ARTE IMPRESSA / LITERATURA
Ilustrações e imagens dos principais artistas que atuaram na Livraria do Globo na primeira metade do século XX são tema do livro A MODERNIDADE IMPRESSA: ARTISTAS ILUSTRADORES DA LIVRARIA DO GLOBO – PORTO ALEGRE (Editora UFRGS, 656 páginas). (Foi lançado em 25 de junho, no Margs). Junto ao evento, acontece a abertura da exposição homônima, na pinacoteca do museu, que pode ser visitada gratuitamente até dia 21 de agosto.
Com 1.368 imagens, o livro conta em mais de 600 páginas a história da Livraria do Globo a partir de sua produção gráfica, dando ênfase aos artistas que trabalharam na legendária Seção de Desenho sob a gerência do designer alemão Ernst Zeuner (1895 – 1967). Dentre eles, João Fahrion, Edgar Koetz, Nelson Boeira Faedrich, Sotero Cosme, João faria Viana, João Mottini, Gastão Hofstaetter, Roswitha Wingen-Bitterlich e Ernst Zeurer, responsáveis pelas capas, ilustrações, vinhetas e identidades visuais da empresa. Em cinco capítulos, A MODERNIDADE IMPRESSA relembra a trajetória da livraria desde seu surgimento em 1883, passando pela criação da Revista do Globo, em 1929, por sugestão de Getúlio Vargas, tornando-se um veículo de propaganda do presidente.
Crítica e historiadora da arte, professora e pesquisadora do Instituto de Artes da UFRGS e formada em Jornalismo, a autora do livro, Paula Ramos, conta que seu objetivo é mostrar como a Globo foi fundamental para a afirmação da história cultural do Rio Grande do Sul em relação ao campo cultural brasileiro e sua importância na compreensão do valor dado ao livro ilustrado e à literatura infanto-juvenil. “A ideia é mostrar o lado editorial, cultural e político da livraria tão desconhecidos pelas pessoas.”
Em grande formato, a publicação traz reproduções fotográficas de Fabio Del Re e Carlos Stein, projeto gráfico de Sandro Fetter e de Paula Ramos. O livro e a exposição são resultados da pesquisa de mestrado e doutorado da autora, desenvolvidos pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRGS. Segundo Paula, a curiosidade pelo tema surgiu de uma relação pessoal com o objeto e o contato com os livros da editora desde a infância.
Vencedor do edital Petrobras Cultural 2012 – Memória das Artes, o projeto teve três anos de produção e, segundo a autora, sua importância se dá ao apresentar a história do patrimônio localizado na antiga Rua da Praia. “A Livraria do Globo não era apenas uma livraria ou editora, e sim uma empresa que congregava os mais importantes e atuantes intelectuais e artistas plásticos do Estado”, afirma.
Reconhecida não apenas do Sul do País como em sua extensão e também no exterior, a livraria ganhou fama ao revolucionar o cenário editorial e a linguagem gráfica brasileira, trabalhando com questões inovadoras do design e soluções geométricas e tipográficas. Graças à empresa, foram traduzidos para o português, pela primeira vez, textos de autores como Thomas Mann e Virginia Woolf, e revelados aclamados escritores gaúchos, como Erico Verissimo, Mario Quintana, Augusto Meyer e Dyonélio Machado.
As capas dos livros e a maioria das ilustrações são oriundas do acervo pessoal da autora, que afirma ter mais de 500 exemplares em sua biblioteca. Outras peças que integram a exposição foram cedidas por coleções públicas (Margs, Pinacoteca Aldo Locatelli da prefeitura de Porto Alegre e Pinacoteca Barão de Santo Ângelo do Instituto de Artes da UFRGS) e privadas (Fundacred e coleções particulares).
Inicialmente uma modesta papelaria, a Livraria do Globo tornou-se a Editora Globo, uma das mais prósperas empresas sulinas do século XX. Entre seus grandes investimentos editoriais estão a edição da COMÉDIA HUMANA (1946 – 1955), de Honoré de Balzac, em 17 volumes, considerada um marco editorial brasileiro. Ao todo, mais de dois mil títulos fizeram da editora a segunda maior do Brasil entre as décadas de 1930 e 1940.
Fonte: Jornal do Comércio/Caderno Viver/Luiza Fritzen em 26 de junho de 2016.