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Entrevista com Thalita Rebouças
Entrevista com Thalita Rebouças

“TUDO QUE TENHO HOJE DEVO AOS ADOLESCENTES": THALITA REBOUÇAS FALA SOBRE RECOMEÇOS, AMIZADE FEMININA E ESTREIA NOS EUA 

Em entrevista a Donna, a escritora fala sobre sua relação com Porto Alegre, onde participa neste sábado de uma sessão de autógrafos de seu mais recente livro, “Diário de Uma Garota Esquisita” 

 

Se você nunca leu um livro de Thalita Rebouças, provavelmente conhece alguém que já leu: uma amiga, prima, colega de trabalho ou até mesmo sua filha ou filho. Autora de mais de 20 títulos e conhecida por sua forte conexão com o público infantojuvenil, a carioca de 50 anos se reinventa mais uma vez e volta o seu olhar para os dilemas da pré-adolescência com Diário de Uma Garota Esquisita (HarperKids, selo infantil da HarperCollins Brasil).

 

Na obra, conhecemos Carol, uma menina de 13 anos que se sente invisível e excluída tanto na escola quanto em casa, e encontra em seu diário um espaço seguro e sua válvula de escape por meio da escrita.

— Estou voltando para o público que me abraçou lá atrás. Mães de meninas disléxicas, que nunca tinham lido um livro sozinhas, me escrevem para dizer que elas estão lendo. Meninas me falam: “Nunca achei que fosse conseguir ler um livro sozinha”. Foi o que aconteceu 25 anos atrás com Fala Sério, Mãe! e Tudo Por Um Popstar. Então fico muito feliz de saber que não perdi a mão. Tem me dado um retorno absurdo.

 

E o retorno tem sido grande mesmo. Depois de ter suas obras publicadas em países como França, Itália, Alemanha e Espanha, Thalita estreia agora no mercado estadunidense com Diário de uma Garota Esquisita, traduzido para o inglês. A história também está sendo adaptada para uma série pela Spiritus Entertainment, produtora cofundada pela atriz e produtora brasileira Suzana Pires em parceria com o executivo Kevin J. Gessay.

— Isso, para mim, é muito emblemático. No ano em que completo 25 anos de carreira, tenho meu primeiro livro lançado nos Estados Unidos e que está virando uma série produzida em Los Angeles. Estou muito feliz e orgulhosa do feito desse livro.

 

Dentro desse período de comemorações, Thalita desembarca em Porto Alegre neste sábado (4) para uma sessão de autógrafos de Diário de Uma Garota Esquisita na Livraria Leitura, no BarraShoppingSul (Av. Diário de Notícias, 300, Cristal), a partir das 16h. A capital gaúcha já ocupa espaço especial em sua vida há pelo menos cinco anos, desde que iniciou um relacionamento com o escritor e psicólogo Renato Caminha.

— Eu estou casada há quase cinco anos com o Renato, já me sinto muito gaúcha. Sei que falo “gaúches” muito perfeito, fiz grandes amigos aí. Acho uma cidade gostosa de estar. Adoro churrasco, mas não que nem vocês (risos), que acham normal comer churrasco de noite. Acho isso uma loucura.

 

Além de compartilhar a vida, Thalita e Renato também dividiram as páginas de Falando Sério Sobre a Adolescência (L&PM Editores, 2024), livro de não ficção que orienta pais na transição dos filhos da infância para a adolescência. Mostrando uma faceta ao dialogar com o público adulto, assim como o fez em Felicidade Inegociável e Outras Rimas (HarperCollins, 2024). 

 

Na obra, Thalita resolveu se conectar com as mulheres maduras reunindo mais de 60 textos, entre prosa e poesia, abordando temas como autoestima, envelhecimento, menopausa, separação e a decisão de não ter filhos.

— Esse livro me surpreendeu pela quantidade de mulheres que deixam ele na mesinha de cabeceira para ler, quase como se fosse Minutos de Sabedoria. Essa é a frase que mais ouço: "Eu precisava ler aquilo, você disse exatamente o que eu precisava". Só que agora vem das mães das meninas que cresceram e leram. Isso me deixa muito surpresa.

 

Quero ajudar as mulheres a se sentirem empoderadas, quero mostrar que está tudo bem estar sozinha, que está tudo bem não equilibrar os 200 pratinhos que a gente acha que tem que equilibrar. Por Thalita Rebouças/Escritora, jornalista, roteirista, compositora e atriz

Um pouco desse conteúdo voltado ao público feminino também poderá ser visto em outra produção que Thalita está desenvolvendo para o streaming – assim como várias obras suas já adaptadas para séries e filmes. 

 

Juntas e Separadas retrata a vida de mulheres com mais de 40 anos e tem início com o fim do casamento de uma das quatro protagonistas. No elenco estão Sheron Menezzes, Débora Lamm, Luciana Paes e Natália Lage, que começam em outubro as gravações dos 10 episódios previstos para o Globoplay.

