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Filosofias da Afirmação e da Negação: Mário F.S.
Filosofias da Afirmação e da Negação: Mário F.S.

FILOSOFIAS DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO, DE MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS

 

Diálogo e ética da conversação.

 

Por Jaime Cimenti

jcimenti@terra.com.br

 

FILOSOFIA DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO (É Realizações, 320 páginas), do escritor e pensador Mário Ferreira dos Santos (1907=1968), em síntese, abordando temas como o ceticismo, o relativismo, a verdade, a coragem, Deus, matéria, criação, Platão, Kant e Pitágoras, apresenta um panorama completo da obra do filósofo nascido em Tietê, Estado de São Paulo, e que passou a infância e a adolescência na gaúcha Pelotas.

 

Licenciou-se em Direito e Ciências Sociais pela UFRGS, mudou-se para São Paulo, onde fundou duas editoras. Publicou a conhecida ENCICLOPÉDIA DE CIÊNCIAS FILOSÓFICAS E SOCIAIS, com 45 volumes e vários outros livros, como FILOSOFIA CONCRETA E MÉTODOS LÓGICOS E DIALÉTICOS.

 

FILOSOFIA DA AFIRMAÇÃO E DA NEGAÇÃO apresenta, em forma de diálogos fictícios, uma ética da conversação, que faz muita falta em nossos dias belicosos. Escreve o autor: “Creio no diálogo, quando bem conduzido, e sob regras rigorosas. O homem de hoje não sabe mais conversar. Ele disputa apenas. É um combate em que os golpes mais diversos e inesperados surgem. Mas num diálogo, conduzido em ordem, tal não acontece. Deixa de ser um combate para ser uma comparação de ideias. Um sentido culto domina aí. Não é mais o bárbaro lutador, mas o homem culto que se enfrenta com outro, amantes ambos da verdade, em busca de algo que permita compreender melhor as coisas do mundo e de si mesmo”.

 

Os diálogos da obra acreditam que o brasileiro tem ótimas condições para uma filosofia plural e ecumênica, e por isso o autor nos transporta os personagens dos diálogos para linguagens e cenários propriamente brasileiros, para tratar de problemas universais.

 

Com grande capacidade analítica, o autor apresenta “homens da tarde, da noite e da madrugada”, dialogando de forma clara e positiva sobre temas antigos e novos, que serviram para o projeto de Santos, que era o de criar um público brasileiro para o estudo da filosofia. “Temos que sair à rua, como outrora o fez Sócrates, para denunciar os falsos sábios”, escreve o autor.

 

Pena que Santos não esteja mais entre nós, para estimular o sentido mais profundo do verdadeiro diálogo, que anda escasso nesses tempos de monólogos, vaidades e egos gigantes.

 

Fonte: Jornal do Comércio em 03/12/2017