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Estudos de Narrativa: o Conto, a Novela, o Ensaio
Estudos de Narrativa: o Conto, a Novela, o Ensaio

 

Teoria da Literatura

Estudos de narrativa: o conto, a novela, o ensaio e a crônica.

 

Formas narrativas: o conto, a novela, o ensaio e a crônica. Em relação aos dois últimos, porém, há uma instabilidade no que toca à sua percepção como uma forma rigidamente literária de modo que alguns autores, como Angélica Soares, por exemplo, preferem situá-los como um gênero à parte.

Para o início de nossa conversa, estudaremos uma forma narrativa bastante conhecida na atualidade: o conto.

 

O conto

  • Narrativa em prosa, tal como o romance, porém menor do que este.
  • A diferença entre o conto e o romance – como também entre o conto e a novela, não se dá, apenas, por questões de extensão, mas, principalmente, pelos modos de configuração.

 

Uma das possibilidades de identificarmos o que pode ser considerado como um conto é a sua designação como uma narrativa em prosa, tal como o romance, porém menor do que este.

Tal afirmação, entretanto, não seria suficiente, pois, na verdade, a diferença entre o conto e o romance – como também entre o conto e a novela, não se dá, apenas, por questões de extensão, mas, principalmente, pelos modos de configuração.

Com isso, queremos afirmar o fato de o conto possuir configurações muito específicas para além de sua pequena extensão.

 

Concisão

  • Estrutura concisa.
  • Tende a apresentar um só conflito.
  • Opõe-se ao intuito romanesco de abarcar a totalidade.
  • Capta um elemento impactante e desenvolve a narrativa em cima dele.
  • O conto registra literariamente um episódio singular e representativo.
  • Elisão das derivações do narrador e elementos que fujam ao essencial da narração.
  • Tende a representar personagens planas e a delimitar o espaço e o tempo, de modo rígido.

 

A estrutura do conto é concisa. Tende a não apresentar conflitos secundários, mas a ser configurada em torno de um só conflito.

 

Disso deriva a sua oposição ao desejo romanesco de abarcar a totalidade. A tendência do conto é contrária: captar um instante, uma questão, um elemento impactante e trabalhar a narrativa em cima dele.

 

Sobre isso, Angélica Soares diz que:

 

“Ao invés de representar o desenvolvimento ou o corte na vida dos personagens, visando abarcar a totalidade, o conto aparece como uma amostragem, como um flagrante ou instantâneo, pelo que vemos registrado literariamente um episódio singular e representativo.

 

Outra derivação desse aspecto conciso é a edição presente no trabalho de construção do conto que tende a elidir as derivações do narrador e elementos que possam fugir ao que haveria de essencial na história a ser narrada. Por isso, há a tendência do conto apresentar personagens que tendem a ser planas em seu livro “Teoria do Conto”, Nádia Gottlib fala sobre a teoria criada pelo escritor inglês Edgar Allan Poe sobre o gênero em questão.

 

Outro ponto importante sobre o conto como gênero literário é o seu desdobramento desde a situação de conflito até o desfecho. Para Boris Eikhenbaum, um estudioso dos contos de Poe, além da concisão, outra característica fundamental da estrutura do conto é a importância dada ao desfecho, imediato à situação de clímax, em geral.

  

A questão da unidade de efeito

  • A proposta de Edgar Allan Poe
  • Conexão entre o tamanho do conto e a capacidade de criar efeitos no leitor.
  • O tamanho ideal do conto A “unidade de efeito”: capacidade de obter a leitura atenta em um tempo ideal (entre meia hora e duas horas).

 

  • “No conto breve, o autor é capaz de realizar a plenitude de sua intenção, seja ela qual for. Durante a hora da leitura atenta, a alma do leitor está sob o controle do escritor. Não há nenhuma influência externa ou extrínseca que resulte de cansaço ou interrupção” (POE apud GOTTLIB, p.34, 2002).

  

O clímax

  • Além da concisão, outra característica fundamental da estrutura do conto é a importância dada ao desfecho, imediato à situação de clímax, em geral.

