VARGAS LLOSA, UM LIBERAL
ESCRITOR PERUANO VENCEDOR DO NOBEL VOLTA (VOLTOU) A PORTO ALEGRE PARA FAZER PALESTRA HOJE (EM 11 DE MAIO) NO FRONTEIRAS DO PENSAMENTO.
A CONFERÊNCIA DE HOJE: Quem for hoje ao Salão de Atos da UFRGS para acompanhar a conferência de Mario Vargas Llosa pode ter uma surpresa. O escritor peruano, que em princípio retomaria sua palestra de 2010, sobre um processo que chamava de “banalização da cultura”, poderá oferecer aos presentes uma revisão de seu passado político e uma aula de liberalismo.
Foi o que ocorreu nesta segunda-feira, em São Paulo, quando também falou na programação do Fronteiras. Em seu discurso, o autor destacou que já foi militante comunista e que se manteve apoiador da esquerda durante algum tempo, até sua decepção completa com o socialismo.
Na palestra, ele afirmou que o liberalismo seria a única corrente ideológica capaz de “permitir a coexistência de pessoas, religiões e comportamentos diferentes e de construir economias mais prósperas”.
Questionado sobre a situação política brasileira, o intelectual se posicionou: “O que está ocorrendo é que há um movimento popular que quer purificar a democracia, livrá-la da corrupção, e creio que isso é muito saudável”.
Uma celebridade que defende a manutenção de cânones e hierarquias na literatura e nas artes. Um intelectual octogenário que reconhece o liberalismo econômico como chave para o avanço da democracia. As duas frases são formas de definir o escritor Mario Vargas Llosa em diferentes momentos: a primeira em 2010, quando chegou a Porto Alegre uma semana depois de ganhar o Nobel de Literatura; a segunda hoje, quando sobe novamente ao palco do Fronteiras do Pensamento para mais uma conferência.
Apesar da diferença das definições, Vargas Llosa não mudou tanto em seis anos. O que se alterou mesmo foi o modo como o debate público se serve das suas ideias. Em 2010, a ascensão da classe C e a cultura de compartilhamento da internet impunham desafios às discussões culturais, fazendo emergir no processo manifestações antes marginais, como o funk e o grafite.
- Naquele momento, Vargas Llosa entrou para falar sobre o que ele diagnosticava ser uma crise da cultura. Era algo polêmico, diante da ascensão da cultura popular que vivíamos – lembra o diretor de cinema Vicente Moreno, que à época entrevistou o escritor para o documentário HORIZONTE FLUTUANTE (2011). – Mas o que ele fez foi alertar para não perdermos por completo as hierarquias dentro do pensamento e da cultura, fazendo-se necessário valorizar os professores, os orientadores, aqueles que ajudam a separar o joio do trigo.
Tal discurso não foi abandonado por Vargas Llosa, que deve retomar o tema na palestra de hoje. Em recente entrevista a ZH, o peruano reafirmou que a “expansão para o entretenimento” faz a cultura perder uma “função crítica muito importante”.
SEIS ANOS ATRÁS, ELOGIOS A LULA
Vargas Llosa, que completou 90 anos no último 28 de março, também deixou expressa sua defesa ao liberalismo econômico em 2010. Na época, cercado por jornalistas de todo o mundo, que ansiavam por ver o intelectual que acabara de ser agraciado com o Nobel, elogiou Lula por sua postura democrática. Já em recente entrevista, comentou que a corrupção do atual governo teve origem na gestão do ex-presidente.
Hoje, com Dilma diante de um processo de impeachment e um debate público cada vez mais polarizado, o ideário liberal do escritor tem chamado cada vez mais as atenções da imprensa e do público. Nesta segunda-feira, quando participou do Fronteiras em São Paulo, ele próprio também ressaltou o liberalismo em sua fala. “É a corrente ideológica mais civilizada”, afirmou.
O MOMENTO VIVIDO POR VARGAS LLOSA – HOJE E EM 2010, EM SUA PRIMEIRA VINDA AO FRONTEIRAS DO PENSAMENTO
2010
Comemorando o Nobel: A conferência de Vargas Llosa em Porto Alegre em 2010 era sua primeira aparição pública depois de ganhar o Nobel de Literatura. “Quando recebi a primeira ligação, pensei que fosse trote”, brincou o escritor.
Cultura em Foco: Um processo que chamava de “banalização” da cultura era o foco do autor peruano. Em suas conferências e entrevistas, destacou o peso da literatura e das artes na formação humanística.
Elogios a Lula: Nas entrevistas de 2010, Vargas Llosa elogiou Lula por seus esforços em manter a democracia no Brasil. O escritor rechaçou comparação do petista com lideranças latinas de esquerda mais radical, como Hugo Chávez.
2016
Comemorando os 80: Este ano marca os festejos de oito décadas de vida de Vargas Llosa, completadas em 28 de março. Entre as comemorações, lançou o romance CINCO ESQUINAS, ainda inédito em português.
Mais liberalismo: O escritor não deixou de lado o debate cultural, mas seus discursos têm sido cada vez mais destacados pela defesa do liberalismo. Para ele, o avanço da democracia depende da liberdade econômica.
Crítica a Lula: Seis anos depois de elogiar Lula, Vargas Llosa afirma que o Brasil precisa passar por uma autocrítica. “O regime de Dilma Rousseff herdou uma corrupção que nasce com Lula”, afirmou em recente entrevista.
Fonte: ZeroHora/Segundo caderno/Alexandre Lucchese (alexandre.lucchese@zerohora.com.br) em 11 de maio de 2016.