A SOCIOLINGUÍSTICA: VARIAÇÃO E MUDANÇA NAS LÍNGUAS.
BREVE RESUMO: SAUSSURE
Saussure – língua é social: unifica a comunidade já que compartilhamos o mesmo sistema linguístico.
Ênfase ao caráter social ou institucional dos sistemas linguísticos.
Insere a Linguística no contexto mais amplo das ciências sociais: Linguística como sendo mais próxima da sociologia ou da psicologia social.
BREVE RESUMO: CHOMSKY
A língua é um processo cognitivo.
O primeiro objetivo da língua é expressar o pensamento; a segunda função é a social. Assim, a Linguística está mais perto da psicologia cognitiva.
No Gerativismo, vimos que, apesar de todos os seres humanos nascerem dotados de uma capacidade genética, desenvolvemos a língua a que fomos expostos quando criança. Nós, nascidos no Brasil e criados por pais brasileiros, desenvolvemos a Língua Portuguesa. A questão é: a Língua Portuguesa é utilizada da mesma maneira por todos os seus falantes nativos? Quais diferenças podem ser observadas?
Veja alguns exemplos que ilustram a nossa realidade linguística:
“Ai, que blusinha bonitinha!”
“Mas guri, o que tu estás fazendo?”
“Vixe, que carro arretado!”
“Como é a sua graça?”
“Fala, brou. Tá ligado?”
Os exemplos apresentados ilustram a nossa realidade linguística. Ao observarmos as pessoas, em situações reais de comunicação, perceberemos que a língua falada é heterogênea e diversificada. No entanto, por que será que, apesar de tanta heterogeneidade, conseguimos nos entender? Será que podemos usar a língua de uma maneira aleatória e arbitrária? Vamos refletir sobre isso com a Sociolinguística.
A Sociolinguística é uma corrente da Linguística que tem como objeto de estudo a língua.
“Para essa corrente, a língua é uma instituição social e, portanto, não pode ser estudada como uma estrutura autônoma, independente do contexto situacional, da cultura e da história das pessoas que a utilizam como meio de comunicação.” (CEZARIO, Maria Maura & VOTRE, Sebastião. Sociolinguística. In: MARTELOTTA, Mário (Org.) Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2009) em uso real, relacionando a estrutura linguística e aspectos extralinguísticos do indivíduo que a utiliza, tais como sexo, idade, escolaridade, região em que vive, nível de escolarização etc. Por isso, tem como foco principal a questão da variação linguística.
Como a Sociolinguística Começou?
As correntes teóricas vigentes no início do século XX, Estruturalismo e Gerativismo, não demonstraram preocupação com a variação linguística, pois não tinham como objeto de estudos a fala. Saussure a desprezava devido ao seu caráter individual e heterogêneo.
Chomsky, por sua vez, utilizava os dados fornecidos pelo desempenho apenas como um caminho para entender mais a competência linguística.
Embora a preocupação com a variação linguística tenha surgido por volta de 1930, o termo “sociolinguística” surge pela primeira vez em 1950 e passa a designar uma importante corrente linguística em 1960, com a influência de alguns autores, dentre eles, William Labov.
Como foco a chamada “Sociolinguística Variacionista” ou “Teoria da Variação”, proposta por William Labov, nos Estados Unidos, na década de 1960. Labov foi o responsável por destacar a importância dos fatores sociais na explicação da variação linguística. Seus estudos reforçavam a ideia de que havia uma regularidade por trás do aparente “caos” da realidade do uso linguístico. Para ele, a Linguística possui um caráter social. Por isso, em suas análises, o linguista não deve abstrair a língua de seu uso real, uma vez que o indivíduo a desenvolve e dela se utiliza para poder viver em sociedade.
Fenômenos Inerentes às Línguas do Mundo: Variação e Mudança Linguística
Todos nós vivemos em uma sociedade e já sabemos que isso só é possível porque dominamos o mesmo sistema linguístico. Nós somos “linguistas natos” (embora muitas pessoas não tenham ainda parado para pensar nisso), pois somos capazes de tecer algumas considerações sobre o nosso sistema linguístico com muita propriedade.
Heterogeneidade como foco: formas de igual valor de verdade.O que significa “igual valor de verdade”?
a) a gente x nós;
b) as casas azuis x as casaØ azul Ø.
