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Só Faltou o Título: de Reginaldo Pujol Filho
Só Faltou o Título: de Reginaldo Pujol Filho

ROMANCE INUSITADO SOBRE MERCADO LITERÁRIO

 

SÓ FALTOU O TÍTULO (Record, 322 páginas), romance do porto-alegrense Reginaldo Pujol Filho, chegou para animar a festa e dar prazer literário aos muitos leitores que andavam reclamando que não havia grandes novidades em romances no Brasil.

 

Como se sabe, mas não custa lembrar, o autor não é marinheiro de primeira viagem.  Já publicou os livros AZAR DO PERSONAGEM e QUERO SER REGINALDO PUJOL FILHO.  Pós-graduou-se em Artes da Escrita pela Universidade Nova de Lisboa e é mestre em Escrita Criativa pela PUCRS, instituição em que cursa doutorado.  Ministra cursos de escrita e colabora com resenhas e artigos para a imprensa.

 

SÓ FALTOU O TÍTULO foi catalogado como romance, mas, logo nas primeiras linhas, se constata que é um romance diferente, ousado, criativo e engraçado, que foge aos parâmetros ditos convencionais.  A narrativa tem até estrutura de romance policial, com crime e investigação, testemunhas, polícia e um julgamento, como na maioria dos romances.

 

Mas nesse caso, como escreve o autor da orelha, Ricardo Lisias:  “há um narrador mal-humorado, distribuindo verdades para quem detesta ouvi-las:  os donos do poder da literatura brasileira contemporânea.  Do livro policial inusitado passamos assim para a discussão literária.  A franqueza do narrador espanta, mas dá força à crítica.  Nem mesmo ele se salva.  SÓ FALTOU O TÍTULO ultrapassa todos os limites.  Não se encaixa em um gênero bem-definido, desrespeita as regras do decoro e da boa convivência entra as personagens ou, mais além, os colegas escritores, não deixa o tempo inteiro de relativizar as próprias possibilidades... A literatura brasileira nunca abriu muito espaço para o expressionismo e a intensidade linguística que ele cria”.

 

Ao colocar Edmundo, o protagonista-escritor apaixonado pela verossimilhança questionando sobre o poder de convencimento de suas histórias e se tornando um “hater ol school”, escritor raivoso, ressentido e sem internet, Pujol lança na narrativa uma crítica ácida ao mercado literário, aos escritores, editoras e jornalistas.  O livro critica até a Record, a poderosa editora que teve a ousadia de publicar o ousado romance.  Oficinas literárias, modismos, maneirismos e outros ismos do momento não ficam longe da mira da metralhadora giratória do protagonista.  Edmundo acha que o Brasil não é um País, é uma máquina do tempo enguiçada.  Questiona as modinhas que não saem de moda há décadas.  Mete bronca nos “centauros brasileiros”, metade asno, metade papagaio, que repetem velhas fórmulas, esquartejam a gramática, listam palavrões, preocupados só em se exibir, sem maiores ideias ou menores consistências.

 

Romance criticando o romance, os romancistas, o protagonista, o sistema, tudo.  Vai dar o que criticar.

 

Fonte:  Jornal do Comércio/Jaime Cimenti (jcimenti@terra.com.br) 09/10/2015