Morfemas I
Veja as palavras a seguir:
GATA –PATA- MENINA- CACHORRA
O que há de comum entre elas?
Todas terminam com ‘-a’.
O que isso indica em termos morfológicos?
Morfologicamente, esse ‘-a’ é uma das partes que compõem essas palavras e indica que elas estão no feminino.
Por que percebemos a flexão nessas palavras?
Porque somos capazes de opor gato x gata; pata x pato; menina x menino.
Em princípio, todo morfema se compõe de um ou vários fonemas, e destes difere, fundamentalmente, pelo fato de apresentarem significado (GLEASON JUNIOR, 1978). Como é fácil perceber, isoladamente os fonemas nada significam. Se pronunciamos /p/ ou /t/, ninguém associa ao som emitido nenhuma ideia. Mas, de modo oposto, em geral, só existe o morfema quando a unidade mínima apresenta um significado.
Se sabemos que as palavras são formadas por várias partes, como fazemos para depreender essas partes?
Temos de decompor a palavra em morfemas, ou seja, em suas menores unidades significativas.
Já sabemos que uma palavra pode ser entendida como equivalente a um
vocábulo – autônoma e constituída de morfemas. Vamos conhecer a visão
tradicional desses morfemas?
Mas...quais são os morfemas da nossa língua?
Numa visão tradicional, presente na maioria das gramáticas normativas e pedagógicas, temos:
1) RAIZ/RADICAL: é o morfema que contem a ideia da palavra, ou seja, a base para o significado da palavra e também está associada à origem dos vocábulos.
casa – casebre – casinha – acasalado - casulo
ATENÇÃO! Também nos nomes pode aparecer a vogal temática, como em:
Flor + E + s
A vogal temática E liga o radical flor- à desinência de número –s.
À junção do RADICAL com a VOGAL TEMÁTICA, denominamos TEMA.
escrev + e = TEMA
pern + a = TEMA
A prosposta de Carone (2005)
Comutação: Segundo Carone (1995), quando realizamos o processo de comutação alteramos um elemento no plano da expressão e isso gera uma alteração no plano do conteúdo. Veja os exemplos fornecidos pela autora na página 28:
Am a va Ø indicativo pretérito imperfeito
ra indicativo pretérito mais-que-perfeito
rá indicativo futuro do presente
ria indicativo futuro do pretérito
sse subjuntivo futuro
Segmentação. Quando realizamos a operação de comutação acabamos por descobrir quais são os morfemas que constituem um vocábulo.
Exemplo. A forma verbal ‘amava’ é formada por am + a + va.
Como se comportam os morfemas?
Formas livres. São morfemas que podem aparecer sozinhos em um enunciado.
Exemplo. _ Quem chegou mais cedo?
_ Ele.
Formas presas. São morfemas que não aparecem isoladamente como, por exemplo, os sufixos, as desinências etc.
Exemplo. Caseiro.
MORFES e MORFEMAS
Monteiro (2002:14)
O morfe é a concretização de um morfema, ou seja, uma sequência fonêmica mínima a que se pode atribuir um significado.
morfema :: fonema
morfe :: fone
Há autores que vão além da classificação morfema gramatical X morfema lexical. Vejamos:
a) Morfema derivacional. São aqueles que possibilitam a criação de novas palavras. São exemplos de morfemas derivacionais os prefixos, os infixos e os sufixos.
Exemplos. Cas [inha]; cas [eiro].
b) Morfema categórico. São morfemas flexionais, ou seja, são as desinências nominais e verbais, representando, assim, morfemas gramaticais. A função dos morfemas categóricos é indicar as flexões que as formas assumem.
Exemplos. Casa[s] ; menin[a].
c) Morfema relacional. Esses morfemas não são formas presas como o morfema categórico e o morfema derivacional. A função desse tipo de morfema é ligar vocábulos e são exemplos de morfemas relacionais as preposições, as conjunções, os artigos e os pronomes relativos.
Exemplos. Café com leite; vinho de Portugal.
d) Morfema classificatório. As vogais temáticas representam os morfemas classificatórios e são assim chamadas porque definem a estrutura dos vocábulos em nomes e verbos.
Exemplos. Camis [a]; cant + [a] + [va]
TIPOS DE MORFES
a) Morfes alternantes. Temos morfes alternantes quando o morfema se realiza mediante a permuta entre dois fones: é um caso de alternância morfofonológica. Essa alternância não é foneticamente condicionada como em incondicional / irreal (o prefixo [in] passa a [i] quando a consoante inicial é líquida)
Alternância vocálica
Ex. Pude ¹ pôde fiz ¹ fez pus ¹ pôs
(Bechara:2000, 350)
Há 3 grupos de alternância do timbre da vogal tônica com função de indicações gramaticais:
a) ½ê½ ½é½; ½ô½ ½ó½ ; esse / essa novo / novos ovo / ovos
Nos verbos da 2ª. Conjugação marca, no pres. do indicativo, a oposição entre a 1ª. pessoa e as outras rizotônicas:
devo / deves, deve, devem
b)½ê½½i½; ½ô½½u½ : este, esse / isso aquele/aquilo todo / tudo
c) ½i½½ê½; ½u½½ô½; ½i½½é½; ½u ½½ó½
Em verbos da 3ª conjugação, o morfe alternante marca, no presente do indicativo, a oposição entre a 1ª pessoa e as outras rizotônicas: minto / mentes; sinto / sentes; sumo / somes; firo /feres; durmo / dormes
Exemplos de alternância consonantal.
Trag - o ¹ traz – es [dig ] – o ¹ [diz] – es.
Alternância acentual. Nesse caso, temos um morfema supra-segmental., ou seja, temos a variação de intensidade e altura com significado gramatical. Em português, só a intensidade tem valor gramatical, ainda que a variação de altura traga significado e possibilite a distinção entre asserção e interrogação (Ele já viajou. /Ele já viajou?).
Outros exemplos: Exército x exercito retífica x retifica história x historia
b) Morfe cumulativo. É um morfe que expressa mais de um significado (não há correspondência ideal entre morfe e morfema).
Ex. [mos] em viajamos – desinência número-pessoal ( 1a. pessoa/ plural)
c) Morfe redundante. Ocorre quando mais de um traço opõe duas formas.
Exemplos.
Na flexão de número. temos avô/ avós (abertura da vogal + morfema [s] como marcas de plural).
d) Morfe homônimo. Ocorre quando um único morfe corresponde a morfemas distintos.
Ex. [s]
A[s] casa[s] – marca plural
(tu) ama [ s] – desinência número pessoal