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Morfemas e A Noção de Alomorfia
Morfemas e A Noção de Alomorfia

Morfemas 

Como vimos no post anterior, a morfologia é a parte da gramática que estuda as partes que compõem uma palavra ou vocábulo. Quando olhamos uma palavra, independentemente da escolaridade, somos capazes de perceber que ela é composta por partes.

 

A noção de morfema.

 

Cada uma das partes que compõem uma palavra é chamada de morfema: “[...] as menores unidades formais dotadas de significado.” (Monteiro: 2002,13)

 

Veja as palavras a seguir:

GATA –PATA- MENINA- CACHORRA

O que há de comum entre elas?

Todas terminam com ‘-a’.

 

O que isso indica em termos morfológicos?

Morfologicamente, esse ‘-a’ é uma das partes que compõem essas palavras e indica que elas estão no feminino.

Por que percebemos a flexão nessas palavras?

Porque somos capazes de opor gato x gata; pata x pato; menina x menino.

 

Em princípio, todo morfema se compõe de um ou vários fonemas, e destes difere, fundamentalmente, pelo fato de apresentarem significado (GLEASON JUNIOR, 1978). Como é fácil perceber, isoladamente os fonemas nada significam. Se pronunciamos /p/ ou /t/, ninguém associa ao som emitido nenhuma ideia. Mas, de modo oposto, em geral, só existe o morfema quando a unidade mínima apresenta um significado.

 

Se sabemos que as palavras são formadas por várias partes, como fazemos para depreender essas partes?

 

Temos de decompor a palavra em morfemas, ou seja, em suas menores unidades significativas.

 

Já sabemos que uma palavra pode ser entendida como equivalente a um vocábulo – autônoma e constituída de morfemas. Vamos conhecer a visão tradicional desses morfemas?

 

Mas...quais são os morfemas da nossa língua?

Numa visão tradicional, presente na maioria das gramáticas normativas e pedagógicas, temos:

 

1) RAIZ/RADICAL: é o morfema que contem a ideia da palavra, ou seja, a base para o significado da palavra e também está associada à origem dos vocábulos.

casa – casebre – casinha – acasalado - casulo

VOGAL TEMÁTICA: às vezes, para receber as desinências, o radical precisa do acréscimo de uma vogal, chamada vogal temática.

 

ATENÇÃO! Também nos nomes pode aparecer a vogal temática, como em:

Flor + E + s

A vogal temática E liga o radical flor- à desinência de número –s.

À junção do RADICAL com a VOGAL TEMÁTICA, denominamos TEMA.

escrev + e = TEMA

pern + a = TEMA

 

A proposta de Carone (2005)

Comutação: Segundo Carone (1995), quando realizamos o processo de comutação alteramos um elemento no plano da expressão e isso gera uma alteração no plano do conteúdo. Veja os exemplos fornecidos pela autora na página 28:

 

Am   a va   Ø     indicativo    pretérito imperfeito

            ra          indicativo     pretérito mais-que-perfeito

            rá          indicativo     futuro do presente

            ria  indicativo     futuro do pretérito
            sse       subjuntivo    futuro

 

Segmentação. Quando realizamos a operação de comutação acabamos por descobrir quais são os morfemas que constituem um vocábulo.

 

Exemplo. A forma verbal ‘amava’ é formada por am + a + va.

 

Como se comportam os morfemas?

Formas livres. São morfemas que podem aparecer sozinhos em um enunciado.

 

Exemplo. _ Quem chegou mais cedo?

                _ Ele. 

 

Formas presas.  São morfemas que não aparecem isoladamente como, por exemplo, os sufixos, as desinências etc.

Exemplo.  Caseiro.

 

Entretanto, Matoso Câmara Jr. (1970), nos apresenta uma outra noção, a de formas dependentes. Segundo o autor, não são formas livres porque não constituem enunciados e não são formas presas porque existem como vocábulos. Segundo Carone (1995:32), são exemplos dessas formas dependentes artigos, preposições, algumas conjunções e pronomes oblíquos átonos.

Exemplo. Café com leite.