 

O impacto do conto

  • -O impacto do conto
  • Julio Cortázar

–    Leitura do conto e luta de boxe

  • O conto precisa ganhar por knock-out, a partir da representação de momentos singulares da realidade.

 

O conto, por fim, deve em sua estrutura enxuta, ser capaz de impactar de modo profundo o leitor. O escritor argentino Julio Cortázar chegou a comparar a relação entre o leitor e o conto a uma luta de boxe, na qual o texto precisa ganhar por knockout, a partir da representação de momentos singulares da realidade.

 

O conto fantástico

  • Tzvetan Todorov

–    Introdução à literatura fantástica e As estruturas narrativas.

 

O fantástico, o estranho e o maravilhoso

 

  • O estranho

–    Presença de um fenômeno aparentemente sobrenatural, mas que se revelaria em uma explicação racional e plausível.

  • O maravilhoso

–    Naturalização de um mundo excepcional e sem conexão com a lógica.

 

Para o crítico literário Tzvetan Todorov, em Introdução à Literatura Fantástica e em As Estruturas Narrativas, o conto fantástico é um gênero passível de ser relativamente bem delimitado. Para tal delimitação, Todorov compara o fantástico com o que chama de estranho e de maravilhoso.

 

O estranho, para Todorov, ocorre em contos cujas narrativas apontam para a existência de um fenômeno aparentemente sobrenatural, mas que se revelaria com uma explicação racional e plausível, por fim.

 

O maravilhoso já estaria situado no outro lado do gradiente: estaria presente em narrativas, como os contos de fadas, nas quais a existência de um mundo excepcional e sem conexão com a lógica é naturalizado.

  • Entre os dois tipos de contos, estaria o fantástico. Por quê?

 

O fantástico é um tipo de conto construído em torno da ideia de hesitação. Há uma suspensão entre o passível de ser racionalizado e o episódio surreal: nessa dúvida, o fantástico emerge.

 

São histórias nas quais não se sabe com certeza se estamos frente a uma manifestação sobrenatural ou não. Diz Todorov ser o fantástico:

 

“A hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais perante um acontecimento aparentemente sobrenatural.”

 

A hesitação é, portanto, um elemento fundamental para a organização do conto fantástico. E deve, por empatia, alcançar ao leitor como propõe Todorov:

 

“Primeiro, é preciso que o texto obrigue ao leitor a considerar o mundo das personagens como um mundo de criaturas vivas e hesitar entre uma explicação natural e uma explicação sobrenatural dos acontecimentos evocados. A seguir, essa hesitação pode ser igualmente experimentada por uma personagem. Dessa forma, o papel do leitor é, por assim dizer, confiado a uma personagem e, ao mesmo tempo, a hesitação encontra-se representada, torna-se um dos temas da obra; no caso de uma leitura ingênua, o leitor real se identifica com a personagem”.

 

“Como exemplo de um conto fantástico, podemos indicar “A queda da Casa de Usher”, de Edgar Allan Poe.

 

Nesse conto, o narrador-protagonista fala sobre uma experiência vivenciada ao visitar um amigo um pouco distante que se encontrava extremamente doente e solicitava a sua presença. Ao chegar a casa, na beira de um lago, nota a sua rachadura frontal.

 

“O amigo está extremamente doente e tem uma irmã também enferma, com o mal da catalepsia, como será revelado posteriormente. Os eventos rumam para a morte da moça, enterrada na cripta da família.

 

Em um dia de extrema tensão, entretanto, o narrador frente a seu amigo, já com aparência cadavérica, ouve a porta abrir-se e nela surgir a figura da morta.

 

“Morta? Eis a dúvida, tão cara ao conto fantástico. Estaria a moça voltando para se vingar de seu irmão que a enterrara viva, por conta de um ataque cataléptico? Ou morrera de fato?

De qualquer modo, ela avança para o irmão e ambos morrem. O narrador só tem tempo de abandonar a casa, que é sugada pelo lago, deixando no narrador, e, por empatia, no leitor a dúvida sobre a natureza dos episódios ocorridos.

