Translate this Page




ONLINE
7





Partilhe esta Página

                                            

            

 

 


Carlos Nejar, Escritor Gaúcho e Membro da ABL
Carlos Nejar, Escritor Gaúcho e Membro da ABL

O GIGANTE GENTIL

 

Integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL), Carlos Nejar chega aos 80 anos em plena atividade.

 

Nascido em Porto Alegre, em 11 de janeiro de 1939, o escritor gaúcho Carlos Nejar é conhecido como “poeta do pampa brasileiro”. Mas, hoje em dia, ironicamente, ele vive como uma espécie de “expatriado” em território carioca. Sua atual “coxilha” é um refúgio localizado no bairro da Urca – batizado por ele de “Casa do Vento” (devido aos ventos que assoviam ao redor do edifício) –, um dos bairros mais charmosos do Rio de Janeiro. Ao invés da paisagem verdejante e a perder de vista, encontra uma vista para a Baía de Guanabara, o icônico Pão de Açúcar e a aquática imensidão do Oceano Atlântico.

 

Carlos Nejar é um homem de horizontes largos, assim como estatura de sua literatura. Seu amor pelo Rio Grande transborda tanto de suas falas quanto de suas letras. A saudade lhe acompanhava fielmente. Ele esclarece, no entanto, que não sem motivos deixou o “pago”. A mudança para o Rio deveu-se, sobretudo, às obrigações relativas à sua atuação na Academia Brasileira de Letras (ABL), na qual ocupa a cadeira nº 4 – na sucessão de outro gaúcho, o leopoldense Vianna Moog. Nejar saiu da querência, porém a querência não saiu dele. “O Rio Grande está comigo onde quer que eu vá”, garante o escritor.

 

O corpulento Nejar, do alto de seus mais de 1,80 metros de altura (um verdadeiro “gigante gentil”) poetiza que “o mar é pampa”. “Toda a palavra que me cria é pampa. E esse pampa segue comigo, enquanto eu for palavra”. Procurador de Justiça aposentado, o gaúcho dedica-se integralmente ao ofício literário. Tal qual seu filho, o poeta e igualmente escritor Fabrício Carpinejar, fruto de seu casamento com a poetisa Maria Carpi (O PERDÃO IMPERDOÁVEL; A MIGALHA E A FOME, entre outros títulos). Ou seja, uma família de escritores.

 

Carlos Nejar tem se mostrado, aos 80 anos, mais fecundo do que nunca. Para se ter ideia, só no primeiro semestre de 2019, o escritor já lançou quatro livros. Qual escritor, atualmente, mantém igual média? Pela editora porto-alegrense Bestiário saíram os poemas O ESCONDERIJO DA NUVEM; pela recifense CEP publicou o romance OS DEGRAUS DO ARCO-ÍRIS (que, segundo a crítica, possui “estilo de novo simbolismo”); e, pela paulistana Com-Arte, a obra O CAVALO HUMANO. Nejar saiu-se, ainda, com o volume de poesias CANDEIA DE UMA FÁBULA: LELÉ E EU (Le Chien). “É (os poemas do livro) sobre a pungente história de minha cachorra Lelé e eu”, diz o sentimental poeta.

 

Em 2017, o bardo gaúcho viveu um dos grandes acontecimentos de sua trajetória ao ser indicado ao Prêmio Nobel de Literatura pelas Academia Sueca (Svenska Akademien), sediada em Estocolmo. Mas infelizmente não arrebatou a distinção. Alegria maior –, Nejar não disfarça – coisa que ele não esconde, ele teria se acaso fosse convidado para ser patrono da Feira do Livro de Porto Alegre, sua amada e nostálgica cidade. O anseio é antigo. “O Rio Grande do Sul tem de valorizar aqueles que o amam como eu o amo. Poucos deixarão para posteridade uma obra tão vasta e diversa quanto a minha”, advoga em causa própria, lançando mão de suas habilidades de procurador.

 

O poeta, dramaturgo e letrista Geraldo Carneiro (parceiro, entre outros, de Egberto Gismonti, Astor Piazzolla, Francis Hime e Wagner Tiso), colega de Carlos Nejar na ABL, além de amigo, confessa-se grande admirador do escritor gaúcho. Para Carneiro, a poesia fez um “pacto” com Carlos Nejar”. “Não se conhece o nome da divindade que o celebrou. Talvez não seja uma, mas muitas, porque a poesia de Nejar tem mais faces do que as sete mencionadas no poema de estreia de Drummond. Para quem gosta de sonetos, sugiro: ‘Amar: a mais alta constelação’”.

