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O Formidável: de Michel Hazanavicius
O Formidável: de Michel Hazanavicius

O FORMIDÁVEL, DE MICHEL HAZANAVICIUS

 

ATÉ YOUTUBERS IMITAM GODARD, DIZ CINEASTA

 

Michel Hazanavicius, diretor de O FORMIDÁVEL, fala sobre filme que tem como personagem o realizador francês.

 

Desde que o ator Louis Garrel despontou (em 2003, com OS SONHADORES), o cinema francês o namora como uma espécie de filho temporão da nouvelle vague. Até que alguém teve a ideia de botá-lo justamente no papel de um dos artífices do movimento, o cineasta Jean-Luc Godard. O tal alguém foi Michel Hazanavicius, vencedor do Oscar por O ARTISTA (2011), que o escalou para O FORMIDÁVEL, filme que perpassa a vida de Godard no ultraturbulento anos de 1968, em cartaz nos cinemas.

 

A escolha de Garrel, 34 anos, pode até ter feito sentido, mas Godard não quis nem saber de um filme sobre sua vida. “Que ideia estúpida, estúpida!”, teria dito o franco-suíço. No Brasil, onde veio exibir seu filme no Festival do Rio, Hazanavicius relativiza a frase:

- Talvez ele estivesse certo, e do ponto de vista comercial o filme seja mesmo uma ideia estúpida.

 

O FORMIDÁVEL parte do livro de memorias escrito pela atriz Anne Wiazemsky (1947-2017), então namorada do diretor. No filme, ela é vivida por Stacy Martin (NINFOMANÍACA), na época a musa godardiana de A CHINESA (1967). Enquanto Anne ensaia sair da sombra tirânica do diretor-namorado, Godard se vê confrontado pelos jovens que foram às ruas em 1968 e para quem o cineasta, outrora gênio revolucionário, soa cada vez mais antiquado, como os pais que essa geração repele. Alguns momentos chave são mostrados, como quando ele e os colegas Truffaut, Leleouch, Malle e Polanski capitanearam o cancelamento do Festival de Cannes em 1968.

 

Em sua sanha por se manter relevante, Godard é retratado no filme como autodestrutivo, “antagonista de si mesmo”, como define Hazanavicius:

- Ele pode ser um cuzão muitas vezes, mas a empatia vem de ser algoz e vítima de si ao mesmo tempo.

 

O diretor reveste seu Godard/Garrel de ares cômicos, que ficam mai com car de saídos de filme de Woody Allen do que da nouvelle vague propriamente.

- Achei o livro de Anne Wiazemsky hilário. Só a convenci a permitir a adaptação quando falei que o transformaria em comédia.

 

Hazanavicius também faz pastiche com as marcas estilisticas do cineasta. Bota Godard e Martin nus para discutir o porquê da obsessão que se tem por filmar atores pelados fazendo coisas triviais.

- Uma das coisa que me encantaram no projeto era poder homenagear o estilo dele – diz Michel Hazanavicius, para quem poucos diretores “podem ser definidos como revolucionáiros como Godard”.

- Existe um antes e um depois dele. Sua herança está em todos os diretores, mesmo em quem não sabe.

 

O diretor cita uma das heranças godardianas: o “jump cut”, o picote dentro de um mesmo plano, que cria a impressão de que houve um salto no tempo no filme.

- Até os youtubers imitam Godard, usam os mesmos truques – afirma Hazanavicius.

 

Não se sabe se o octagenário e arredio Godard já viu O FORMIDÁVEL. Também não se sabe se ele vê youtubers

 

 

Fonte: ZeroHora/Guilherme Genestreti/Folhapress em 30/10/2017.