A LITERATURA ISRAELENSE PERTO DO PÚBLICO
RINDO DO TRÁGICO – O HUMOR NA LITERATURA ISRAELENSE CONTEMPORÂNEA (Artes e Ofícios, 184 páginas), da professora Leniza Kautz Menda, é uma bela oportunidade para o leitor se aproximar da literatura israelense da atualidade. A obra multifacetada traz textos de grandes autores como Sami Michael, Amós Oz e Shifra Horn, junto de comentários espirituosos e interessantes da autora.
Leniza é amante da boa literatura, tem mestrado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é professora do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, tradutora e intérprete da língua inglesa.
No livro, são apresentadas e dissecadas obras que revelam a autoironia de Sayed Kashua, o “humor negro” de Yoram Kaniuk e a profunda comicidade de Amós Oz, profundamente humana, que lança luzes sobre temas tão espinhosos quanto o conflito árabe-israelense. O humor cáustico de David Grossman e o humor delicado e saudosista de Meir Shalev figuram na obra.
Sempre se diz que rir é o melhor remédio, que é preciso brincar de ser sério e levar a sério a brincadeira e que o humor é veículo de lucidez, inteligência e vida. O povo judeu, o “Povo do Livro” sempre soube disso. O humor judaico funciona como instrumento de construção, reconstrução e legitimação de uma herança cultural milenar de todos nós. Na obra estão apontados trabalhos que criticam as instituições sociais, os grupos minoritários, a sociedade capitalista e seu desejo gigante de lucro e ascensão social. São apresentados textos que escancaram os dilemas do homem contemporâneo oriental ou ocidental. Não são textos de humor de riso fácil, de leveza inconsequente. É humor contido, irônico, tragicômico, ácido. Humor israelense literário contemporâneo.
Na apresentação, o psicanalista e escritor Abrão Slavutzki diz: “a leitura do livro é um convite a um passeio pelos escritores israelis. A literatura, como toda arte, expressa a alma dos povos. Logo esse livro também revela muitas facetas do Povo de Israel. O livro de Leniza Kautz Menda é o primeiro do Brasil a estudar a importância do humor na jovem literatura israeli”.
No final, registra Leniza: “o livro traz à tona o judaísmo dos shetetls judaicos com seus tipos característicos, embora assuma uma nova dimensão em Israel. É um humor que ultrapassa as fronteiras do regional ao abordar temas universais, entre os quais os grandes dilemas que afligem a humanidade: a vida e a morte. É um humor que, através do jogo de linguagem, manifesta o caráter satírico e tragicômico da realidade israelense contemporânea”.
Deve ser saudado o livro de Leniza pelo pioneirismo, pela importância do tema, pela profundidade e extensão da pesquisa e, principalmente, pelo toque de cultura e espirituosidade da autora em seus comentários. É isso, o humor judaico é como o Inter, é campeão de tudo, mesmo em tempos de vagas amargas.
Fonte: Jornal do Comércio/Jaime Cimenti (jcimenti@terra.com.br em 04/09/2016.