÁRIO APRESENTA AS VÁRIAS FACETAS DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL

 

Cultura, religião e aspectos locais, como as Charqueadas no Sul do país, estão entre os temas abordados no livro.

 

Livro: Dicionário da Escravidão e Liberdade – Lília M.Schwarcz e Flávio Gomes (organizadores) – História, Companhia das Letras, 50 páginas.

 

Há uma falácia que volta e meia circula nas discussões públicas acerca da escravidão no Brasil (e por vezes até no ensino do período nas escolas): a de que há pouca documentação a respeito e, portanto, que se sabe muito pouco sobre a escravidão e os escravos no Brasil. DICIONÁRIO DA ESCRAVIDÃO E LIBERDADE, um livro coletivo com curadoria dos historiadores Lília Moritz Schwarcz e Flávio Gomes, é, além de um amplo compêndio de ensaios críticos voltados ao grande público, uma espécie de súmula de muito que a academia já produziu sobre o tema ao longo das últimas décadas.

 

O projeto começou após Lília haver publicado, com coautoria com Heloisa Murgel Starling, BRASIL: UMA BIOGRAFIA, em 2015. Gomes escreveu à colega para elogiar a obra e, da correspondência que se seguiu, surgiu a ideia de trabalharem em um livro nos mesmos moldes sobre a história da escravidão. O projeto foi sendo gradativamente modificado até se tornar a curadoria de uma obra coletiva com artigos encomendados a especialistas. Um dos motivos foi a falta de tempo de Lília, que então finalizava sua extensa biografia do escritor Lima Barreto, lançada em junho do ano passado. Mas ela mesma comenta que a decisão já vinha sendo maturada nas pesquisas preliminares feitas pela dupla sobre o tema.

- Cada vez que pesquisávamos sobre um assunto, notávamos que já havia professores mais especializados para falar daquele tema. Sentamos e concluímos que seria melhor fazer um dicionário temático. Já tínhamos os capítulos do projeto, sabíamos que queríamos mostrar a escravidão como uma linguagem que alcançou o Brasil inteiro, que faríamos verbetes do país todo, que queríamos pensar a correlação com a África. E em 10 dias já tínhamos um esqueleto da estrutura com os nomes das pessoas que queríamos convidar – conta ela.

 

De acordo com Gomes, a ideia de recorrer a um bom número de especialistas foi dar conta da complexidade de uma história que é, ela própria, múltipla.

- Quando começamos a nos debruçar sobre o projeto, vimos que era um mundo de quatro séculos, quatro séculos e meio. Pegue o exemplo do próprio Rio Grande do Sul. Na primeira metade do século 19, você tem Porto Alegre como uma cidade africana, com grande presença de africanos ocidentais, vindos das regiões do Benim, Nigéria, Senegal, Costa do Ouro. Você tem produção de trigo ainda no século 18, e depois, na segunda metade do 18, entrando no 19, emerge a Charqueada. Ou seja, só num Estado, há várias dimensões do tema. Imagina no Brasil – diz.

 

O livro reúne, assim, cinco dezenas de artigos que versam sobre aspectos específicos da história da Escravidão. De África Durante o Comércio Negreiro, de Roquinaldo Ferreira, sobre o impacto humano e social da migração forçada em boa parte da África continental, até Valongo, de Carlos Eugênio Libânio Soares, sobre o Cais do Valongo, “o mais importante entreposto negreiro da cidade na época de intenso tráfico de escravos africanos no país (1774-1831)”. Entre uma ponta e outra, artigos com entre seis a oito páginas sobre temas como a estrutura das charqueadas no Rio Grande do Sul, das fazendas de café, de como funcionava o pouco conhecido mercado escravista na Amazônia, além de elementos da cultura dos povos escravizados, como sociedades da África continental, a religião, a capoeira, a experiência de resistência nos Quilombos, entre outros temas.

 

VÍDEO/DEBATE: https://www.youtube.com/watch?v=m03Md4yx8VI

Fonte: Jornal Zero Hora/Carlos André Moreira (carlos.moreira@zerohora.com.br) em 22/05/2018