 

A LITERATURA ESTÁ DESVALORIZADA DEVIDO À BANALIDADE DO MAL

  

Nesta entrevista, Carlos Nejar ressalta a importância de nomes como Cecília Meireles e Machado de Assis para a cultura brasileira. Por outro lado, reconhece que os baixos índices de leitura e o desinteresse por livros em geral decorrem de baixos índices de informação televisiva, a banalidade do mal que invade todas as áreas e o descaso do governo que não lhe concede a importância que ela tem.

 

 

É um mundo cada vez mais injusto, raivoso, violento, intolerante, confuso, preconceituoso. Seria a poesia um antídoto para as nossas mazelas?

Sim, a poesia é um antídoto, por ser consciência da realidade do mundo em que se vive. E como tem palavra, é capaz de transformar, dar um novo sentido à vida, olhar amorosamente as coisas, a ponto de as coisas também nos amarem.

 

 

O bom poeta é aquele que melhor poetiza em tempos de paz ou de guerra?

O bom poeta é o que, na paz ou na guerra, é a voz e o rosto de seu povo.

 

 

O senhor pensa que a literatura brasileira, como nunca antes na história deste ainda iletrado país, encontra-se nacional e mundialmente desvalorizada?

Não acho que a literatura brasileira, que tem um Machado de Assis, Drummond, Guimarães Rosa, João Cabral, Clarice Lispector e Cecília Meireles, esteja mundialmente desvalorizada. Ao contrário, poucos países alcançaram o nível e a altura de alguns de nossos autores. Ninguém pode desconhecer o andar de um continente como o Brasil.

 

 

A falta de hábito da leitura, na opinião do senhor, está no DNA do brasileiro? Os baixos índices de leitura parecem apontar para algum fato ancestral...

A literatura não está valorizada como deveria, não só pela falta de leitura, mas também pelo baixo índice de informação televisiva, a banalidade do mal que invade todas as áreas, o descaso do governo que não lhe concede a importância que ela tem. Infelizmente, a onda da imagem está mais poderosa do que a palavra. Podemos viver sem imagens, mas não vivemos sem palavra.

 

 

Como o senhor se encaixaria em seu compêndio História da Literatura Brasileira?

O que posso dizer que minha História... é um olhar crítico e amoroso sobre nossa criação, também a contemporânea. Escrever um romance, por exemplo, é deixar-se criar pelos personagens.

 

 

O senhor fala da singularidade de Simões Lopes Neto como contador de história: “Ele não inventa nada”. Neste mundo excessivamente tecnologizado, ainda há espaço para um novo Simões Lopes Neto?

Não falei apenas na singularidade de Simões Lopes Neto como contador de histórias, mas também como inventor de linguagem, absorvendo a tradição, o folclore, de uma forma universal, com tipos inesquecíveis. Tanto que é, por exemplo, precursor de um Guimarães Rosa.

 

 

Tempos atrás, o cineasta Woody Allen comentou que finalmente descobrira a universalidade de Machado de Assis. Que outros autores brasileiros têm essa vocação?

Há vários, além de Machado, que têm um grande paradigma de universalidade, como Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, José Veiga, João Ubaldo Ribeiro, Moacyr Scliar (haja vista O CENTAURO NO JARDIM). Deveriam ser inseridos entre os ditos gênios do Cânone Ocidental, do americano (Harold) Bloom.

 

 

Qual o segredo para se chegar aos 80 anos escrevendo? Escrever rejuvenesce?

O segredo de chegar lúcido aos 80 anos é o de continuar trabalhando. Ocupar-se, respirar a alegria de estar vivo. O contato vivo com a palavra revigora. Sinto que, aos 80 anos, volto a uma nova infância.

 

 

O senhor disse que “fora da poesia não há salvação”. De que forma a poesia poderia nos salvar?

Hoje, penso que a poesia “ajuda a viver”, mas quem cura e salva é a palavra.

 

 

RETALHOS DO MUNDO

Minha amizade com Carlos Nejar começou a mais de 50 anos, na cidade serrana de Garibaldi, depois transferiu-se para Porto Alegre. Então temos muitas memórias comum. Sempre eu senti que o Nejar possuía um poderoso talento. Ele tem algo que me agrada, enquanto construtora de uma obra poético-ficcional: ele tem o sentido da “desmedida das coisas”. É como se ele caminhasse por veredas arbitrárias e, ao mesmo tempo, libertárias.

