NOBEL POR DAR VOZ AO SOFRIMENTO.
Bielorussa SVETLANA ALEXIEVICH foi eleita Nobel de Literatura 2015.
A Academia Sueca elegeu a bielorussa Svetlana Alexievich, 67 anos, como Nobel de Literatura 2015. A jornalista era apontada como a favorita nas casas de apostas para suceder o francês Patrick Modiano, vencedor do ano passado.
Na cerimônia de divulgação do premiado, a professora e crítica literária Sara Danius justificou a escolha de Svetlana pela força da “obra polifônica da autora, que é um monumento ao sofrimento e à coragem do nosso tempo”. Em entrevista coletiva, Sara também chamou a atenção para o trabalho de pesquisa da autora na criação de seus livros, entrevistando centenas de homens, mulheres e crianças.
- Ela inaugura um novo gênero literário, entre o jornalismo e a ficção – apontou a crítica.
De acordo com a Academia, “por meio de seu método extraordinário – uma colagem de vozes humanas cuidadosamente composta – Alexievich aprofunda nossa compreensão de uma era inteira”.
Svetlana Alexievich nasceu em maio de 1948 na cidade ucraniana de Ivano-Frankivski, filha de um bielorrusso e uma ucraniana. A família mudou-se para a Bielorrússia quando ela ainda era criança, e lá trabalhou como professora e jornalista enquanto estudava na Universidade de Minsk, entre 1967 e 1972.
Oposicionista ao regime soviético, Svetlana começou a carreira como jornalista formada em um jornal de Brest, cidade próxima à fronteira com a Polônia. Mas foi no retorno à capital Minsk que começou a carreira como escritora, lançando, em 1985, o livro-reportagem War’s Unwomanly Face (“A face não feminina da guerra”, sem tradução para o português), baseado em entrevistas com centenas de mulheres que viveram a II Guerra Mundial. O trabalho viria a ser o primeiro da série Vozes da Utopia, em que a vida na União Soviética é retratada da perspectiva dos indivíduos.
Recentemente, ela afirmou em entrevistas que tem muito respeito pelos ucranianos que, com seus protestos, expulsaram do poder o ex-presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich em 2014. “Penso que o império ainda não desapareceu. E, pessoalmente, tenho a inquietante impressão de que n ão desaparecerá sem derramamento de sangue”, disse a autora.
Apesar de ter sido traduzida para 22 línguas, a escritora até agora era ignorada pelo mercado editor brasileiro. O único livro da autora traduzido para o português é Second-hand Time: The Demise of the Red (Wo) Man, de 2013, que saiu apenas em Portugal, sob o título O Fim do Homem Soviético. Seu título mais conhecido é Voices from Chernobyl – Chronicle of the Future, escrito em 1997. Entre outros livros, ela também assina Zinky Boys – Soviet Voices from a Forgotten War, sobre a guerra soviética no Afeganistão.
Svetlana é a 14ª mulher a receber a honraria, que concede 8 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 3,7 milhões) aos vencedores. O prêmio já foi de 10 milhões de coroas suecas (4,7 milhões), mas a Academia reduziu o montante em 2012.
OS VENCEDORES DO PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA DESDE 2000.
2014: PATRICK MODIANO – O escritor francês é conhecido por livros que abordam pela ficção as consequências da II Guerra Mundial, como Remissão da Pena e Flores da Ruína.
2013: ALICE MUNRO – A contista canadense constrói narrativas com densas personagens femininas. Tem diferentes títulos publicados no Brasil pela Biblioteca Azul e pela Cia das Letras.
2012: MO YAN – Os livros do escritor chinês fundem realidade, contos populares e ficção fantástica. Neste mês, seu romance As Rãs foi lançado no Brasil.
2011: TOMAS TRANSTRÖMER – O poeta sueco, que morreu em março, tem sua obra traduzida para mais de 50 países, mas ainda não chegou ao mercado editorial do país.
2010: MARIO VARGAS LLOSA – Jornalista e escritor peruano, tem mais de 40 títulos publicados, entre ficção e ensaio. Destacam-se romances como A Guerra do Fim do Mundo.
2009: HERTA MÜLLER – Escritora alemã conhecida pelos relatos sobre a Romênia comunista de Nicolae Ceausescu, como A Raposa Já Era o Caçador.
2008: JEAN-MARIE GUSTAVE CLÉZIO – O autor franco-mauriciano tem mais de 40 obras publicadas, entre contos, romances e ensaios. Um dos destaques é Refrão da Fome, romance que aborda a Europa sob o nazismo.
2007: DORIS LESSING – Considerada pela Academia Sueca como uma “contadora épica da experiência feminina”, a escritora britânica morreu em 2013, e tem vários títulos publicados no Brasil.
2006: ORHAM PAMUK – Romancista turco, tem best-sellers internacionais como os romances Neve e O Livro Negro, nos quais aborda questões sociais e religiosas.
2005: HAROLD PINTER – Morto em 2008, o britânico tem importantes obras na dramaturgia e na prosa. É autor de A Volta ao Lar, peça dirigida no Brasil por Fernando Torres.
2004: ELFRIEDE JELINEK – A austríaca aborda temas contemporâneos como a violência na sociedade de consumo. No Brasil, publicou A Pianista e Desejo.
2003: J.M.COETZEE – Natural da África do Sul, publicou mais de 20 livros, muitos deles lançados no Brasil. As obras tratam de temas como violência, censura, opressão e exílio.
2002: IMRE KERTÉSZ – Autor de romances como Sem Destino e Liquidação, o escritor húngaro é conhecido por abordar a violência da II Guerra, da qual ele mesmo foi vítima.
2001: V.S. NAIPAUL – Nascido em Trinidad e Tobago, trabalhou na Inglaterra como jornalista. Tem vários livros publicados no país, abordando desde sua infância até temas contemporâneos.
2000: GAO XINGJIAN – O escritor chinês trabalha a realidade de seu país em romances e peças de teatro. No Brasil, publicou A Montanha da Alma, que está esgotado.
Fonte: ZeroHora/Segundo Caderno em 09/10/2015