Translate this Page




ONLINE
23





Partilhe esta Página

                                            

            

 

 


Poesia Gaúcha em Quatro Novos Livros
Poesia Gaúcha em Quatro Novos Livros

ISSO É HORA?

 

Os poetas, esses desgraçados, não desistem. E talvez nem saibam como é bom que insistam, que não larguem esse ofício primitivo de por e repor as palavras umas ao lado de outras, em combinações novas. A política gastando as palavras desse modo abominável, Trump com a pós-verdade, Temer com os pronomes oblíquos em posição de sentido, Sartori calando quando devia dizer – e os poetas mandando bala, a inofensiva mas essencial bala da invenção.

 

Estamos falando de um balde, quatro novos livros de poesia lançados agora mesmo, pela editora Artes & Ecos. Tem o Lucas Krüger, em HOMENAGEM À NUVEM, que faz esta cena aqui, intitulada “Avó a bergamotear”: “Minha avós terminou de almoçar / Deu comida aos cachorros / Foi colher o fruto da tarde / Pra depois devanear / Está solita na cadeira azul / Sentindo a nuvem passar / Seu pensamento me encontrou / Num desejo de abraçar”.

 

Em lugar dessa linda cena amorosa de vó e neto, entra uma confissão de amor entranhado, na poesia de Cristian Verardi, com o livro O DIABO BELISCA MEUS CALCANHARES, como neste “Alien”, breve e dolorido: “Tua ausência / é um estranho animal / que me devora por dentro”. Rápido e cruel.

 

Entram em cena dois veteranos, na mesma leva de novos livros. Celso Gutfreind oferece TESOURO SECUNDÁRIO, um conjunto cheio de lógica interna, um livro para ser lido meio que como narrativa, estruturado em capítulos a remontar uma história de formação. Isolo um poema, aliás a segunda parte de um, o POEMA PARA NARRAR, que descreve e ensina: “Eles respiram / por aparelhos. / Nós, por histórias. / Elas inspiram / nossos cuidados, / o que se espera / dessa procura./ Não tem remédio, / contar é a cura”.

 

E o calejado Ricardo Silvestrin lança PRÊT-À-PORTER – HAICAIS PARA AS QUATRO ESTAÇÕES. Num percurso cheio de insights e revelações, como convém aos haicais, a gente vai passeando pelo ano todo. Em homenagem à chuva atual, misturada com um frio que não se firmou direito ainda, ouça este aqui: “o clima não se decide / lá vou eu / o homem cabide”.

 

Fonte: ZeroHora/Luis Augusto Fischer (fischerl@uol.com.br) em 06/06/2017.