 

 O conto de fadas

  • Narrativa primordial
  • Remonta a tempos imemoriais
  • Presença do maravilhoso
  • Tendência à moralização, com função propedêutica.
  • Oralidade
  • O Romantismo e a escrita dos contos de fadas

–    Principais autores: Irmãos Grimm, Hans Christian Andersen e Charles Perrault

–    Edição dos contos e sua adequação ao público leitor. 

 

 

         Três histórias “originais”.

–    A Bela Adormecida

–    Chapeuzinho Vermelho

–    A pequena sereia

  • O conto de fadas como gênero

–    Muitos críticos não o consideram uma forma literária.

–    A visão de André Jolles

  • Forma simples e oposta à forma literária
  • Possui formas permanentes
    • Quando recontadas não perdem a sua essência.
    • A forma literária, ao contrário, perderia a sua singularidade, no processo de recontagem.

 

O conto de fadas é uma narrativa primordial que remonta a tempos imemoriais. É marcada pelo maravilhoso e pela tendência à moralização, com função propedêutica.

 

É fortemente marcado pela oralidade. Para termos uma ideia, as primeiras formas escritas das narrativas de fadas ocidentais datam do século XIX, com o Romantismo e a sua valorização da cultura nacional.

 

O Romantismo via nas histórias orais criadas pelo povo um índice importante da cultura nacional. Muitos autores românticos transformaram tais narrativas orais em escritas. Os principais desses autores são: os irmãos Grimm, Hans Christian Andersen e Charles Perrault.

 

Nesse processo, editaram e transformaram muitas de suas partes, ocultando aspectos considerados como sexualizados ou violentos. Fizeram esse procedimento como modo de adequar as narrativas a um público leitor burguês e, majoritariamente, feminino, leitor das histórias para os seus filhos e/ou outras crianças.

 

A história da Bela Adormecida

No original, a princesa dorme e é violentada pelo rei. Gera dois filhos, nascidos enquanto ainda dormia. Ao acordar, depara-se com a nova realidade.

 

Chapeuzinho Vermelho

Não havia a figura do caçador e da avó, originalmente. Ela é morta e devorada pelo lobo.

 

A pequena sereia

Morre de tristeza no final após ser abandonada pelo príncipe que se casa com outra moça.

 

O conto de fadas não é considerado por muitos críticos como uma forma literária. André Jolles, por exemplo, percebe o conto de fadas como uma forma simples e a opõe à forma literária. Isso, segundo Jolles, os contos de fada teriam formas permanentes que mesmo recontadas não perderiam a sua essência. A forma artística, literária, ao contrário, perderia a sua singularidade no processo de recontagem.

  • A novela
  • Situada, em termos de extensão, entre o conto e a romance.
  • Não é concisa como o conto, embora também tenda a apresentar um conflito principal, desenvolvido em um espaço e tempo rígidos, bem como personagens planas.
  • Propensa à ação, o que a aproximaria do gênero dramático, enquanto o conto, apesar de seu cunho narrativo, estaria mais próximo ao lirismo.

 

A novela é uma narrativa situada, em termos de extensão, entre o conto e a romance. Apesar de em língua inglesa a palavra “novel” referir-se ao romance, a palavra novela, na língua portuguesa, não se refere a esse gênero.

 

Não é concisa como o conto, embora também tenda a apresentar um conflito principal, desenvolvido em um espaço e tempo rígidos, bem como personagens planas.

 

  • Segundo Angélica Soares, em Gêneros literários, uma distinção importante entre o conto e a novela é a propensão desta à ação, o que a aproximaria do gênero dramático, enquanto o conto, apesar de seu cunho narrativo, estaria mais próximo ao lirismo.
  • Uma novela: “O alienista”, de Machado de Assis.

 

Um exemplo de novela seria “O Alienista”, de Machado de Assis, a qual narra a história de Simão Bacamarte, médico de formação e ideário europeu que tenta aplicar os seus conhecimentos científicos em Itaguaí.

 

A narrativa, apesar de breve e focada nas ações, graças à habilidade do autor, discute questões complexas como as relações entre ciência, linguagem e poder.

