ARTE SOVIÉTICA
VERMELHOS DE TODOS OS MATIZES
Uma mesa na Feira hoje (aconteceu em 03/11) vai abordar os grandes nomes da literatura russa no século 20. Com o título LITERATURA SOVIETICA PRA BRASILEIRO LER… CADÊ?, o evento contará com a professora Denise Regina de Sale, das áreas de língua e literatura russas do Instituto de Letras da UFRGS, e com a aluna de graduação Nathalie de Souza Kappke.
O momento é oportuno, pois em 2017 são lembrados os cem anos da Revolução Russa. Na mesa, as estudiosas abordarão tanto os autores que seguiram a cartilha do realismo socialista quanto aqueles que se tornaram dissidentes do regime, pagando um preço caro por isso. A ideia é mostrar aos participantes, em linguagem acessível, a diversidade da bibliografia disponível em livrarias e sebos no Brasil, valorizando o trabalho dos tradutores – a própria Denise verteu do russo Varlam Chalámov, Nikolai Leskov, Anton Tchékhov e Mikhail Zóschenko.
Um dos aspectos para o qual a professora chama atenção é a variedade de acepções da expressão “literatura soviética”. Em um dos sentidos, o termos se refere às obras publicadas na União das repúblicas Socialistas Soviéticas (USSS) – ou fora dela, no caso de títulos censurados – de 1922 a 1991, período de existência oficial do bloco.
- Outro conceito de literatura soviética amplia essa ideia para tudo que está relacionado a “soviete”, ou seja, o que é decidido em conselhos, coletivamente, e que terá por extensão o significado de comunista. Assim, contemplamos o romance fundador do realismo soviético: A MÃE, de Górki, que é de 1906. Estritamente falando, ainda não era um período soviético, mas essas ideias já estavam presentes no livro – explica Denise, que prefere definir a literatura soviética inserindo todas as repúblicas que integraram o bloco.
É no Congresso da União dos Escritores Soviéticos de 1934 que o realismo socialista é aprovado como dogma artístico oficial do regime e o único aceitável, ou seja, uma literatura que sublinhasse a ideologia do Partido Comunista. Entre seus representantes estão autores coo Marietta Chaguinian. Por outro lado, nomes como Aleksandr Soljenítsin e Chalámov registraram os horrores dos campos de prisioneiros, respectivamente, em O ARQUIPÉLAGO GULAG e CONTOS DE KOLIMÁ, esta em seis volumes publicados no Brasil desde 2015.
Escritores que ganharam o prêmio Nobel, como Soljenítsin, também são abordados no evento na Feira do Livro – entre eles, Ivan Búnin, Bóris Pasternak (autor de DOUTOR JIVAGO, que inspirou o filme) e Mikhail Sholokhov. Para Denise, pode-se acrescentar à lista Svetlana Aleksiévitch, que recebeu a distinção em 2015:
- Ela nasceu na Ucrânia na época em que fazia parte da URSS e fez sua formação na Bielorrússia, hoje o país mais alinhado à Rússia entre as ex-repúblicas. As manchetes no Brasil sobre seu Nobel foram calcadas no fato de ser uma mulher, mas na Rússia se valorizou o fato de escrever em russo.
Fonte: ZeroHora/Fábio Prikladnicki (fabio.pri@zerohora.com.br) em 03/11/2017.