NEJAR COM TODAS AS LETRAS
Dicionário temático reúne citações de poemas, romances e ensaios de um dos autores gaúchos mais identificados com o pampa.
Livro: CARLOS NEJAR: UM HOMEM DO PAMPA – Organização de Luiz Coronel, Editora Mecenas, 312 páginas.
Carlos Nejar, poeta, ensaísta e integrante da Academia Brasileira de Letras, não é um homem estranho aos grandes panoramas das coletâneas temáticas. Ele próprio lançou, em 2007, sua própria visão da arte literária nacional em sua HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA. A diferença com o dicionário CARLOS NEJAR: UM HOMEM DO PAMPA, editado no fim de 2017, é que agora é a obra do próprio Nejar a matéria-prima. O volume é o 13º da coleção de dicionários de citações literárias organizado pelo também poeta Luiz Coronel e publicado com o patrocínio do grupo Zaffari e da lei Rouanet.
O dicionário sobre Nejar reúne mais de mil trechos de suas obras (como os destacados abaixo) organizados em verbetes que dialogam com o espírito da citação. De “Abelhas” (Pode amor ser pensamento / que sai de sí com as abelhas / e volta de favos cheios?”) até “Zumbir ao Ar” (“E os relógios gastam,/as horas dos ossos zumbem/ao ar/da eternidade”). O volume de capa dura também reúne fotos e uma extensa fortuna crítica sobre o autor. O livro terá uma sessão de autógrafos em abril na Academia Brasileira de Letras, no Rio.
As fontes que alimentam a coletânea são variadas, de livros de poesia, como SIMON VENTO BOLÍVAR (1993) a romances, como A ENGENHOSA LETÍCIA DO PONTAL (2003).
Se há um fio condutor possível de ser estabelecido é um dos consensos críticos que se desenvolveram com relação à obra de Nejar: a ligação com o pampa.
- O Nejar é um homem com identidade sulina e mística. A personalidade dele como poeta se estrutura em torno de três elementos fundamentais: a infância, Deus e a nostalgia do pampa. Ele tem o pampa inscrito nele como uma saudade vivida no exílio. Sempre sinto no trabalho dele uma orfandade em relação à terra gaúcha – explica Luiz Coronel, organizador do dicionário.
Financiada pelo grupo Zaffari via lei de incentivo federal, parte da coleção é distribuída gratuitamente a diversas instituições, como bibliotecas, escolas e associações, mas o volume também estará à venda este ano em supermercados da rede por um preço ainda não definido, mas que deve ficar entre R$ 39,00 e R$ 49,00.
COLEÇÃO DICIONÁRIOS ESTÁ NO 13º VOLUME
O volume sobre Carlos Nejar é o 13º da Coleção Dicionários, que teve início com duas edições comemorativas a centenários de nascimento: Erico Verissimo, em 2005, e Mario Quintana, em 2006. O projeto foi ganhando amplitude e, ano a ano, novos volumes foram sendo adicionados, incluindo coletâneas sobre Machado de Assis (2008), Garcia Márquez (2009) e Clarice Lispector (2015), entre outros. O dicionário de Nejar tem a particularidade de ser o segundo da coleção dedicado a um autor ainda em atividade (o prieiro foi Luis Fernando Verissimo, editado em 2012).
- Achei que era hora de prestar homenagem ao nosso acadêmico. Pesou também minha amizade pessoal com ele. - diz Luiz Coronel.
Cada dicionário é um fruto de um processo longo que dura aproximadamente um ano. Coronel trabalha com uma equipe de 10 pesquisadores, coordenados por janaína de Azevedo baladão, que reúnem, em um processo de mergulho na obra integral de um autor, citações que podem ser ordenadas em fora de verbetes temáticos. De acordo com Coronel, ao fim da primeira coleta de textos, chega-se a três mil verbetes, depois refinados em pouco mais de mil.
- Ao fim, o que se tem é uma súmula do estilo pessoal do escritor. Cada livro é um monumento. Cada dicionário define uma entidade literária – diz Coronel.
É um método que o próprio Coronel admite não servir para todos os artistas. Poetas que fazem do rigor formal e da visualidade um signo marcante de seu trabalho se transplantam com mais dificuldade para um projeto como esse. Ou não se transplantam de modo algum.
- Um poeta que me assombra há anos para um dicionário como esse é o João Cabral de Melo Neto, mas não encontro suporte para fazer. Ele não era um poeta conceitual – explica.
“COR
A cor é o equilíbrio / das coisas que não vemos./ E esquecer /
é estar vendo. / Tem a morte / alguma cor?” Odysseus: o Velho
“PALAVRA
Cada palavra / é apagável / com a própria / palavra./
De um lado é fogo / e de outro,/ água.” Jericó soletrava o Sol
“PAMPA E POVO
O pampa é a memória / para dentro. E quando / ouvias a língua do teu povo,/
isso era pampa./ E ele te acercava,/ ainda quando o esquecias./
Enquanto soluça a água/sob a cisterna da lua,/ E como a roseira da fala,/ o pampa descansa a alma.” Simon Vento Bolívar
“QUERÊNCIA
Eu só deixei a querência, tendo-a toda no costado. […]
Comigo veio o horizonte, como um cão,
veio a fazenda com seus peões,veio o monte aceso como uma igreja.”
A espuma do fogo (Sinfonia pampiana em sol e dor maior)
“SONHO
O sonho é quem prepara o ancião de cada homem por dentro do menino”
Joana das Vozes.
Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno/Carlos André Moreira (carlos.moreira@zerohora.com.br) em 16/01/2018