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Óbidos, a Cidade dos Livros por L. F. Verissimo
Óbidos, a Cidade dos Livros por L. F. Verissimo

     

                                                                                                                                                       Estalagem do Convento

LIVROS, LIVROS

 

Dizem que Buenos Aires tem mais livrarias do que o Brasil inteiro.  Não sei se a estatística é correta, mas, se for, a capital argentina ainda perde para Óbidos, em Portugal, que tem 70 habitantes fixos e 12 livrarias.  (O Google desmente a informação orgulhosa que me deram lá e diz que são 2 mil habitantes fixos, o que não diminui o espanto e a inveja com a proporção população/livrarias da cidade).  As poucas ruas de casas brancas de Óbidos descem de um castelo medieval e de uma igreja antiga – que não é mais igreja, é livraria – situados na parte mais alta.

 

A cidade normalmente se enche de turistas todos os dias, mas estava excepcionalmente cheia para o seu primeiro Festival Literário Internacional, do qual participei, há um mês, junto com outros brasileiros, como Ruy Castro, Nelson Motta, Gregório Duvivier, Francisco Bosco, João Paulo Cuenca e Sérgio Rodrigues, e portugueses (ou afroportugueses), como os grandes Mia Couto e José Eduardo Agualusa, este o curador da parte literária e um dos idealizadores do encontro.  Também houve música, com artistas como Miúcha e Georgiana de Moraes e o grupo do Moreno Veloso, para ficar só nos brasileiros, e um show fantástico da portuguesa Cristina Branco cantando Chico Buarque com o trio do pianista Mário Laginha.  Minha participação foi junto com Ricardo Araujo Pereira, jovem cômico popularíssimo em Portugal que começa a conquistar o Brasil.

  

Nosso hotel ficava fora da muralha que cerca a cidade.  Era um antigo convento, e seu interior fora totalmente redecorado com livros.  Livros por toda a parte.  Livros do chão até o teto.  Livros e mais livros.  Lembrando daqueles livros agora, depois do acontecido em Paris, e do que ainda pode acontecer em qualquer lugar deste insensato mundo, pensei:  os livros de Óbidos também pareciam uma muralha.  Mas não nos protegiam da loucura.

 

Fonte:  ZeroHora/L.F.Veríssimo (verissimo@zerohora.com.br) em 22/11/2015