 

Nejar não é pautado por nada. Ele, sem dúvida, é um poeta indômito. Indômito é a palavra que melhor o define. Por causa disso, ele não tem medo de cruzar as vielas sombrias e luminosas da linguagem. Isso me agrada muito, pois, de modo geral, poetas e ficcionistas são muito medrosos e bem-comportados – e o Nejar não é. O Nejar arbitra o que ele quer segundo a estética dele. Por possuir tão aguçado sentido libertário, ele ´pe capaz de produzir muito, daí ele cruzar fronteiras e, em troca, entregar-nos uma linguagem extremamente original.

 

Seu universo metafórico também é quase transcendente, porém ele não é teológico. Ele é muito mais um poeta da carne, um poeta do “derreal”. Um poeta de quem perdeu o paraíso. Um poeta que, longe de sua terra, tem irradiações do pampa, que sabe o que faz de suas memórias do pampa. Isso é parte indissociável dele. Mas o que se destaca nele verdadeiramente é seu sentido de universalidade. Universal no sentido de quem arregimenta todos os retalhos do mundo.

 

Por Nélida Piñon – Primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras (ABL). É autora de livros de que vão do conto à crônica – entre os quais A Doce Canção de Caetana (1987), A Camisa do Marido (2014) e Uma Furtiva Lágrima (2019).

  

UM COMPÊNDIO PARA A LITERATURA BRASILEIRA

Ao longo de mais de mil páginas de HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA – DA CARTA DE CAMINHA AOS CONTEMPORÂNEOS (LeYa), Carlos Nejar faz um inventário, por meio de verbetes, de escritores que vão de Guimarães Rosa a Euclides da Cunha, de Clarice Lispector a Augusto dos Anjos. Partindo de Pero Vaz de Caminha (que “escreveu a primeira nomeação da nossa nacionalidade”), o portentoso volume cruza os tempos e singra os revoltosos mares da literatura nacional e não fica apenas nos “medalhões”. De Machado de Assis e Euclides da Cunha, entre centenas de outros, a “jovens” autores como Daniel Galera, João Paulo Cuenca e Michel Laub (ainda que apenas citados).

 

Os tais jovens autores citados por Nejar, constantes da última edição do livro, publicado em 2010, deverão ser atualizados juntamente com o nome de outros escritores, mais jovens (ou contemporâneos), que deverão ser acrescidos àquela que deverá ser a quarta edição do compêndio. “Com olhar amoroso sobre os que criam no Brasil de hoje. Vão entrar vários escritores que se impõem e é a nova literatura, tanto no romance, poesia e ensaio. Prefiro não citá-los ainda. Fiquei entusiasmado, sim, pela recepção e as várias edições alcançadas”, adianta Nejar.

 

O livro, nas palavras do escritor, é u, “abraço fraterno na literatura brasileira”. E, além dos livros propriamente ditos, traz também uma síntese dos autores teatrais – “dos primórdios até a sombra prodigiosa de Nelson Rodrigues”. Nejar não achou honesto incluir sua própria obra no livro, porém cabe lembrar que seus 300 poemas publicados em OS VIVENTES (1979) ganharam as ilustres bênçãos de Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector, que uma vez declarou: “Ele (Nejar) atordoa os modelos e paradigmas da crítica literária.

 

Para o Rio Grande do Sul, um dos grandes feitos de HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA, sem sombra de dúvida, foi reavivar na memória literária a grande quantidade de escritores gaúchos que andavam meio esquecidos:

 

Álvaro Moreyra:  Nasceu em Porto Alegrew, em 1888, e faleceu noi Rio de Janeiro, em 1964. Foi, sobretudo, um “arquiteto de crepúsculos”, desde CASA DESMORONADA (1909) e LENDAS DAS ROSAS (1916).

 

Alceu Wamosy:  Nascido em Uruguaiana em 1895, Alceu Wamosy, um dos poetas mais significativos do simbolismo brasileiro, publicou, em 1913, FLÂMULAS, e AS POESIAS COMPLETAS, em 1925. Envolveu-se ardentemente na Revolução de 1923, sendo ferido a bala. Faleceu na companhia da mãe e da esposa. Seu último verso foi: “Morrer mantendo minhas mãos nas tuas...”.

 

Viana Moog:  Clodomir Viana Moog nasceu em São Leopoldo em 1906 e faleceu no Rio de Janeiro em 1988. Foi jornalista, biógrafo, socialista e romancista. Um de seus clássicos é HERÓIS DA DECADÊNCIA e REFLEXÃO SOBRE O HUMOR (analisando Petrônio, Cervantes e Machado de Assis).

