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Monty Python, Uma Autobiografia
Monty Python, Uma Autobiografia

AS ORIGENS DO MONTY PYTHON POR ELES MESMOS

 

Obra entrega o que se espera dela: uma história hilária, já que vem de seus protagonistas.

 

MONTY PYTHON, UMA AUTOBIOGRAFIA – Monty Python. Organização: Bob McCabe (tradução: Stephanie Fernandes) Realejo.

 

A palavra “spam”, que designa o lixo eletrônico, foi inventada a partir de um esquete cômico. Começou com um bando de advogados insistindo em enviar a mesma mensagem a um grupo de discussão na internet. No famoso esquete dos anos 70, um casal vai a um restaurante onde a única comida disponível é Spam, marca de carne enlatada. A cena é composta por dois atores travestidos de mulher, a balconista e a cliente, e um punhado de vikings. Ao pedir comida, o casal ouve como resposta histérica apenas o que há no cardápio – a tal carne enlatada. Essa repetição exasperada inspirou o nome do lixo eletrônico. E o grupo cômico que criou e interpretou esse esquete memorável se chamava Monty Python.

 

MONTY PYTHON, UMA AUTOBIOGRAFIA, escrita por Monty Python (Realejo Livros) e organizado por Bob McCabe (traduzido por Stephanie Fernandes e apresentado por Gregorio Duvivier), entrega aquilo que se espera dele: uma história hilária, justamente por vir nas vozes dos protagonistas.

 

Os Python recuam no tempo até as origens e mostram como têm um começo de vida parecido. Dos seis membros permanentes, Graham Chapman, John Cleese e Eric Idle estudaram em Cambridge, Terry Jones e Michael Palin se conheceram em Oxford, enquanto o outro Terry, Gilliam, bem… este é americano. Esse background dos rapazes, todos nascidos no tempo da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), bem como o fato de quase todos serem britânicos, justifica o tipo de comicidade que escolheram. Eles tinham tudo para ser demolidores na base do humor negro, conforme a melhor tradição inglesa. Mais que isso, adotaram também um surrealismo acachapante, que teve em Lewis Carrol, o autor de “Alice no País das Maravilhas”, um de seus praticantes locais mais conhecidos. O resultado foi dinamite pura.

 

Todos eles passaram a juventude ao som do rádio, mas s~´o os ingleses puderam ouvir um espetáculo cômico totalmente absurdo, “The Goon Show”, de onde saiu o ator Peter Sellers. O “Goon Show” marcou uma geração, e o pessoal do Monty Python potencializou esse humor explosivo do rádio ao levá-lo para a televisão. Significou lidar com surrealismo de forma selvagem e não necessariamente engraçada à primeira vista. Pelos depoimentos fica claro que, no começo, as plateias não entendiam direito do que se tratava. John Cleese, por exemplo, confidenciou a um assustado Eric Idle, poucos minutos antes da estreia, a possibilidade de o “Monty Python’s Flyying Circus” ser a primeira comédia da história sem risadas. Por pouco não foi assim. Mas o futuro mostraria uma durabilidade de humor inacreditável. O “Monty Phyton’a Flying Circus”, que foi ao ar entre 1969 e 1974, com 45 episódios de 29 minutos e 50 segundos cada um, ainda faz sucesso, mesmo com seu mundo sem pé nem cabeça. E a BBC comprou tudo isso.

 

Porque era um absurdo anarquista sem limites, às vezes singelo como uma criança malvada, às vezes incompreensível, mas nunca entediante. Várias gerações de cômicos cresceram assistindo às gravações do grupo, aqui no Brasil inclusive, do pessoal do Asdrúbal Trouxe o Trombone ao Porta dos Fundos. Ninguém, porém, supera os ingleses, considerados os Beatles da comédia.

 

Só os nomes dos quadros já dariam um esquete sensacional: “Ninhos de Ovelhas nas Árvores”, “Ministério das Caminhadas Bobas”, “Como Irritar Pessoas”, “O Papagaio Morto”, “A Dança dos Tapas com Peixe” (um dos mais admirados), “A Canção do Lenhador”, “Competição do Resumo de Proust”. O grande lance do livro é revelar, nas vozes dos protagonistas, como funcionava a dinâmica de trabalho entre eles.

 

O americano Gilliam tem um ponto de vista íntimo sobre as reuniões do grupo: “Eu ficava maravilhado, todo mundo era tão engraçado. Às vezes, eu passava mais tempo admirando os demais do que opinando. É estranho ser americano, vir aqui e, de repente, viver cercado de ingleses incrivelmente articulados, engraçados e muito educados”. Ele, que havia trabalhado na revista “Mad”, era o responsável pelas vinhetas animadas que marcaram o estilo do grupo. Depois, tornou-se um diretor (“Brazil, o Filme”) de grande talento. Cada um deles, aliás, teve uma carreira solo importante.

 

Depois de 30 anos sem trabalhar juntos, eles se reencontraram em 2014 para um espetáculo que reunia seus melhores esquetes. Mostraram-se atuais e avassaladores. Graham, que assumira a homossexualidade com uma festa em que estava presente a própria noiva, morrera em 1839. O grupo chegou a se encontrar para um prêmio coletivo, e nessa ocasião Graham foi representado por uma urna com suas supostas cinzas. A certa altura da conversa, um acidente faz com que as cinzas sejam espalhadas pelo palco. Foi um típico esquete do Python.

 

No livro, Eric Idle conta ter recebido a carta de uma mulher contando sobre a descoberta de que um dos integrantes do grupo era homossexual e que na Bíblia estava escrito que, se um homem vive com outros, há de ser apedrejado. Ao que ele prontamente respondeu: “Descobrimos quem era, apreendemos e apedrejamos”. Graham, é sempre bom lembrar, fez o protagonista de A VIDA DE BRIAN, um dos cinco filmes que o Monty Python deixou.

 

Em 2015, outro membro, Terry Jones, foi diagnosticado com uma doença degenerativa, a afasia progressiva primária. Pode significar que o grupo nunca mais irá se reunir, mas a verdade é que o Monty Python, adorado por seus fãs, foi quem sempre riu por último.

  

ERIK O VIKING: https://www.youtube.com/watch?v=NUUdwboTk7o

 

O SENTIDO DA VIDA: https://www.youtube.com/watch?v=VGG0UHpHJFs

 

EM BUSCA DO CÁLICE SAGRADO: https://www.youtube.com/watch?v=IGC-TPhXYGQ

 

Fonte: Revista Valor / Cadão Volpato em 19/01/2018