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3 Faces: Um Filme do Iraniano Jafar Panahi
3 Faces: Um Filme do Iraniano Jafar Panahi

JAFAR PANAHI DISCUTE RELAÇÃO ENTRE CINEMA E VIDA

 

Filme: 3 FACES de Jafar Panahi – Drama, Irã, 2018, 100 minutos, 14 anos.

 

Tradicionais na cultura persa, as chamadas narrativas embutidas são convocadas pelo iraniano Jafar Panahi em 3 FACES, que estreou em 2018 no Festival de Cannes e está agora nos cinemas brasileiros. As primeiras imagens têm o formato vertical dos vídeos feitos com smartphones. Aceita no conservatório de Teerã, mas impedida pela família de concretizar seu sonho, a adolescente Marziyeh (Marziyeh Rezael) filma seu suicídio.

 

O longa plano-sequência é enviado como apelo a Behnaz Jafari. A conhecida atriz iraniana, que interpreta seu próprio papel, viaja ao lado do diretor Jafar Panahi. Ele, que continua filmando, apesar da interdição das autoridades de seu país, também faz no longa o papel de si mesmo.

 

De carro, a dupla ruma ao vilarejo para entender o que ocorreu. Seria o vídeo verídico? Quem teria ajudado a menina a fazê-lo? Cada encontro ramifica o enredo principal, levando a novas histórias. Sua maneira precisa de encadear um episódio no outro é tributo a Abbas Kiarostami, morto em 2016, de quem Panahi foi assistente.

 

Por um lado, a temática do suicídio remete a GOSTO DE CEREJA (1997). Por outro, a procura pela garota em cenas rodadas no carro lembra boa parte do cinema de Kiarostami desde ONDE FICA A CASA DO MEU AMIGO? (1987).

 

Mas, para além das referências pontuais, Panahi faz, com 3 FACES, um elogio à arte de entremear ficção e realidade, arte e vida, tão marcante no cinema iraniano – e que tem na figura de Kiarostami seu maior expoente. 3 FACES tem fundo fortemente feminista, como se vê na luta de Marziyeh para ir estudar em Teerã, e a presença dos ilustres forasteiros no pedaço conduz a uma complexa reflexão sobre as ambíguas relações entre o cinema (e a televisão) e os costumes tradicionais no Irã de hoje.

 

Uma das ramificações do filme conduz à casa de Shahrzad, atriz do período pré-revolucionário que vive retirada e dedica-se à pintura, vítima do machismo e do preconceito. Difícil afirmar com certeza quais são as três faces a que o título remete. Se as duas primeiras pertencem à atriz de sucesso e à aspirante, a terceira pode tanto ser a do diretor quanto a da mulher aposentada. Nesse sentido, o filme é também sobre a face que fica à sombra, sobre os segredos que não são ditos, sobre o mistério que permanece oculto por décadas, mesmo na era das mensagens instantâneas e da exposição excessiva.

 

 

 

Fonte: Zero Hora/Segundo caderno/Lúcia Monteiro/Folhapress em 29/04/2019