 

O ensaio

  • O ensaio é um gênero amplo e, por isto, difícil de ser demarcado.
  • Reflexivo
  • Olhar crítico sobre um objeto ou situação, sobre a qual se expõem pontos de vista, podendo estes ser rígidos e apaixonados ou instáveis e abertos.
  • Tom literário
  • Fronteira tênue entre o filosófico e o literário
  • Conexão: exposição de um pensamento inovador→linguagem inovadora, embora não ficcional

 

  • É um texto de reflexão, estruturado em torno de um olhar crítico sobre um objeto ou situação, sobre a qual se expõem pontos de vista, podendo estes ser rígidos e apaixonados ou instáveis e abertos.
  • Michel de Montaigne – século XVI
  • Ensaios
  • Expressão de sua opinião e visão de mundo sobre uma série de assuntos, inclusive polêmicos

 

No século XVI, o filósofo Michel de Montaigne escreveu uma obra justamente chamada de Ensaios. Por meio desses ensaios, ele justamente expressava a sua opinião e visão de mundo sobre uma série de assuntos, inclusive polêmicos, como fez no capítulo intitulado “Dos canibais”.

 

Nesse capítulo, Montaigne, de modo corajoso, defendeu os canibais do Novo Mundo e inverteu o olhar eurocêntrico que imperava no momento ao afirmar que os europeus eram os verdadeiros bárbaros, pois, ao contrário do ritual simbólico do canibalismo, matavam por crueldade, ódio e ganância.

 

Outro dado importante sobre o ensaio é o fato desse poder ter certo tom literário, com o emprego de imagens metafóricas, por exemplo. Um filósofo cuja obra apresenta esse tom é Walter Benjamin.

 

Benjamin, por exemplo, ao falar da importância do ócio para a criatividade e o fortalecimento da experiência coletiva, afirmou em “O narrador”:

 

“O tédio é o pássaro que choca os ovos da experiência”.

 

Por conta dessa conexão com a linguagem literária, o ensaio situa-se em uma fronteira tênue entre o filosófico e o literário, havendo uma conexão entre a exposição de um pensamento inovador em uma linguagem igualmente experimental, embora não ficcional e mantendo o seu sentido de criticidade.

 

A crônica

  • Do grego chronos
  • Identificação com a necessidade de narrar a temporalidade, de marcar o tempo vivido.
  • Essa marcação do tempo experimentado dá-se, entretanto, de modo diverso, dadas as transformações vividas pelo gênero.

 

  • Idade Antiga

–    Relação objetiva de acontecimentos

  • Baixa Idade Média

–    Caráter subjetivo

–    A figura do cronista ganha relevância: atribui-se ao cronista a opinião sobre os acontecimentos relatados.

  • Século XVI

–    O impacto do Novo Mundo

–    Mantém a sua condição de relato, mas já imprime certa curiosidade para as minúcias do cotidiano

 

  • A forma moderna da crônica: origem no século XIX
  • Torna-se um relato dos acontecimentos da semana
  • José de Alencar e a metáfora do beija-flor
  • A crônica também poderia ultrapassar a sua condição de comentário sobre os eventos e alcançar outros objetos de reflexão, como a metalinguagem – como fez Alencar.
  • Caráter híbrido

–    Fato e ficção, agora de modo consciente

–    Elementos de gêneros literários diversos

–    Fragmentação: captura dos múltiplos acontecimentos e manifestações do real.

 

  • Um exemplo:  Machado de Assis, em “Bons Dias”
  •          “Pancrácio aceitou tudo: aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me não escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Ele continuava livre, eu de mau humor;eram dois estados naturais, quase divinos.
  •          Tudo compreendeuo meu bom Pancrácio: daí para cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe nãochamo filho do diabo; cousas todas que ele recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que atéalegre”.
  • Evidentemente, Machado não estava fazendo uma confissão, mas uma crítica à hipocrisia de certos setores da sociedade e ao próprio evento, sobre o qual se mantinha cético.

 

Em termos etimológicos, a palavra crônica origina-se do grego chronos, o que significa “tempo”. É, portanto, desde as suas origens, um tipo de texto identificado com a necessidade de narrar a temporalidade, de marcar o tempo vivido.