 

Alcides Maya:  Nascido no município de São Gabriel, em 1878. Em 1913, é eleito para a cadeira de número 4 da Academia Brasileira de Letras. Precoce, aos 19 anos publicou seu primeiro livro, PELO FUTURO. Em 1910, publicou o ruidoso romance RUÍNAS VIVAS, no qual faz uma exegese crítica dos costumes gaúchos.

 

Cyro Martins:  O escritor, com SEM RUMO (1937), foge do prisma pitoresco, aprofunda a humanidade dos personagens, ao tratar da figura do anti-herói. É o primeiro livro da chamada “Trilogia do Gaúcho a Pé”, que é completada por PORTEIRA FECHADA (1944) e ESTRADA NOVA (1954). Uma das principais características de SEM RUMO são as arcaicas expressões gauchescas utilizadas pelo autor.

 

Ivan Pedro Martins:  FRONTEIRA AGRESTE (1944), de Ivan Pedro Martins, escritor mineiro que se radicou no Rio Grande do Sul, é um livro que causou grande polêmica à época, por tratar da luta a favor de uma utopia de cunho social. A obra integra a chamada “Trilogia da Campanha”, formada pelos livros CAMINHOS DO SUL (1945) e CASAS ACOLHERADAS (1946).

 

Barbosa Lessa:  Em OS GUAXOS (1959), Lessa vale-se do filão gauchesco sob maior rigor estético. O romance concedeu-lhe o Prêmio da ABL naquele ano. Músico, compositor e pesquisador da cultura gauchesca, publicou vários livros, entre contos e romances. Destaques: PARA UMA MENTIRA BOA, OUTRA MELHOR (1943); O BOI DAS ASPAS DE OURO (1958); e ESTÓRIAS E LENDAS DO RIO GRANDE DO SUL (1960).

 

RETRATO ESCRITO DE MEU PA 

O pai que a gente ama é o pai que precisamos, não o que queremos. Meu pai é um outro pai. Não o que projeto de mim nele. Meu pai não é somente o que fala comigo. É um medo indestrutível e seus longos silêncios. Em algum momento de seu entardecer, ele e Deus se olham como plumas e espuma, como lume e azeite, como quem toca um vento em pelo, sem rédeas. É ele e seu passado imprevisível. Esse pai que luta contra si mesmo é o meu pai.

 

Meu pai não é apenas o que herdei dele. Apresento o seu nariz, o seu jeito de gemer perante a comida, a sua gargalhada bonachona, as suas pernas finas, a sua vocação para a calvície. Tenho do meu pai também o que não tenho dele: o que nem sei, o que acabei sendo para contrariá-lo. Quantas características surgiram em mim do combate ao meu pai? Também são, no fim das contas, traços dele.

 

Meu pai já foi vários homens, nunca deixando de ser meu pai. Experimentou cabelo comprido e barba. Morou em Portugal, na Alemanha, em três estados brasileiros (Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Espírito Santo). Morou fora e dentro de si. Agora, envelhecido, está com um rosto de criança, esverdeado. Sua testa não tem rugas, mas marcas de passaporte e carimbos e restos de caligrafia.

 

Meu pai talvez montou pipa quando pequeno, talvez tentou tocar violão, talvez jogou bolita. Não há fotos de seu início, memórias fiéis. Eu me pergunto se seria amigo de meu pai em sua infância, assim como ele se esforçou para me entender em minha infância. Era tímido ou expansivo? Era solitário ou espalhafatoso?

 

Eu já vi ele se barbear e se cortar com o retorno abrupto das mãos. O homem que se corta é meu pai. O homem que sangra conhece a sua dor pelo nome.

 

Meu pai não sabe conversar longe. Ele me puxa para perto do rosto. Ele conversa com as mãos em meus ombros. Cheira as minhas bochechas antes de me beijar.

 

Meu pai ostenta l,80 m e coloca boinas para aumentar de tamanho, como quem recebe pássaros em sua cabeça.

 

Não está nem aí para as modas. Meu pai gosta de suspensórios sem necessidade.

 

Não chorei na frente dele em nenhum momento, mas beijei suas pupilas quando chorava. Minha boca já foi sua pálpebra. Cuidei de meu pai como meu primogênito.

 

Meu pai dorme de óculos. Nunca o vi jogar futebol, mas me levou uma tarde para o estádio na torcida errada. Ele colocou seu corpo em volta do meu. Não assisti o jogo, e sim seus braços para me proteger.

