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Sobre o Amor: de Charles Bukowski
Sobre o Amor: de Charles Bukowski

BUKOWSKI, O VELHO SAFADO, E O AMOR

 

Bem no clima do Dia dos Namorados, a L&PM Editores lançou, há poucos dias, a coletânea SOBRE O AMOR, do escritor Charles Bukowski, nascido na Alemanha em 1940, mas criado em Los Angeles. A compilação é de Abel Debritto, biógrafo de Bukowski e que já editou outras coletâneas temáticas do “velho safado”: SOBRE GATOS e ESCREVER PARA NÃO ENLOUQUECER. SOBRE O AMOR tem 224 páginas e foi muito bem traduzido pelo jornalista, tradutor e escritor gaúcho Rodrigo Breunig.

 

Bukowski faleceu em 1994 e publicou mais 45 livros de prosa e verso. A L&PM já publicou 23 obras dele, entre as quais CARTAS NA RUA; CRÔNICA DE UM AMOR LOUCO; MULHERES E PEDAÇOS DE UM CADERNO MANCHADO DE VINHO. Honesto, reflexivo, alternando-se entre a dureza e a sensibilidade, Bukowski, o velho nem tão safado, nesses versos fala de várias formas de amor e relaciona o tema com as filhas, as muitas mulheres, as amantes que teve, o trabalho e os amigos.

 

Está tudo bem embolado: o amor, a luxúria, a paixão, o desejo, o egoismo, o narcisismo, o misterioso, o aleatório, o misterioso, a glória e a miséria deste sentimento frágil e eterno. Não ficaram de fora da obra o alto poder redentor do amor, as confusões e o lado bem-humorado do amor. Feroz, vulnerável, lírico e irônico, Bukowski mostra que muitas vezes o amor, especialmente o paterno, fulminou seu coração aparentemente empedernido.

 

Alguns versos do poeta: “O amor não passa de um farol a ceso à noite cortando à névoa / O amor não passa de uma tampinha de cerveja na qual você pisa a caminho do banheiro / o amor é a chave perdida da sua porta quando você está bêbado”; e “Gosto de vpcê, querida, eu te amo / a única razão por que trepei com L. é porque você trepou com Z, e aí eu trepei com R. e porque você trepou com N. eu preciso trepar com Y”. Outro poema: “filha/certo ou errado/eu te amo, sim/ é só que às vezes eu ajo como se/ você não estivesse presente/mas houve brigas com mulheres/ bilhetes deixados em cômodas / trabalhos em fábricas / pneus furados em Compton às 3 da manhã/ todas essas coisas que impedem as pessoas de conhecer umas às outras e pior do que isso/ obrigado pelas flores.”

 

SOBRE O AMOR é um livro peculiar, muito pessoal, sobre um dos temas mais antigos e humanos. Entre a sarjeta e a lua, entre o doce amor paternal e em meio à brutalidade e à beleza dos amores adultos, Bukowski parece dizer que, ao fim e ao cabo, o amor é o que interessa. Mesmo e principalmente quando pareça não interessar mais ou quando só um futuro amor interessar.

 

Fonte: Jornal do Comércio/Jaime Cimenti (jcimenti@terra.com.br) em 09/06/2017