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O Mau Exemplo de Cameron Post: de Desiree Akhavan
O Mau Exemplo de Cameron Post: de Desiree Akhavan

FILME SOBRE “CURA GAY” SEM MANIQUEÍSMO

 

Produção em cartaz, O MAU EXEMPLO DE CAMERON POST traz jovem mandada a centro religioso por sua sexualidade

 

Filme: O MAU EXEMPLO DE CAMERON POST de Desiree Akhavan – Drama, EUA, 2018, 91 minutos, 16 anos.

 

Dois meses atrás, BOY ERASED, filme crítico sobre a chamada “cura gay”, passou reto pelos cinemas brasileiros e foi direto para o DVD, apesar de seu elenco hollywoodiano e indicação ao Globo de Ouro. Razões comerciais, segundo a sua distribuidora. Por ironia, outro longa com a mesma abordagem sobre o assunto, mas sem nomes estrelados, O MAU EXEMPLO DE CAMERON POST, estreou até em shopping centers.

 

A cineasta Desiree Akhavan se surpreende ao saber:

- Tivemos que lutar muito para que o nosso filme estreasse nos cinemas aqui nos Estados Unidos, enquanto BOY ERASED teve um lançamento grande.

 

Ambas as produções partem de livros. Em BOY ERASED: A VERDADE SUFOCADA, o americano Garrard Conley narra as memórias de quando foi levado pelo pai, um pastor batista, a um desses locais que se propõem a reorientar gays. CAMERON POST é o romance juvenil escrito por Emily M. Danforth, inspirado em uma experiência do mesmo tipo, só que com uma adolescente lésbica. Ambos os filmes abordam a inspiração religiosa que guia esses centros, evocam suas normas peculiares, como a revista de pertences para proibir a entrada de itens profanos, e a inadequação dos protagonistas diante das arbitrariedades de seus líderes.

 

Enveredam, assim, por um quase gênero: o filme de internação. São praticamente versões LGBT teens de UM ESTRANHO NO NINHO. Mas as semelhanças terminam aí.

 

BOY ERASED está mais para uma (malsucedida) tentativa de fazer bom-mocismo com pautas identitárias e chamar a atenção ao escalar atores coo Nicole Kidman e Russel Crowe. Vem também de um diretor com pouca ligação com a causa.

 

DIRETORA EM BUSCA DE HUMANIDADE

 

Já O MAU EXEMPLO E CAMERON POST faz jus ao pedigree indie, que lhe rendeu prêmio em Sundance, com produção mais modesta, mais sutileza e menos atores famosos. Sua diretora é um nome conhecido em produções que resvalam na temática queer. O filme também deixa de lado o maniqueísmo de BOY ERASED e opta por não tratar religiosos como vilões ou frequentadores dos centros como incautos vítimas de lavagem cerebral.

- Não queria transformá-los numa piada – explica Desiree. – A esquerda liberal não gosta muito da ideia, mas eu queria falar da humanidade que existe até nos que defendem essas terapias.

 

Chloë Grace Noretz (DEIXE-ME ENTRAR) interpreta a personagem-título, órfã flagrada pelo namorado aos beijos com outra menina. A tia a obriga a frequentar o Promessa de Deus, programa mantido por psicólogos evangélicos em algum lugar não especificado dos rincões americanos. Ali, Cameron ouve que o desejo homossexual é a ponta do iceberg de uma série de questões que só a religião irá sanar. O ano é 1993. sem internet para conhecer histórias de outras lésbicas, a sensação de inadequação e solidão da garota é maior. E naquele centro, contudo, que encontrará mais gente como ela.

 

 

 

 

Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno/Guilherme Genestreti/Folhapress em 29/04/2019