A heterogeneidade linguística pode e deve ser explicada.
Por exemplo, conseguimos distinguir enunciados que não fazem parte da nossa língua (“The book is on the table.”), identificar sentenças que não foram bem estruturadas (“Menino o vi eu.”), reconhecer diferentes pronúncias (“m/é/nino”, “m/ê/nino”, “m/i/nino”) etc.
O mais interessante é que tudo isso independe do nosso nível de escolarização. Indivíduos com pouquíssima ou nenhuma escolarização são capazes de perceber quando duas pessoas são “estrangeiras” ao ouvi-las conversar, o que mostra seu reconhecimento do que faz ou não parte da língua que fala.
ESCRITA: MODELO PARA A GRAMÁTICA NORMATIVA
A nossa atuação como “linguistas” nos possibilita perceber que a Língua Portuguesa não é falada da mesma maneira por todos os indivíduos em todas as regiões do Brasil. Também sabemos que o modo como a nossa língua é utilizada hoje não é igual ao modo como era utilizada no século passado. Por quê?
A língua é essencialmente dinâmica. Segundo a Sociolinguística, devemos entender que a variação e a mudança linguísticas são fenômenos inerentes às línguas.
No entanto, essa percepção não é percebida pela maioria dos indivíduos. É comum ouvirmos algumas pessoas comentarem que “a nossa língua está piorando”, “a nossa língua está sendo deturpada” etc. Há pessoas que dizem que os brasileiros são muito criativos e gostam de “inventar” novas formas linguísticas. Ainda há aqueles que dizem que os brasileiros são preguiçosos e, por isso, mudam o modo como as palavras são pronunciadas.
Todavia, é preciso ter em mente que a variação e a mudança não são fenômenos exclusivos da Língua Portuguesa. Todos os sistemas linguísticos apresentam esses dois fenômenos. Pode-se usar como exemplo desse fato a Língua de Sinais Brasileira (LIBRAS), que, apesar de ser uma língua visoespacial, é um sistema linguístico como qualquer outro e, por isso, apresenta a variação linguística.
Os Sotaques dos Sinais (Rachel Bonino)
Paola Ingles Gomes cursa a 8ª série em São Paulo em uma tradicional escola municipal para deficientes auditivos no bairro da Aclimação, a Helen Keller. Como outros colegas adolescentes, costuma ir à festa junina promovida pelo Instituto Santa Teresinha, um evento que virou referência entre estudantes surdos de todo o país.
Paola conversava com um amigo de outro estado numa dessas comemorações anuais quando, entre risos, sinalizou que ele era um "palhaço", um tolo. O sinal usado indicava uma bola no nariz, assim como usam os palhaços. O rapaz não entendeu a "gíria" e coube a Paola indicar o contexto da palavra, por meio de outros sinais.
Casos assim se repetem a cada interação entre deficientes auditivos de regiões diferentes, mas que adotam a mesma gramática gestual adotada pela LIBRAS, sigla para Língua de Sinais Brasileira. Nesse universo sem sons, há gírias, regionalismos e até mesmo o que podemos chamar de sotaques. (Adaptado do artigo Os sotaques dos Sinais. Revista Língua Portuguesa.
É importante destacar que toda mudança pressupõe variação, mas a existência de formas em variação não implica a ocorrência de mudança. Vamos ilustrar com o pronome “você”. Sabemos que o “você” vem do pronome de tratamento Vossa Mercê. A trajetória de mudança pode ser assim descrita:
Vossa Mercê > vosmecê > vossuncê > suncê > você > cê.
Você acha que a mudança de “vossa mercê” para “você” aconteceu do dia para a noite?
Não! Ao longo do processo de mudança, provavelmente as formas coexistiram, ou seja, havia, na mesma época, indivíduos que produziam “vossa mercê”, enquanto outros, “vosmecê”. Podemos comparar o processo como uma luta de boxe. Há duas formas “lutando”, ou seja, coexistindo em um sistema linguístico, até que uma delas “vença” a luta e passe a existir sozinha.
Em uma língua, para que a mudança seja efetivada, há etapas em que a forma linguística passa por um processo de variação e, nesse caso, as formas coexistem até que uma delas caia em desuso e a outra continue sendo utilizada. Atualmente, no português brasileiro, percebemos a utilização, em alguns contextos, das formas “você” e “cê”. Por enquanto, as duas formas não são intercambiáveis em todos os contextos.
