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Entrevista com Bruna Lombardi
Entrevista com Bruna Lombardi

ESTREVISTA COM BRUNA LOMBARDI

 

POR MENOS ‘JEITINHO’ E MAIS ORGANIZAÇÃO.

 

Atriz, escritora e roteirista, Bruna Lombardi, 63 anos, se define como “uma pessoa múltipla”.  Atualmente, ela mantém uma fanpage no Facebook com mais de 2 milhões de assinaturas.  Lançou neste ano o filme Amor em Sampa, dirigido pelo marido Carlos Alberto Riccelli e pelo filho Kim Riccelli.  O longa, com roteiro assinado por ela, retrata cinco histórias de amor e de sonhos que se entrelaçam.

 

Na semana passada, a artista esteve em Porto Alegre para realizar uma sessão de autógrafos do livro Jogo da Felicidade.  A publicação é uma espécie de oráculo, que conta em 21 capítulos o processo sobre a busca e a realização de desejos pessoais.  E também mediou um painel sobre cinema no 9º Fórum Instituto Unimed/RS Desafios Culturais e Éticos em Tempos de Crise.  No mês passado, a atriz recusou o convite do presidente interino Michel Temer para assumir a pasta da Secretaria Nacional da Cultura, órgão criado por ele (e já desfeito devido aos protestos) que visava a fusão do Ministério da Cultura e da Educação.  Em conversa com o Jornal do Comércio, a musa do poeta gaúcho Mario Quintana falou de seus projetos, de política e sobre o papel da cultura em momentos de crise.

 

Você produziu trabalhos neste ano, que de alguma maneira, falam da felicidade, como a publicação do livro JOGO DA FELICIDADE e o lançamento do filme AMOR EM SAMPA.  Quanto mais crise, mais é preciso ter esperança?

Vejo pela minha página no Facebook, muitas pessoas falam:  “O que você faz me ajuda a viver”.   Esse tipo de retorno constante tem sido uma coisa muito estimulante.  No momento de crise é quando as pessoas mais precisam lembrar de escolher a felicidade como amiga.  Sempre no que faço tem essa busca.

 

Qual o papel da cultura nesse momento do País?

Ela acaba refletindo o momento político.  Por mais que a gente acredite que temos uma cultura forte, a visão maior disso é que temos uma cultura extraordinariamente enfraquecida há muito tempo, é uma cultura que mal se segura nas pernas.  Na verdade, temos grandes guerreiros e combatentes da cultura tentando levar para frente um carro com a força das mãos.  Para a cultura existir, tem que ser um segmento sustentável, ela tem que poder, inclusive, se reorganizar.  Por que grande parte da cultura é produzida no Rio de Janeiro? Por que não temos o intercâmbio cultural dentro do Brasil?  Por que não existem polos de produção cultural em todos os estados fortes?  É uma macrovisão da cultura que estamos precisando hoje, precisamos compreender a posição que o Estado, o público e os artistas ocupam e fazer esse desenho maior com uma verdadeira gestão.  É isso que está faltando.

 

E qual é a posição do artista?

O artista no Brasil acaba sendo uma pessoa que faz tudo, nós não temos justamente uma indústria.  O artista – que deveria ser só o criador – acaba fazendo a gestão do seu trabalho tendo uma série de questões paralelas para que ele possa sobreviver, pois não foi criada uma economia sustentável.  O Brasil hoje precisa de uma administração, temos um País que vem sendo por muito tempo mal pensado.  Não é esse governo, nem os governos anteriores, são séculos de uma coisa que vai sendo feita na base do “jeitinho” e não na base de uma estrutura, de um pensamento.  Cada um dos segmentos dos bens de produção e mercado tem a sua própria força.  O cinema, por exemplo, sofre uma avalanche de outros filmes de fora do Brasil.  Obviamente, temos um cinema incipiente, não tem como não ser.  A distorção começa na raiz do pensamento.

 

Como você avalia o cinema brasileiro contemporâneo?

O cinema teve uma grande retomada e ele achou vários caminhos, mas o que está faltando ainda é exatamente o caminho que fortalece as indústrias regionais.  Isso não é só no cinema, nas artes em geral.  Não é possível que tudo tenha que migrar para um só ponto.

 

Para você, qual o lugar que as mulheres ocupam nessa indústria do fazer cinematográfico?  Ainda é difícil esse empoderamento feminino?

Não é dentro do cinema só, tem uma discussão enorme do papel da mulher em todas as áreas, em todos os setores.  Estamos vendo discussões que parece que andamos para rente e depois para trás, como o debate recente se estupro é causado pela vítima.  São discussões infames, tudo isso vem de uma ausência de uma sociedade preocupada em cuidar dos seus filhos, de um pensamento maior no dia a dia.  A mulher não é um fator isolado, é um deles, assim como a questão ambiental, social etc.  O funil de tudo é a educação.  Temos um País que deliberadamente não educou sua população há muitos séculos e estamos colhendo o fruto dessa semente distorcida que plantamos.  O Brasil acreditou que não educando seus filhos poderia ter maior domínio, agora vai ter que emancipar isso, vai levar tempo para chegar em um ponto de equilíbrio.

 

E, por fim, como é trabalhar em família?  Quais os próximos projetos?

Criamos uma dinâmica que funciona legal.  Trabalhar em família é um sonho, você pode trabalhar com as pessoas que você ama.  Claro que tem a sua dificuldade, a proximidade, você trabalha o tempo todo, tem essa coisa que invade muito a tua vida.  Por outro lado, criamos esse universo gostoso de realizar, produzir e criar juntos, mesmo que briguemos, temos a mesma maneira delicada de olhar o mundo.  Temos referências parecidas, gostamos das mesmas coisas, isso ajuda.  O próximo trabalho é uma série que iremos fazer para a televisão, eu vou atuar e escrever o roteiro, mas não posso revelar mais do que isso.

 

Fonte:  Jornal do Comércio/Caderno Viver/Michele Rolim em 12 de junho de 2016.