 

Meu pai não sabe contar piada, sabe contar histórias. Não bebe vinho e álcool. Lê com voracidade, com os livros espalhados na cama. Perde as coisas com facilidade. Encontra as coisas quando não mais precisa delas. É passional na cumplicidade. Acredita que o mundo está com ele ou contra ele. Não há meio-termo. Um amigo pode virar inimigo em um minuto. Um inimigo pode virar amigo no próximo minuto. Não se muda temperamento, unicamente se ajeita. Conserva mania por cartas. Um dia sem carteiro é um dia que ainda não aconteceu.

 

Meu pai folheias jornal e revista sublinhando. Sublinhar é lembrar.

 

Ele mora diante do mar sonhando com o pampa. No calor, suspira pelo frio. No frio, chama o sol. Sozinho, longe de todos, escuta música clássica. Música que não apresente letra. Ele é a letra. Esse que eu descrevo ainda não é meu pai. Mas é um caminho até ele. O único caminho que conheço.

 

Por Fabrício Carpinejar – Poeta, jornalista e cronista.

 

 

ANTIELEGIA SEM CAROÇO

Texto inédito

 

Estive com a maçã na boca, desde criança.

E a maçã comi, já velho e menino, lá no paraíso comi a luz.

E a maçã do amor eu vi:

o elevado tronco e cheiro de mulher em êxtase.

Comi a polpa e a casca.

Joguei fora a solidão, caroço.

E enfim, adormeci.

Era a maçã de onde eu provinha.

E como ela, irei provar a terra tenra, tenra e fria.

 

OBRAS SELECIONADAS

 

Sélesis: Porto Alegre: Livraria do Globo, 1960.

Livro de Silbion (contos):  Porto Alegre: Difusão de Cultura, 1963.

Livro do Tempo:  Porto Alegre: Champagnat, 1965.

O Campeador e o Vento:  Porto Alegre: Sulina, 1966.

Danações:  Rio de Janeiro: José Álvaro Editor, 1969.

Ordenações:  Porto Alegre: Editora Globo/INL, 1971.

Canga (Jesualdo Monte):  Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.

Casa dos Arreios:  Porto Alegre: Editora Globo/INL, 1973.

O Poço do Calabouço:  Lisboa: Livraria Moraes Editores, 1974 (esgotado). Prêmio Fernando Chinaglia (1974) da União Brasileira de Escritores.

Somos Poucos:  Rio de Janeiro: Editora Crítica, 1976.

Árvore do Mundo:  Rio de Janeiro/Brasília: Nova Aguilar/INL, 1977; 2.a ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977. Prêmio Luísa Cláudio de Souza (1977) do PEN Clube do Brasil. Esgotado.

O Chapéu das Estações:  Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.

 

 

Um País o Coração:  Rio de Janeiro: NOVA fronteira, 1980.

Fausto, as Parcas, Joana das Vozes, Miguel Pampa e Ulisses (poemas dramáticos):  Rio de Janeiro: Editora Record, 1983.

Memórias do Porão:  Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1985.

A Idade da Aurora (rapsódia):  São Paulo: Massao-Ohno Editor, 1990.

Amar, a Mais Alta Constelação (sonetos):  Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1991.

Elza dos Pássaros ou a Ordem dos Planetas:  Paiol da Aurora, Guarapari, 1993.

Simón Vento Bolívar:  Edição bilíngue português-espanhol, tradutor Luís Oviedo. Porto Alegre: Editora AGE, 1993.

Arca da Aliança (poemas bíblicos):  Guarapari: Editora Nejarim – Paiol da Aurora, 1995.

Todas as Fontes Estão em Ti:  São Paulo: Editora Eclésia, 2000.

A Espuma do Fogo:  São Paulo: Atelier Editorial, 2002.

A Idade da Eternidade (poesias completas):  Lisboa, 2001.

A Vida de um Rio Morto (Monumento ao Rio Doce):  Rio de Janeiro: Ibis Libris Editora, 2016.

Quarenta e Nove Casidas e um Amor Desabitado:  Rio de Janeiro: ED. Bem-te-vi, 2016.

 

Fonte: Jornal do Comércio/Cristiano Bastos/Jornalista, autor de JÚPITER MAÇÃ: A EFERVESCENTE VIDA & OBRA (Plus Editora). Atualmente, prepara uma biografia sobre Nelson Gonçalves, que deve ser lançada neste ano. Em 04/08/2019.