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Os Anarquistas: Direção de Élie Wajeman
Os Anarquistas: Direção de Élie Wajeman

OS DILEMAS ÉTICOS DE UM INFILTRADO

 

OS ANARQUISTAS – De Élie Wajeman – Drama, França, 2016, 101 minutos

 

Os atores Tahar Rahim (O Profeta) e Adèle Exarchopoulos (Azul é a Cor Mais Quente) são duas das maiores revelações do cinema francês dos últimos anos.  Eles estão juntos em OS ANARQUISTAS, filme que abriu a Semana da Crítica do Festival de Cannes de 2015 e estreia hoje no Guion Center, em Porto Alegre.

 

Quem os uniu foi o diretor Élie Wajeman, que tem 35 anos e chega aqui ao segundo longa (o primeiro foi Aliyah).  Apaixonado por thrillers com personagens infiltrados (é um entre os muitos cineastas da escola francesa a venerar o gênero suspense), ele criou, junto à roteirista Gaëlle Macé, uma história sobre um grupo de anarquistas na Paris de 1899 – a partir do ponto de vista de um policial que se infiltra entre eles.

 

Rahim é o protagonista, jovem perdido que vislumbra na carreira de agente da lei uma esperança de futuro.  Agarrá-la representa aceitar a proposta do inspetor-chefe (Cédric Kahn) para trabalhar em meio aos ativistas.  Inicialmente, não parece haver problema:  mesmo que tenha boa cultura, ele sequer conhece os princípios anarquistas.  Só que acaba se envolvendo política e emocionalmente com o grupo, em especial com a namorada de seu líder (papel de Adèle).

 

É tudo previsível, mas as expressões dúbias de Rahim impõem nuances ao conflito ético-sentimental do personagem.  Wajeman se revela um ótimo diretor de atores (Swann Arlaud e Guillaume Gouix são destaques no homogêneo time de rebeldes), e a reconstituição de época que promove, com orçamento curto (predominam os planos fechados em ambientes internos), é igualmente muito boa.  A fotografia de David Chizallet, os figurinos de Anaïs Roand e a direção de arte de Christelle Maisonneuve são impecáveis.

 

Há tensão sob as aparências, e o espectador é cúmplice do protagonista: ao contrário de todo o grupo, sabe que ele se esconde algo que, vindo à tona, terá o impacto de uma bomba.  Alguns episódios, sobre os quais convêm não falar aqui, vão fortalecer essa ideia de que a iminente explosão fará um estrago enorme.

 

O que dá consistência ao filme, mais do que tudo isso, é a contraditória sensação de plenitude do policial infiltrado, sujeito até então vítima de um vazio existencial que, no entanto, por dever de ofício, precisa trair quem transformou sua vida.  Você já viu isso antes, talvez em outro contexto, mas certamente sem Tahar Rahim e Adèle Exarchopoulos – o que já é, por si só, motivo para dar uma chance a OS ANARQUISTAS.

 

TRAILER:  https://www.youtube.com/watch?v=9hEcB-z94Ek

 

 

Fonte:  ZeroHora/Segundo caderno/Daniel Feix (daniel.feix@zerohora.com.br) em 20 de maio de 2016.