 

Essa marcação do tempo experimentado dá-se, entretanto, de modo diverso, dadas as transformações vividas pelo gênero.

 

Em sua emergência, durante a Idade Antiga, a crônica era simplesmente um rol de acontecimentos elencados de forma tranquila e objetiva.

 

Na Baixa Idade Média, as crônicas passam a ter um caráter mais subjetivo, a partir do momento em que a figura do cronista ganha relevância e a ele é atribuído o papel de opinar sobre os acontecimentos relatados. É interessante lembrar a inexistência de uma oposição significativa e delimitada entre fato e ficção nesse momento.

 

No século XVI, a crônica encontra um terreno fértil para a sua construção: o Novo Mundo com os seus mistérios e singularidades, captadas e filtradas pelo olhar do cronista, o qual projeta um imaginário pré-configurado na América, como tantos outros europeus. A crônica mantém a sua condição de relato, de descrição, mas já imprime certa curiosidade para as minúcias do cotidiano.

 

A crônica, tal como conhecemos na atualidade, assume a sua forma no século XIX. Torna-se um relato dos acontecimentos da semana, sejam eles de extrema relevância, como a reflexão sobre os processos de guerra, ou fúteis, como a nova moda da Rua do Ouvidor.

 

José de Alencar, um dos primeiros cronistas brasileiros, comparou o cronista a um beija-flor: como o pássaro voa de flor em flor, a crônica captaria os acontecimentos da semana, a ser reelaborados no texto por seu autor.

 

O fato é que, mesmo inicialmente, a crônica também poderia ultrapassar a sua condição de comentário sobre os eventos e alcançar outros objetos de reflexão, como a metalinguagem – como fez Alencar.

 

Se definirmos a crônica como um gênero narrativo que relata fatos e acontecimentos tais como ocorrerem num determinado momento - quer históricos, quer da vida cotidiana – podemos dizer que ela é tão antiga quanto a invenção da literatura. A crônica histórica, relatando a vida dos soberanos, eventos e guerras, é encontrada na literatura babilônia, berço da escrita. Na Europa medieval, religiosos e sacerdotes foram minuciosos cronistas que possibilitaram aos historiadores reconstituir a cronologia dos reinados. Escribas a serviço dos reis acompanhavam os grandes acontecimentos, com a função precípua de os relatar. Foi nesta condição que Pero Vaz de Caminha acompanhou a expedição portuguesa que chegou ao Brasil e tornou-se o primeiro cronista da nossa terra.

 

É ainda no século XIX que o caráter híbrido da crônica moderna mostra-se, ao assumir-se como forma a comportar o fato e a ficção, agora de modo consciente, elementos de gêneros literários diversos. Além disso, é fragmentada, pois capta os múltiplos acontecimentos e manifestações do real – como intuído pela crônica de Alencar, na metáfora do beija-flor.

 

Essa mescla permitiu, por exemplo, a Machado de Assis escrever uma crônica logo após a Abolição da Escravatura. Nela, o narrador assume ter um escravo que havia sido alforriado dias antes da lei. Ironicamente, mostra que nada mudou, pois o escravo continua a ser explorado e a apanhar. Evidentemente, Machado não estava fazendo uma confissão, mas uma crítica à hipocrisia de certos setores da sociedade e ao próprio evento sobre o qual se mantinha cético.  O caráter híbrido da crônica permitia a ele esse tipo de abordagem.

 

POLIMÓRFICA

  • Sobre esse hibridismo, afirma Soares:

 

“Polimórfica, ela se utiliza afetivamente do diálogo, do monólogo, da alegoria, da confissão, da entrevista, do verso, da resenha, de personalidades reais, de personagens ficcionais..., afastando-se sempre da mera reprodução de fatos. E enquanto literatura, ela capta poeticamente o instante, perenizando-o”.

 

Há na literatura brasileira um elenco de cronistas excepcionais, como o já referido Machado de Assis, João do Rio, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga e Luís Fernando Veríssimo.