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Assassinato no Expresso Oriente:de Kenneth Branagh
Assassinato no Expresso Oriente:de Kenneth Branagh

SUSPENSE SOB TRILHOS

 

Filho de um encanador e uma artesã de Belfast, Kenneth Branagh lembra quando juntou dinheiro de bicos feitos quando criança em Reading, interior da Inglaterra, para poder comprar livros. “Voltei para casa, e meu pai perguntou por que havia feito aquilo. Éramos de classe trabalhadora, e ele não entendia a razão de comprar um livro que podíamos pegar de graça na biblioteca. Eu achei a coisa mais empolgante que tinha acontecido na minha vida”, afirma o ator, diretor e roteirista.

 

Já adulto, Branagh torou-se uma das maiores referências em adaptações de William Shakespeare, tendo filmado cinco livros do bard

 

o inglês – dois deles, HENRIQUE 5º (1989) e HAMLET (1996), com indicações ao Oscar. Agora, aos 56 anos, ele assume a missão de levar outro nome famoso pra o cinema: a rainha do suspense, Agatha Christie (1890-1976).

 

ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE, publicado em 1934, é o oitavo livro de Agatha protagonizado pelo “maior detetive do mundo”, o belga Hercule Poirot, famoso tanto pela cabeça arredondada e um extenso bigode quanto pelo poder de dedução. O personagem já passou por várias versões no cinema e na TV, mas o plano de Branagh – na direção e no papel de Poirot – com os estúdios Fox é mais ambicioso.

 

A ideia é começar uma franquia cinematográfica de suspense e surfar na onda do sucesso atual das séries policiais. A adaptação seria o primeiro passo para atualizar Agatha para a nova geração. “Agatha Christie tem entrado e saído de moda ao longo dos anos. Mas isso é perfeitamente normal para uma escritora de 107 livros. O importante é se manter autêntico durante todo o processo”, afirma o diretor, que não atualizou o texto para os tempos atuais.

 

O que não significa ausência de mudanças em relação ao original. ASSASSINATO NO EXPRESSO DO ORIENTE não começa mais em Aleppo (Síria),mas em Jerusalém, onde Poirot resolve um mistério na Basílica do Santo Sepulcro.

 

Branagh conta que uma das razões de ter sido atraído para o texto de Agatha – quando tinha 15 anos e sua mãe colecionava livros policiais – foi “a descrição de Aleppo na primeira página”, mas filmar numa zona de guerra não era opção. “A cidade agora está nos noticiários por razões terríveis”, lembra.

 

O Hercule Poirot também sofreu algumas alterações para diferenciar dos personagens vividos por Albert Finney, no filme de 1974, ou por David Suchet na longeva série de TV (1989 a 2013). “Queria mostrar que meu Poirot tem o potencial de ser abalado”, conta Branagh.

 

“O dom da compreensão pode deixar a vida insuportável, e meu detetive descobre que existe uma grande área cinza entre o certo e o errado. Tentei encontrar esse equilíbrio mais humano”, explica.

 

O filme continua sendo um suspense a bordo de um trem na década de 1930. Poirot (Branagh) embarca de última hora e recebe uma proposta de um estranho executivo (Johnny Deep), que pede proteção em troca de dinheiro. O detetive recusa, e o sujeito aparece morto na cabine durante a noite.

 

Entre os suspeitos, personagens vividos por um elenco estelar: Michelle Pfeiffer, Daisy Ridley, Judi Dench, Josh Gad, Penélope Cruz e Willem Dafoe. “Adoro filmes como INFERNO NA TORRE, que são eventos com grandes nomes”, afirma o diretor.

 

Para encaixar astros com agendas complicadíssimas, Branagh planejou meticulosamente as filmagens em Londres, capturando o elenco de maneira separada ao longo de dois meses e reunindo todos apenas por 10 dias.

 

A estratégia deu certo. O longa custou US$ 55 milhões e está beirando a marca dos US$ 200 milhões no mundo. A Fox já confirmou Morte no Nilo como a sequência (ainda sem data), e Branagh deve retornar como diretor e ator.

 

“Nunca presumo que terei um filme seguinte para fazer”, conta o shakesperiano, novo dono da obra de Agatha Christie nos cinemas. “São meus dois amores. Agatha me fez sentir que Shakespeare poderia ser popular quando bem-feito. Esse é meu presente em troca.”

 

TRAILER:  https://www.youtube.com/watch?v=1LqXLJEq4sw

  

Fonte: Jornal do Comércio/Caderno Viver em 03/12/2017