“você”
e
“cê”.
Podemos produzir: “Você vai lá?” ou “Cê vai lá?”, mas não “Cê e o João vão lá?”, que seria um enunciado agramatical. Por isso, não podemos dizer se o “você” vai deixar de ser utilizado a favor do “cê”.
Tipos de variação linguística: geográfica (ou diatópica), social (ou diastrática), e de registro (ou diafásica).
VARIAÇÃO E MUDANÇA
Toda mudança pressupõe variação, mas a existência de formas em variação não implica a ocorrência de mudança: a língua só muda se os falantes absorvem a mudança.
O item em variação não pode ser estigmatizado:
Com a Sociolinguística, foi possível estabelecer alguns tipos de variação linguística. Destacaremos, aqui, três tipos básicos:
a) Variação geográfica (ou diatópica) – está relacionada a diferenças linguísticas que ocorrem em função do espaço físico.
Relacionada a diferenças linguísticas que ocorrem em função do espaço físico.
Exemplos.
a) Brasileiros e portugueses.
Trem x combóio; prêmio x prémio; Lá não vou x Não vou lá.
b) Brasil: nordeste e sudeste.
Vogais médias pré-tônicas abertas x fechadas;
Posposição verbal da negação (“sei não” (nordeste) x “não sei; não sei não” (sudeste).
Veja abaixo exemplos de variação geográfica:
Exemplo: Português Brasileiro (PB) e Português Europeu (PE)
Vejam, em (1), um trecho da edição brasileira do livro O diário de um mago de Paulo Coelho e, em (2), da tradução portuguesa.
"Tirou de dentro uma garrafa de vinho, tomou um gole e me estendeu. Enquanto eu bebia, perguntei quem era o cigano. (....)
- Você não está me respondendo. Vocês dois se olharam como velhos conhecidos. E eu tenho a impressão de que conheço ele também (....)"
"Tirou de dentro uma garrafa de vinho, tomou um gole e estendeu-ma. Enquanto bebia, perguntei quem era o cigano. (....)
- Não estás a responder-me. Ambos se olharam como velhos conhecidos. E tenho a impressão de que também o conheço (....)"
b) variação social (ou diastrática) – são as variações percebidas entre grupos socioeconômicos. Compreende os seguintes fatores: idade, sexo, profissão, nível de escolarização, classe social.
Variação social. Variações percebidas entre grupos socioeconômicos. Compreende os seguintes fatores: idade, sexo, profissão, nível de escolarização, classe social.
Forte estigma = marca socialmente.
Exemplos.
Uso de dupla negação: “ninguém não viu”; “eu nem num gosto”.
“Brusa”; “grobo”; “estrupo”; “probrema”.
Veremos agora um exemplo de variação social.
O trecho de Paulo Mendes Campos ilustra a questão da variação em função da idade dos indivíduos:
"Outro dia um senhor de cinquenta anos me falava da mãe dele mais ou menos assim:
- Se há alguém que eu adoro neste mundo é minha mãezinha. Ela vai fazer 73 anos no dia 19 de maio. Está forte, graças a Deus, e muito lúcida. Há 41 anos que está viúva, papai, coitado, faleceu muito moço...(...)
Deu-se que no mesmo dia encontrei um rapaz de 18 anos, que contou mais ou menos assim:
- Velha bacaninha é a minha. Quando ela está meio adernada, mais prá lá do que prá cá, ela ainda me dá uma broncazinha. Bronca de mãe não pega, meu chapa. Eu manjo ela todinha: lá em casa só tem bronca quando ela encheu a cara demais. A velha toma prá valer!..."
c) variação de registro (ou diafásica) – observa-se, neste tipo de variação, o grau de formalidade do contexto comunicativo ou do canal utilizado para a comunicação (a fala, o e-mail, o jornal etc.)
Observa-se, neste tipo de variação, o grau de formalidade do contexto comunicativo ou do canal utilizado para a comunicação (a fala, o e-mail, o jornal etc.)
Exemplo.
Juiz jogando bola na praia e no exercício de suas funções no tribunal.
Língua brasileira
O Brasil tem dessas coisas, é um país maravilhoso, com o português como língua oficial, mas cheio de dialetos diferentes.
No Rio/ Em Minas/ No Nordeste