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Tesla, Vida e Loucura do Gênio que Iluminou Mundo
Tesla, Vida e Loucura do Gênio que Iluminou Mundo

POR TRÁS DA GENIALIDADE DE TESLA

Livro escrito em coautoria por historiador e psiquiatra faz jus à complexa personalidade de um dos maiores inventores de todos os tempos

Livro:  TESLA, A VIDA E A LOUCURA DO GÊNIO QUE ILUMINOU O MUNDO — De Marko Perko e Stephen Stahl. Globo Livros, 464 páginas

 

Quando as palavras "gênio" e "mito" ainda não haviam sido banalizadas, havia um personagem, um inventor que, com suas invenções, ajudou a transformar o mundo.  Nikola Tesla (1856-1943) era incansável.  Não se contentava com uma invenção. Precisava descobrir sem parar.  Era um gênio inconteste, um mito incomparável.

 

Não se trata de jogar confete: Tesla era isso mesmo. A história dele e suas relações mostram o quanto foi fundamental para o nosso bem-estar, hoje, tantos anos depois de sua morte.  Devemos muito a Tesla, principalmente se você tem luz elétrica em casa.  Ele não foi exatamente o inventor da eletricidade.  Mas de que adianta a luz se ela não pode ser distribuída?  Tesla bolou a corrente alternada (CA), que permite que a luz seja levada para dentro da nossa casa.  Thomas Edison, com quem ele teve desavença, patenteou a invenção da luz, mostrada pela primeira vez na lendária Exposição Mundial, em Chicago (EUA), em 1893.  Mas é de Tesla a responsabilidade pelo que conhecemos hoje como mundo moderno.  São inúmeros inventos.  Se você usa controle remoto, também deve agradecer a ele.

 

Outro exemplo: a invenção do rádio é atribuída ao italiano Guguielmo Marconi e ao padre gaúcho Roberto Landel de Moura.  Mas, depois que Tesla morreu, a Suprema Corte norte-americana reconheceu que foi ele quem concebeu a tese que fundamentou essa forma de comunicação.  Tesla estava à frente do seu tempo inclusive nas relações humanas.  Muito antes dos movimentos feministas, quando a sociedade sequer permitia que as mulheres votassem em alguns países, o cientista pregava a favor delas.

— Por incontáveis gerações desde o princípio, a subserviência social das mulheres resultou, naturalmente, na atrofia parcial ou, pelo menos, na suspensão hereditária das qualidades mentais que hoje sabemos que a mulher possui da mesma forma que os homens — disse ele, em uma das raras entrevistas nas quais não falava apenas de ciência.

 

Os engenheiros elétricos sabem bem os feitos de Tesla para o mundo – e sabem melhor do que nós dar o devido crédito.  Atualmente, o público em geral conhece o nome talvez mais pela empresa de veículos de Elon Musk, que leva o nome do cientista.  Por que, diante de tudo o que fez, Tesla não aparece ainda mais em evidência?  Simplesmente porque tinha graves problemas mentais.  Depressão, bipolaridade e transtorno obsessivo compulsivo (TOC) são apenas alguns deles.  Também era esquizofrênico e paranoico.  Um prato cheio para a psicanálise atual.

 

Como viveu em tempos remotos, não pôde usufruir do tratamento adequado, com acesso a médicos, analistas e também medicamentos.  Mesmo assim, ele tentou lidar com o problema internamente.  É compreensível que isso o atrapalhasse e impedisse de fazer mais descobertas.  As patologias conviveram com Tesla sem, no entanto, impedir que ele se sobressaísse.

 

Uma biografia fenomenal que une essas duas pontas de sua personalidade, as pesquisas para invenções e os conflitos internos, foi escrita pelo historiador norte-americano Marko Perko em parceria com o psiquiatra Stephen Stahl.  Lançado no fim de fevereiro TESLA, A VIDA E A LOUCURA DO GÊNIO QUE ILUMINOU O MUNDO explora um lado sombrio e, até então, pouco explicado do inventor: seus embates com demônios dele próprio e como isso exerceu influência sobre sua vida.

 

Um dos maiores traumas para ele, foi o incêndio que destruiu seu escritório em Nova York.  A partir dali problemas mentais se acentuaram a ponto de levá-lo a buscar terapia radicais que atualmente já foram descartadas. Entretanto, a conclusão dos autores é de que não foi apenas a "loucura" que atrapalhou a consagração mundial de Tesla como o maior inventor de todos os tempos, mas também relações com outras pessoas.

 

Ele não gostava de Thomas Edison, por exemplo.  Não só não gostava como tinha ojeriza até mesmo ao nome. O rancor era público: Tesla fazia questão de evidenciá-lo.  Quando a prestigiosa Associação Americana de Engenheiros Eletricistas, então a nata da ciência nos EUA, decidiu conceder a Tesla sua maior honraria, a Medalha Edison, receberam em carta uma resposta ácida do gênio-mito, assim transcrita por Perko e Stahl:  "Passaram-se quase 30 anos desde que anunciei meu campo magnético rotativo e o sistema de corrente alternada perante os membros deste instituto.  Não preciso de suas honras. Outra pessoa pode acha-las úteis".

 

Tesla rechaçava honrarias, mas o que considerou uma afronta foi ser lembrado com a medalha que levava o nome de seu rival.  Esse tipo de comportamento funcionava como uma espécie de bola de ferro presa à perna de Tesla, muito bem relatada pelos autores.  Pode haver pequenas imprecisões editoriais, mas que não comprometem, de modo algum, a qualidade do livro.  A história de um dos mais geniais e míticos cientistas que conhecemos merecia esta boa biografia.

 

QUEM FOI

 

Nascido em um vilarejo do Império Austríaco (hoje área pertencente à Croácia), filho de uma família sérvia, Nikola Tesla (1856-1943) foi um inventor, engenheiro eletrotécnico e engenheiro mecânico. Estudou e trabalhou em várias cidades europeias até entrar na Continental Edison Company. Transferido para os EUA em 1884, deixou a empresa e montou laboratórios e empreendimentos próprios nos quais trabalhava criando novos dispositivos e uma série de experimentos com osciladores/geradores mecânicos, tubos de descarga elétrica e radiografia, que vendeu e patenteou até o fim de sua vida. Ele morreu em Nova York, aos 86 anos.

 

Fonte: Zero Hora/Caderno DOC/Daniel Scola [daniel.scola@rdgaucha.com.br] em 30/04/2023