 

MORFES e MORFEMAS

 Monteiro (2002:14)

 

O morfe é a concretização de um morfema, ou seja, uma sequência fonêmica mínima a que se pode atribuir um significado.

morfema   ::     fonema

morfe         ::        fone

 

 

Há autores que vão além da classificação morfema gramatical X morfema lexical. Vejamos:

a) Morfema derivacional. São aqueles que possibilitam a criação de novas palavras. São exemplos de morfemas derivacionais os prefixos, os infixos e  os sufixos.

Exemplos. Cas [inha]; cas [eiro].

 

b) Morfema categórico. São morfemas flexionais, ou seja, são as desinências nominais e verbais, representando, assim, morfemas gramaticais. A função dos morfemas categóricos é indicar as flexões que as formas assumem.

Exemplos. Casa[s] ; menin[a].

 

c) Morfema relacional.  Esses morfemas não são formas presas como o morfema categórico e o morfema derivacional.  A função desse tipo de morfema é ligar vocábulos e são exemplos de morfemas relacionais as preposições, as conjunções, os artigos e os pronomes relativos.

Exemplos. Café com leite; vinho de Portugal.

 

d) Morfema classificatório. As vogais temáticas representam os morfemas classificatórios e são assim chamadas porque definem a estrutura dos vocábulos em nomes e verbos.

Exemplos. Camis [a]; cant + [a] + [va]

 

TIPOS DE MORFES

 

a) Morfes alternantes.  Temos morfes alternantes quando o morfema se realiza mediante a permuta entre dois fones: é um caso de alternância morfofonológica.  Essa alternância não é foneticamente condicionada como em incondicional / irreal (o prefixo [in] passa a [i] quando a consoante inicial é líquida)

Alternância vocálica

 

Ex. Pude ¹ pôde       fiz ¹ fez     pus  ¹  pôs

 

(Bechara:2000, 350)

 Há 3 grupos de alternância do timbre da vogal tônica com função de indicações gramaticais:

a) ½ê½             ½é½; ½ô½            ½ó½ ;  esse / essa   novo / novos   ovo / ovos

 

Nos verbos da 2ª. Conjugação marca, no pres. do indicativo, a oposição entre a 1ª. pessoa e as outras rizotônicas:

devo / deves, deve, devem

 

b)½ê½½i½; ½ô½½u½ : este, esse / isso    aquele/aquilo     todo / tudo

 

c)  ½i½½ê½; ½u½½ô½; ½i½½é½; ½u ½½ó½

 Em verbos da 3ª conjugação, o morfe alternante marca, no presente do indicativo, a oposição entre a 1ª pessoa e as outras rizotônicas: minto / mentes;   sinto / sentes;    sumo / somes;    firo /feres;   durmo / dormes

 

Exemplos de alternância consonantal.

Trag - o  ¹  traz – es         [dig ] – o  ¹ [diz] – es.

 

Alternância acentual.   Nesse caso, temos um morfema supra-segmental., ou seja, temos a variação de intensidade e altura com significado gramatical. Em português, só a intensidade tem valor gramatical, ainda que a variação de altura traga significado e possibilite a distinção entre asserção e interrogação (Ele já viajou. /Ele já viajou?).

Outros exemplos: Exército x exercito       refica x retifica         hisria x historia

b) Morfe cumulativo.  É um morfe que expressa mais de um significado (não há correspondência ideal entre morfe e morfema).

 Ex. [mos] em viajamos – desinência número-pessoal ( 1a. pessoa/ plural)

c) Morfe redundante. Ocorre quando mais de um traço opõe duas formas.

 

Exemplos.

Na flexão de número. temos avô/ avós (abertura da vogal + morfema [s] como marcas de plural).

 

d) Morfe homônimo. Ocorre quando um único morfe corresponde a morfemas distintos.

 

Ex. [s]

A[s] casa[s] – marca plural

(tu) ama [ s] – desinência número pessoal

 

A noção de ALOMORFIA.

MORFEMA x MORFE x ALOMORFE

 

Assim, o que seria alomorfia? A palavra alomorfe  vem do grego (állos = outro    +  morphé = forma) e indica a realização de um morfema por dois ou mais morfes diferentes, quer dizer, é a concretização em morfes diferentes de dois segmentos com os mesmos valores significativos.

