CRIAR NÃO É MAGIA, É TRABALHO
A HISTÓRIA SECRETA DA CRIATIVIDADE (Sextante, 288 páginas, tradução de Alves Calado), de Kevin Ashton, pesquisador britânico do Massachusetts Institute of Technology (MIT), é uma obra que mostra, acima de tudo, que não existem truques, atalhos ou esquemas para ficar criativo rapidamente e que a criatividade é mais o resultado de pequenos passos do que de saltos extraordinários.
Ashton começou sua carreira na gigante Procter & Gamble, onde comandou um trabalho pioneiro sobre identificação de produtos por radiofrequência. Ele criou a expressão “interior das coisas”, é cofundador do Auto ID-Center do MIT e criador de três startups de sucesso. Seus textos sobre inovação e tecnologia foram publicados em veículos como The New York Times, The Atlantic, Quartz e Medium.Com.
O autor confronta os mais conhecidos e nocivos clichês sobre criatividade e, para embasar sua argumentação, se debruça sobre a história e a ciência social para desmascarar os mitos por trás da criação do iPhone, da descoberta de um tipo de tratamento para câncer e do humor presente nos filmes de Woody Allen. Ele nos mostra que ser gênio exige muito trabalho, mas que todos somos criativos e que a faísca da criação pode acender-se em qualquer pessoa.
O mito; criar é algo comum; pensar é igual a andar; espere a adversidade; como enxergamos; dê o crédito; consequências em cadeia; combustível para sua vida; crie organizações e adeus, gênio, são os títulos dos capítulos da obra, que, acima de tudo, revela que o inventor da lâmpada, Thomas Edison, estava coberto de razão quando disse: a genialidade é composta por 10 por cento de inspiração e noventa por cento de transpiração.
O genial Albert Einstein, por sua vez, disse algo que cai bem para nosso Brasil: em tempos de crise, a criatividade é mais importante do que o conhecimento. É isso, o livro vem em boa hora para nós, imersos nessas crises política, ética e econômica de proporções amazônicas.
Não há momento de magia, existe trabalho, perseverança, acerto, erro, acerto, erro, dúvida, ridículo e rejeição até que se consiga realizar algo novo e útil. O livro traz histórias reais e inspiradoras, como a do menino de 12 anos que fez a produção mundial de baunilha crescer no século XIX; da mulher que fez as primeiras descobertas sobre o DNA e dos irmãos Wright dominando a arte de voar.
De Arquimedes à Apple, dos Muppets à latinha de Coca-Cola, a obra mostra como o processo criativo é lento, espinhoso, complexo e repleto de falhas, frustrações, recomeços e que não conta muito com a ajuda da sorte.
Fonte: Jornal do Comércio/Jaime Cimenti (jcimenti@terra.com.br) em 18/09/2016.