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O Clube dos Jardineiros de Fumaça: Carol Bensimon
O Clube dos Jardineiros de Fumaça: Carol Bensimon

O CLUBE DOS JARDINEIROS DE FUMAÇA, DE CAROL BENSIMON

 

CALIFÓRNIA DREAMIN

 

Carol Bensimon lança romance ambientado no Triângulo Esmeralda, área de cultivo de maconha.

 

Livro: O Clube dos Jardineiro de Fumaça Romance, Companhia das letras, 392 páginas.

 

Por Alexandre Lucchese

alexandre.lucchese@zerohora.com.br

 

No norte da Califórnia, uma área é conhecida há mais de 30 anos como Triângulo Esmeralda, não exatamente por suas pedras preciosas. Trata-se da maior área produtora de maconha dos Estados Unidos e ganhou esse apelido depois de ser sobrevoada por agentes federais – dos helicópteros, os pés da erva lembram o formato e a cor da rocha esverdeada.

 

Não foi do alto que a gaúcha Carol Bensimon, 35 anos, conheceu o local. A escritora viveu oito meses cercada pelas coníferas do condado de Mendocino, conhecendo plantações de Cannabis sativa e conversando com moradores, muitos deles velhos ex-hippies que sonhavam em mudar o mundo na década de 1960.

 

A jornada pode ser acompanhada agora com o lançamento do romance O CLUBE DOS JARDINEIROS DE FUMAÇA, o quarto de sua carreira como ficcionista. Autora de PO DE PAREDE (2008), SINUCA EMBAIXO D’ÁGUA (2009) e TODOS NÓS ADORÁVAMOS CAUBÓIS (2013), Carol foi incluída em 2012 entre os 20 melhores jovens escritores brasileiros em seleção publicada pela revista inglesa Granta. 

- Considero este livro um grande passo como escritora. É bem distinto dos meus romances anteriores. Tem um universo ficcional muito maior, com personagens em tempos e geografias diferentes. Demorou para dominar alguns assuntos e ter segurança para contextualizar os personagens americanos – diz Carol.

 

A autora começou a flertar com o assunto na volta de uma viagem de turismo à Califórnia. Depois de uma pesquisa bibliográfica, retornou ao local em 2015, por dois meses, e em 2016, por mais seis. 

- Por causa da timidez, não fiz entrevistas ou coisas assim. Eu meio que fui vivendo, conhecendo amigos, ouvindo histórias – conta Carol.

 

A técnica deu certo. O livro é um convincente panorama sobre a produção de maconha na região, as motivações de cultivadores que passaram décadas na ilegalidade e os riscos pelos quais passam jovens idealistas ou hedonistas que migram para o local. O uso medicinal da maconha foi liberado naquele Estado em 1996, já o recreativo, apenas em 2016. Paira sobre o Triângulo certo ar de informalidade e ilegalidade. 

- Lá também há um nível de violência envolvido, mas é muito mais sutil e discreto do que no Brasil – avalia Carol;

 

O livro, no entanto, vai muito além do debate sobre a maconha. Trata-se do romance mais maduro da escritora, com tramas que se ramificam, expondo a fundo particularidades e sentimentos de personagens paralelos. O protagonista é Arthur, um professor que precisa repensar sua trajetória profissional ao mesmo tempo em que vive o luto pela perda da mãe. Ele sai do Brasil para tentar trabalhar em uma colheita de cannabis em Mendocino, onde se envolve com Tamara, em recuperação de uma relação poliamorosa rompida há pouco. Também ganham destaque a solitária Sylvia, senhora que aluga um quarto para Arthur pelo Airbnb; e Dusk, um amargo agricultor, fundador de uma extinta comunidade rural, criada no início dos utópicos anos 1970. 

- A questão das mulheres com 50 ou 60 anos que se separaram e estão com os filhos crescidos, como é o caso da Sylvia, é um assunto que me interessa há algum tempo, de mesma forma que a monogamia e o poliamor. Não foi minha intenção desde o início, mas esses temas foram se agregando à narrativa – afirma Carol.

 

A leitura de O CLUBE DOS JARDINEIROS DE FUMAÇA pode ser uma boa maneira de se aprofundar em discussões que estão em alta, como a descriminalização das drogas ou relações amorosas múltiplas. Mas é também um livro com dramas que vão além das polêmicas do momento, com personagens em busca da reconstrução de afetos e de um lugar para exercer sua liberdade.

 

Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno em 29/11/2017