 

Vejamos o que Monteiro (2002, p. 14), em Morfologia Portuguesa, nos diz sobre a relação entre morfema e alomorfe:

 

“Se quisermos usar os termos de modo bem preciso, deveremos compreender que o morfema é uma entidade abstrata que não se confunde com uma única e mesma forma. Na prática, um morfema pode apresentar variações formais. Assim, se observarmos as palavras vida e vital parece evidente que em ambas existe um mesmo morfema que se realiza como [vid] e [vit]. A realização de um morfema se denomina de morfe e quando há mais de uma, já podemos adiantar que constituem alomorfes.”

 

ATENÇÃO!

A alomorfia constitui, portanto, uma diferença de significantes, não de significado: o morfe é outro, o morfema é o mesmo.

  

Assim, o que seria alomorfia?

A palavra alomorfe vem do grego (állos = outro   +  morphé = forma) e indica a realização de um morfema por dois ou mais morfes diferentes. Quer dizer, é a concretização em morfes diferentes de dois segmentos com os mesmos valores significativos.

 

A alomorfia constitui, portanto, uma diferença de significantes, não de significado: o morfe é outro, o morfema é o mesmo.

 

Se você não se lembra do conceito de signo linguístico de Saussure, clique em: http://pt.scribd.com/doc/6498593/Signo-Significante-e-Significado e veja sua composição em significante e significado.

 

Exemplos:

No verbo levas, o morfema –s caracteriza a 2ª pessoa do singular, que também pode ser caracterizado por –ste em levaste ou –es em levares.

 

O segmento / - s /  marca plural,  e / -es / tem a mesma função: casas x mares.

 

Quando ocorre a alomorfia, a forma de mais alta frequência deve ser considerada a forma-base; a outra é uma variante, seu alomorfe.

 

Assim, no imperfeito do indicativo, primeira conjugação, a forma-base é –va-; a variante é –ve- (cantáveis).

 

No futuro do pretérito, -rie- (cantaríeis) é alomorfe de –ria-.

 

 

1º conjunto imperfeito do indicativo:

 

desinência    / va /

 

cantava, cantavas

 

va é a norma

 

ATENÇÃO

 

Nas demais conjugações, a desinência muda e temos: corria, corrias / a / é um alomorfe.

 

partia, partias

 

ALGUNS EXEMPLOS DE ALOMORFIA

 

Alomorfia na raiz. Os morfemas lexicais. / ordem /, / orden-/ /ordin-/ têm a mesma significação em ordem, ordenar e ordinário.

 

Alomorfia no prefixo. O prefixo / in /  passa a / i / em inapto / ilegal.

 

Alomorfia no sufixo. No par bananal / cafezal o sufixo  / al / passa a / zal /  e no par  relator / falador o sufixo  / or /passa a / dor /.

 

Alomorfia na vogal temática. Em pão / pães, a vogal temática /o /transforma-se em/ e /.

 

Alomorfia na desinência de gênero. No par, avô ≠ avó, os traços distintivos / ô / e / ó / podem ser considerados alomorfes das desinências Ø (masculino) e / a / (feminino).

 

Alomorfia na desinência modo-temporal. Em cantáramos / cantáreis, a desinência modo-temporal / ra / passa a/ re /.

 

IMPORTANTE

 

A alomorfia pode ou não ser fonologicamente condicionada:

 

Não condicionada. Implica variações livres que independem de causas fonéticas.  

 

Exemplo:  alternâncias vocálicas em faz, fez, fiz.

 

Condicionada. Aglutinação de fonemas nas partes finais e iniciais de constituintes, acarretando mudança fonética. É uma mudança morfofonêmica = opera entre fonemas e altera o plano mórfico da língua.

 

Exemplo: redução de / in- /  a  / i- / diante de consoante nasal: incapaz, imutável

 

MORFEMA ZERO (ø)

O morfema zero ou morfe zero caracteriza-se pela ausência de segmento fônico que representaria determinada noção.

 

Exemplo: o contraste singular/plural: bar – bares (o morfema –s), em que a ausência do plural, morfema –s, designaria o singular, por inexistência de morfema marcador.

