COLEÇÃO REVÊ TRAMA DE TINTA AUTOBIOGRÁFICA DE BEAUVOIR.
MAL-ENTENDIDO EM MOSCOU é o 4º Volume da série Mulheres na Literatura, lançado em julho/2017 pela Folha de S.Paulo.
“Inspirado na relação da filósofa francesa com Sartre, livro retrata a decepção de um casal com o socialismo.”
Dona da célebre frase “não se nasce mulher, torna-se mulher”, a filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) integra a Coleção Folha Mulheres na literatura com a obra MAL-ENTENDIDO EM MOSCOU.
O quarto volume da seleção conta a história de André e Nicole, professores sexagenários aposentados que sentem o peso da idade durante visita à União Soviética nos anos 1960. O motivo da viagem é encontrar Macha, filha do primeiro casamento de André, mas acaba por desencadear uma crise conjugal e identitária no casal.
Assim como em OS MANDARINS, livro ganhador do Prêmio Concourt na França em 1954, o enredo de MAL-ENTENDIDO EM MOSCOU apresenta forte caráter autobiográfico de Beauvoir, nascido a partir das experiências da própria autora e de seu casamento como o também filósofo Jean-Paul Sartre, com quem viajou pelo território soviético na mesma época.
No livro, o desapontamento de Nicole e André perante os fatos da vida não surge apenas como decorrência do envelhecimento do indivíduo e sua conotação negativa na sociedade contemporânea.
A narrativa também reflete as frustrações políticas de ambos diante dos ideais socialistas, nos quais acreditavam e depositavam expectativas desde jovens. Mas viram pessoalmente que as expectativas não se cumpriram ao longo do tempo e ainda estavam longe de acontecer.
LEITORES
Apesar de refletir sobre a condição de ser mulher no mundo, o romance não se limita apenas às leitoras. “As obras de valor literário partem da condição individual e refletem todo o conjunto da experiência humana”, afirma o crítico literário Manuel da Costa Pinto, colunista da Folha e curador da coleção.
Escrito entre 1966 e 1967, MAL-ENTENDIDO EM MOSCOU deveria ter integrado uma coletânea intitulada A MULHER DESTRUÍDA, de 1968, mas Simone de Beauvoir optou no fim por não publicá-lo.
Atribui-se a desistência justamente à conotação extremamente pessoal da narrativa, tanto no que concerne o relacionamento entre Beauvoir e Sartre quanto na visão dos dois sobre o socialismo. O lançamento aconteceu somente seis anos depois da morte da filósofa e ícone feminista, em 1992, na revista francesa “Roman 20-50”.
Fonte: Folha de S.Paulo/Amanda Luz/Colaboração em 27/08/2017