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Homossexualidade
Homossexualidade

Khnumhotep e Niankhkhnum; acredita-se que eles representem o primeiro registro de uma união homossexual da história (ca. 2400 a.C.).

 

QUEM CONTA UM CONTO...CONTA A CINCO MÃOS 

HOMOSSEXUALIDADE

Essa semana, na estreia da nova novela do horário nobre de conhecida emissora de TV, um fato gerou discussões e chamou a atenção de muitas pessoas:  Um beijo entre duas mulheres. A novela mostra o relacionamento homo afetivo de duas mulheres já idosas, papéis exercidos pelas grandes atrizes: Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg.

 

Hoje, queremos falar sobre a homossexualidade.

Homossexualidade é a condição em que a orientação sexual da pessoa é voltada a sentir afeto e desejo sexual por pessoas do mesmo sexo. Esta existe desde que o homem está sobre a face da Terra. É uma variante natural da sexualidade, pois está presente não apenas no gênero humano, mas também na grande maioria das espécies animais, como já comprova a Ciência.

 

Com relação a ser considerada normal isso já é outra coisa, a palavra normal, vem de norma, regra. As normas e regras são criadas pela sociedade, pela cultura de um povo. A prática homossexual era considerada normal na Antiguidade, no Japão dos samurais, na Índia, na Grécia, nas civilizações indígenas brasileiras e muitas outras, até mesmo na atualidade, entendem o homossexual e o transexual como indivíduos normais.

 

A visão de pecado da prática homossexual é de origem judaica e se estendeu pelo mundo com a cultura judaico-cristã. A homossexualidade passou a ser vista como pecado e punida com a castração e até mesmo com a morte. Surge daí o preconceito contra essa forma de manifestação da sexualidade.

 

Leis, religiões, culturas, pré-determinam que deveria ser “normal” apenas o relacionamento entre um homem e uma mulher... Porém, se somos donos, possuidores de nossos corpos, de nossa liberdade e é um instinto biológico, porque a atração sexual é um ato biológico, não adianta querer ou não querer. Não podemos escolher por quem vamos nos apaixonar, nos sentir atraídos. É preciso então viver e deixar viver.

 

Até onde vai o nosso preconceito? O Brasil, infelizmente, encontra-se no primeiro lugar no ranking da homofobia. Segundo pesquisas, o Brasil ocupa o vergonhoso 1º lugar no ranking mundial da violência contra homossexuais, sendo seis vezes mais violento que o 2º e 3º lugares, México e Estados Unidos, respectivamente. (Homofobia e Direitos Humanos: www.ggb.org.br). Em nosso país, um gay, uma lésbica ou um transexual é barbaramente assassinado a cada dois dias, vítimas da homofobia. Perguntamos: Por que o comportamento homossexual incomoda tanto àqueles que se dizem heterossexuais? Diz a Psicologia que aquilo que nos incomoda no outro, trazemos dentro de nós, de forma secreta e até mesmo inconsciente.

 

A homofobia leva à criação de mitos injustificáveis, tais como: Todo homossexual é promíscuo, tarado, pedófilo, destruidor de lares, etc. Obviamente que todos esses mitos são injustificáveis. Não é a orientação sexual de um indivíduo que lhe define o caráter. Da mesma forma que existe o Heterossexual honesto e o viciado, assim acontece com o homossexual.

 

Por muito tempo a homossexualidade foi vista como doença pela Ciência e terríveis tratamentos eram impostos, com o objetivo de se encontrar a “cura gay”: Choques elétricos, injeções com doses cavalares de hormônios, hipnose, lobotomia, banhos gelados. E tudo sem resultado...

 

O preconceito contra o homossexual é tão grande, que começa por ele mesmo, pela não aceitação da sua condição. O índice de suicídio entre os homossexuais é muito alto.

 

O beijo é uma das mais queridas manifestações de amor e afeto entre pessoas. Mas, por que é visto como algo pecaminoso, se esse beijo for trocado por pessoas de mesmo sexo, que mantêm uma relação homo afetiva, tal como ocorreu na cena da novela, diante de milhares de telespectadores? Se for uma demonstração de carinho, por que deve ser escondido?

 

Declarar-se sem preconceitos contra a homossexualidade é muito fácil. Pregar indignação perante as atitudes alheias preconceituosas também é bonito. Mas, quando a realidade se apresenta dentro da sua casa? Como aceitar o fato quando ocorre dentro do seu lar, sua família, um irmão, irmã, filho, filha, pai, mãe, sobrinho, cônjuge? Que postura teríamos? Respeitar fora de casa é uma coisa, ter de compreender, conviver com o fato em nosso ninho, mudaria a nossa atitude?