 

Essa oposição entre presença e ausência é importante – ambos são realidades morfêmicas, cada um deles só existe graças à existência do outro. A categoria gramatical de número só existe porque um par opositivo a instaura: singular e plural. Temos, nesse caso, o que se chama de ausência significativa.

 

 

Marca de gênero.

 

A flexão de gênero em português acontece pelo acréscimo do morfema flexional [a] à forma masculina: o feminino é a forma marcada pela presença do morfema / a /. Sua ausência é significativa como característica de masculino – morfema zero para o masculino em português.

 

Exemplos: marca de gênero: mestre / mestra; leitor / leitora; professor / professora; marquês/ marquesa; menino/menina.

 

O morfema s existe tanto no singular quanto no plural:   O lápis    / Os lápis

Marca de número.

Exemplos:  

 

1. Mar – mares.  A ausência da marca de plural / -es / no morfema lexical mar indica singular.

2. Ourives, lápis, pires. O / -s / não é marca de plural: o plural dessas palavras é marcado sintaticamente.

Em muitas formas verbais encontramos o morfema zero em oposição a outros morfemas.

 

Exemplo:

 

(tu)    estud + a + va + s

(ele)  estud + a + va + ø

(ele)  estud + a +  ø  + ø

 

Morfe zero (Ø) para a conjugação verbal

 

 

Segundo Mattoso Câmara (1970), a constituição da forma verbal portuguesa é  T ( R + VT) + D (DMT + DNP), ou seja, o tema é formado pela raiz e pela vogal temática e a esse tema podem ser acrescidas as desinências (desinência modo-temporal e desinência número-pessoal)

 

ATENÇÃO = Nem todas as formas verbais possuem VT.

 

A DMT é Ø para o indicativo no presente, para o pretérito perfeito (até a 2ª pessoa do plural e –ra para a 3ª pessoa do plural.

 

Cant – Ø - o                        Cante – Ø – i                         canta- ra – m

 

A DNP é Ø:

 

1ª pessoa do singular do presente do indicativo (exceto quando aparece –o);

 

3ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo.

 

 

VAMOS REFLETIR

Por que em uma palavra como ‘lápis’, que tem a mesma forma para singular e plural, não se deve considerar a existência de morfema zero na desinência de número?

 

O morfema s existe tanto no singular quanto no plural:

 

O plural desse tipo de palavra não é morfológico, é sintático: será o determinante (artigo, pronome demonstrativo etc.) quem marcará o número.

 

b) Por que substantivos comum de dois gêneros como estudante e dentista não têm morfema zero para desinência de gênero?

 

O feminino em português é marcado pelo morfema [a]. Nesses substantivos, tem-se a mesma forma para os dois gêneros. O gênero desses substantivos não é morfológico, é sintático: sabe-se o gênero pelos morfemas categóricos dos termos a que eles se referem: meu dentista/ bela estudante.

 

Assim, em bela estudante, o feminino é marcado por dois traços: um mórfico e outro sintático.  O traço mórfico é a desinência a e o traço sintático é a presença do determinante esta.

 

A FLEXÃO DE GÊNERO

Ao final de nossa discussão sobre morfema zero, tivemos um breve comentário acerca desse morfema e a flexão de gênero.

 

GÊNERO E SEXO

 

Embora alguns autores falem sobre ‘sexo real ou convencional’ ou ainda sobre ‘sexo real ou fictício’, Monteiro (2002, p. 86) afirma que “O gênero é uma categoria gramatical; o sexo é um conceito biológico.” Esse é o melhor tratamento a ser dado a essa questão já que temos inúmeros substantivos que designam seres assexuados como mesa, roupa, teto, chão.

Vamos, agora, discutir um pouco mais a flexão de gênero em Português.

 

Divirta-se!

Recomendamos a leitura do texto Sexa, de Luiz Fernando Veríssimo

SEXA ???

 

- Pai........

- Hummmmm?

- Como é o feminino de sexo?

- O quê?

- O feminino de sexo.

- Não tem.

- Sexo não tem feminino?

- Não.

- Só tem sexo masculino?

- É.Quer dizer,não.Existem dois sexos.Masculino e Feminino.

- E como é o feminino de sexo?

- Não tem feminino.Sexo é sempre masculino.

- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.

- O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "SEXO" é masculina. O SEXO masculino, o SEXO feminino.

- Não devia ser "A SEXA"?

- Não.

- Por que não?

- Porque não! Desculpe. Porque não. "SEXO" é sempre masculino.

 

 - O sexo da mulher é masculino?

- É. Não! O sexo da mulher é feminino.

- E como é o feminino?

- Sexo mesmo. Igual ao do homem.

- O sexo da mulher é igual ao do homem?

- É. Quer dizer...Olha aqui.Tem o SEXO masculino e o SEXO feminino, certo?

- Certo.

- São duas coisas diferentes.

- Então como é o feminino de sexo?

- É igual ao masculino.

- Mas não são diferentes?

- Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.

- Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.

- A palavra é masculina.

- Não." A palavra" é feminino. Se fosse masculino seria "o pal..."

- Chega! Vai brincar, vai.

O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:

-Temos que ficar de olho nesse guri...

- Por quê?

Ele só pensa em gramática.

(Do Livro: Comédias para se Ler na Escola)

 

  

Vimos que o acréscimo do morfema [a] marca a flexão de gênero. A regra para a composição do feminino estabelece que, morfologicamente, temos o processo de flexão se adicionamos a desinência [a], retirando-se a vogal temática, se ela estiver presente no masculino.

 

Exemplos:

 

Professor + a = professora

Mestre + a= mestrea = mestra

 

Casos de alomorfia na raiz

 

Monteiro (2002, p. 83) comenta que em exemplos como rei/rainha, abade/abadessa, entre outros, temos, além da desinência [a], o acréscimo de um sufixo derivacional para formar o feminino. Segundo o autor, sincronicamente não se percebe, por exemplo, [inh] como um sufixo e, assim, [rainh] e [abadess] seriam alomorfes de [re] e [abad]. O autor acrescenta:

 

 “Por diversas vezes, já comprovamos que mesmo professores e alunos de Letras não têm consciência da presença do sufixo. Por incrível que pareça, até em galinha, poucos destacam o elemento [inha]. E, quando o fazem, percebem que o conteúdo semântico se tornou vazio.”(p.84)

 

Gênero heteronímico

 No entanto, nem todas as palavras são marcadas flexionalmente. Koch e Silva (1989) em  Linguística aplicada ao português: morfologia, afirmam que:

 

 “Em razão da ausência de distinção entre processo flexional e processo lexical, é comum ler-se em gramáticas do português que mulher é feminino de homem, que cabra é o feminino de bode. Trata-se de casos de heteronímia dos radicais, isto é, de vocábulos lexicalmente distintos, que, tradicionalmente, têm sido utilizados para indicar a categoria de gênero.”

 

Algumas classificações tradicionais de gênero

 Além da heteronímia, há outras formas de se expressar o gênero sem o uso do mecanismo flexional. A Gramática Normativa nos apresenta substantivos masculinos e femininos e estabelece que os substantivos também podem ser:

 

Sobrecomuns – nomes de um só gênero gramatical que se aplicam indistintamente a homens e mulheres.

 

Exemplos: o cônjuge, a ferrugem, a criatura, a criança, o indivíduo, a pessoa, o ser, a testemunha, a vítima, entre outros.

 

Eles se enquadram na subcategoria do feminino ou do masculino, uma vez que os determinantes que os acompanham terão que apresentar um ou outro gênero. ‘O cônjuge’, independentemente do sexo do referente, será sempre do gênero masculino; ‘a criança’ será sempre do gênero feminino.

 

 

Comum de dois gêneros – substantivos que têm uma só forma para os dois sexos e necessita de um determinante para distinguir se o referente é masculino e feminino.  Nesse caso, a marcação de gênero é sintática e não morfológica, porque a categoria de gênero será expressa pelo determinante.

 

A marcação de gênero pode ser redundante, já que pode se encontrar tanto pela presença do morfema flexional quanto pela presença do determinantes.

 

Exemplo: o menino, a menina. Temos a presença do artigo (o/a) e do morfema zero e da desinência de gênero.