 

A TV, o cinema, os livros, fazem parecer tudo muito fácil, bonito e glamoroso, mas a realidade não se mostra da mesma maneira. Há sempre um choque, um conflito, há uma rejeição natural do ser humano àquilo que não nos parece ser normal. E isso é ainda por conta do preconceito que temos arraigado em nós. Há uma dificuldade em acolher o diferente.

 

A angústia maior, para muitas famílias, talvez esteja no fato de saber que a sociedade, por mais que pregue o contrário, é também hipócrita e discrimina sem piedade. Isso é doloroso e machuca muito.

 

Se temos alguém querido que se revele homossexual: um filho, filha, pai, mãe, irmão, etc. Não devemos e nem podemos desprezá-lo. Ele continua sendo nosso ente querido, nada muda. Muitos pais expulsam seus filhos de casa por conta do preconceito. Muitos filhos somem da vida de seus pais porque não são aceitos pela sua sexualidade. Onde fica o amor em tudo isso? Como podemos desprezar um ente querido por conta de algo tão particular em sua vida? Muitos pais tentam “curar” os seus filhos por vergonha, por medo do sofrimento que terão de enfrentar na sociedade, mas isso não leva a nenhum resultado, apenas faz aumentar o sofrimento daquele que já sofre por sentir-se diferente. O que podemos e devemos fazer é aceitar o homossexual, e nos aceitar se somos homossexuais. E, na condição de pais, orientar o jovem, seja ele homo ou heterossexual, a ter respeito e responsabilidade diante da prática do sexo.

 

Se orientação sexual fosse opção, ninguém optaria por ter um gosto que o expusesse ao preconceito social. Para muitos homossexuais a aceitação dessa realidade é extremamente sofrida, conflituosa e negada por muito tempo. Ninguém tem o direito de julgar o outro por conta da sua orientação sexual.  Ninguém deixa de ser pior, ou melhor, por conta da sua orientação sexual. Aliás, classificar as pessoas por conta das suas preferências sexuais já é um preconceito. Termos como heterossexual, homossexual, bissexual, transexual, gay, lésbica, travesti, não deveriam ser aceitos para marcar as pessoas. Pessoas são pessoas, nada mais, e a orientação sexual é fato que só diz respeito a cada um.

 

Respeitar as diferenças é obrigação moral de cada um. Todo tipo de preconceito é abominável, quem dera que o mundinho preconceituoso de alguns ignorantes pudesse se abrir à luz da verdade única do amor universal...

 

O coração não conhece fronteiras, nem distâncias. O amor ignora o gênero sexual, é apenas amor. Que importa se esse amor nasce entre pessoas de sexo diferente, ou do mesmo sexo! Será que se for entre pessoas do mesmo sexo será menos importante? Menos amor? Menos gratificante? O afeto, o carinho, a cumplicidade da alma, do coração é vergonhoso, pecaminoso, só porque foge aos padrões da dita “normalidade”? Dois seres humanos são piores ou melhores apenas por escolherem como objeto de seu afeto uma pessoa do mesmo sexo? Isso não muda nada.  Isso não faz ninguém ser menor, porque o amor engrandece as pessoas. O amor verdadeiro faz o ser crescer espiritualmente. Não importa a forma como se apresente.

 

Como é possível que um beijo, que é sinal de ternura, só pelo fato de ter sido dado por duas mulheres, na cena da novela, ter chocado mais, algumas pessoas, do que a cena em que um filho mata o próprio pai, movido pela ganância do dinheiro e do poder? Que mundo é esse em que vivemos?

 

Relacionamento amoroso entre pessoas do mesmo sexo. Não se trata apenas de sensualidade, é mais profundo, falamos de amor. Duas mulheres apaixonadas ou dois homens apaixonados um pelo outro... É amor... É romântico, envolve o corpo e a alma.

 

É importante que aprendamos a desenvolver em nós o sentimento de alteridade e que compreendamos que, cada pessoa tem o direito de assumir a sua sexualidade de forma livre, que o respeito às diferenças deve ser considerado e que o importante na vida é que as pessoas tenham o pleno direito de amar e serem amados, não importa a forma, a cor, o jeito desse amor.

(Texto a cinco mãos pelas escritoras: Cristiane Vilarinho, Maria Luíza Faria, Nell Morato, Suely Sette e Vólia Loureiro)