 

Também pode determinar o gênero somente através de determinantes, ou seja, sintaticamente, como fazemos no par o dentista / a dentista.

 

Dentista – o [a] final dos substantivos comuns de dois gêneros não deve ser considerado desinência de feminino, já que no masculino ele também está presente.

 

Trata-se de um [a] temático que elimina a desinência [a] pelo fenômeno da crase. Assim: dentista +a = dentistaa -> dentista.

 

Comum de dois gêneros – substantivos que têm uma só forma para os dois sexos e necessita de um  determinante para distinguir se o referente é masculino e feminino.  Nesse caso, a marcação de gênero é sintática e não morfológica, porque a categoria de gênero será expressa pelo determinante.

 

Exemplos: o estudante / a estudante; o mártir/ a mártir

O substantivo comum de dois gêneros e a questão do referente

Exemplo: os meninos foram as principais vítimas do acidente.

O gênero feminino de vítimas é indicado pelo determinante as. A ideia de sexo está no lexema meninos.

Testemunha: é sempre gênero feminino, quer se trate de homem ou de mulher. Só se sabe pelo referente.

Exemplo: a testemunha chegou atrasada. Ela usava um lindo vestido preto.

 

Epicenos -  Representam nomes de animais a que são agregadas as formas macho/fêmea para distinção de sexo.

 

Cabe aqui uma crítica. Nesses substantivos, o gênero fica privativamente masculino ou feminino.

 

Koch e Silva (1989, p. 42) afirmam que “Não cabe também falar em uma distinção de gênero expressa pelas palavras macho e fêmea, não só porque o acréscimo não é obrigatório (podemos falar em cobra e tigre sem acrescentar os apostos), mas também porque o gênero não muda com a indicação precisa de sexo (continua-se a ter cobra macho no feminino, como assinala o artigo a e o tigre fêmea no masculino, conforme indica o artigo o.”

 

Epicenos -  Representam nomes de animais a que são agregadas as formas macho/fêmea para distinção de sexo.

 

 

Exemplos: Jacaré macho/ cobra fêmea.

 

Divisão proposta em Monteiro (2002, p. 85)  

 

I. Nomes de gênero único. Não podem ser morficamente considerados masculinos ou femininos porque lhes falta o traço desinencial contrastivo.  A inexistência de oposição na estrutura mórfica é compensada por oposições na estrutura  sintática.

 

Exemplos: abelha ferrugem cônjuge onça pulga mesa indivíduo pessoa soprano personagem ferrugem: a abelha, a onça, a pulga, o cônjuge.

 

Soprano no dicionário é comum de dois gêneros: o soprano / a soprano.

 

ATENÇÃO:

‘Vítima”: O homem foi atropelado por outro homem. Sabe-se que a vítima encontra-se hospitalizada, mas passa bem.” (Gênero feminino / sexo masculino)

 

II. Nomes de dois gêneros sem flexão.

 

Exemplos: aprendiz, colega, personagem, solista: o aprendiz/ a aprendiz; o colega / a colega; o solista / a solista; o personagem / a personagem (AURÉLIO, 1986, 1316).

 

III. Nomes de dois gêneros com flexão redundante.

 

Exemplos: chefe, saco, chinelo, aluno, mestre, pavão, professor: o chefe / a chefa; o aluno / a aluna; o mestre / a mestra; o pavão/ a pavoa; o chinelo / a chinela. (‘Chinela’ veio primeiro: ‘cianela’, italiano)

 

Curiosidades:

Significados de nomes no feminino

Embaixadora e embaixatriz. Embaixadora= representante diplomática Embaixatriz= esposa do embaixador

 

Trabalhadora e trabalhadeira. Trabalhadora = aquela que trabalha como empregada de alguém; trabalhadeira = mulher que gosta de trabalhar, cuidadosa

 

Imperadora e imperatriz. Imperadora = esposa do imperador; imperatriz = aquela que governa

Nomes que mudam de significado quando se muda o gênero

A cabeça (parte do corpo)   x   o cabeça (líder)

A rádio (a estação )             x   o rádio (aparelho)

A capital (cidade)                 x   o capital ( dinheiro)