 

Em entrevista a Donna, Thalita Rebouças fala mais sobre seus novos projetos, além de refletir sobre a carreira, o público infantojuvenil e a sua estreia profissional nos Estados Unidos.

 

Neste ano você comemora 25 anos de carreira. Como você avalia essa data?  

São 25 anos de carreira com 50 anos. É muito bom olhar para trás e me orgulhar da menina de 25 anos que subiu numa cadeira numa Bienal do Livro quando ninguém olhava para ela, sabe? Todo mundo até então me dizia: "Olha, a vida começa aos 40". Estou achando que começa mesmo é com 50.

 

O que lhe inspira a continuar escrevendo para o público infantojuvenil? 

A resposta desse público é tão bonita. Eles são intensos e de verdade. Escrever para esse público é, além de ser muito bom, poder fazer companhia para eles nesse momento de intimidade, inseguranças, amores mal resolvidos, é muito especial. Tudo que tenho hoje devo aos adolescentes e aos pré-adolescentes. 

Eu posso, de vez em quando, fazer um livro, uma série, um filme para adultos aqui e ali, mas o que realmente acho incrível fazer é escrever para eles. Então, deixa eu usar essa escuta para tentar ajudá-los a passar por essa fase rindo.

 

 

Em tempos de tecnologia e redes sociais, como é o desafio de conquistar novos leitores em meio à presença cada vez maior das telas? 

Você não tem ideia da quantidade de mensagens que recebo de pais e mães que estão emocionados, vendo o filho, ouvindo a filha rir com um livro meu na mão. É muito bacana poder saber que, em tempos de tela, eles acabam preferindo um livro meu. 

Não sou essa pessoa que critica a internet desse jeito. Eu acho que a coisa da comparação, da ostentação, isso é muito ruim. Mas, ao mesmo tempo, uma pessoa vai ler um livro meu e fala com animação na internet, e atinge tantas pessoas ao mesmo tempo falando de livros. 

O livro nunca vai perder o seu atrativo. O cheiro, o manusear de páginas, aquilo ali é único, e a internet pode ajudar. Uma pessoa que gosta de ler pode achar sua turma, achar uma pessoa que vai indicar o que ler, encontrar um título que tem a ver com ela. Tem essa comunidade imensa chamada booktokers, sabe? Então, a internet não é essa vilã.

 

Depois de tantos anos escrevendo para os jovens, como você lida hoje com a sua própria adolescência? 

Fui uma adolescente muito tranquila. Claro, tinha meus rompantes, mas gostava de estudar, não mentia. Reflito como: “Caramba, que sorte dos meus pais, ou que talento deles", porque realmente não fui uma adolescente que deu trabalho. 

Lancei há pouco tempo com o Renato (Caminha) Falando Sério sobre a Adolescência, que a gente quer transformar num podcast, porque esse livro tem ajudado os pais. É uma conversa entre arte e ciência. Ele está há anos aí trabalhando com adolescentes também. Eu resolvi do nada: “Vamos escrever, estamos juntos”. 

Então, poder refletir sobre a minha adolescência ao lado do Renato, que é um estudioso de família e de adolescentes, também tem sido muito prazeroso.

 

O livro nunca vai perder o seu atrativo. Uma pessoa que gosta de ler pode achar sua turma, achar uma pessoa que vai indicar o que ler, encontrar um título que tem a ver com ela. A internet não é essa vilã. Por Thalita Rebouças/ Escritora, jornalista, roteirista, compositora e atriz

 

De onde surgiu a vontade de se comunicar também com o público feminino em Felicidade Inegociável e Outras Rimas

A menopausa chegou. Estava com 45 anos quando ela chegou, no meio da pandemia, foi muito assustador. Hoje, graças a Deus, cada vez mais mulheres estão falando disso, porque até outro dia ninguém falava. Quando comecei a ficar com fogachos, ressecamento, a perder cabelo, a memória, eu falei: “Caramba, deixa eu escrever para essas mulheres. Me ajuda e pode ajudar quem está passando pela mesma coisa”. 

Recebi o convite da Audible para um audiolivro inédito e falei: “Posso fazer poesia?”. E eles falaram: "Ué, mas você sabe fazer poesia?". Eu falei: "Não, mas sempre fiz letra de música. É tudo primo". E aí nasceu a primeira (poesia), que foi Eu Não Sou Mãe, eles amaram. Também comecei a colocar na internet. As pessoas começaram a me falar: "Por sua causa descobri que estava entrando no climatério", "por sua causa eu resolvi procurar um médico". 

A intenção era essa mesma e também de fazer um livro de autoficção. Poder falar de mim, das lutas muito dolorosas que vivi e que comecei a me curar quando escrevi sobre elas neste livro.

 

A série Juntas e Separadas foi inspirada em sua separação? Como foi transformar um momento tão sensível nesta produção?  

É uma série sobre amizades femininas. Quando me separei, tinha 40 anos e foi um casamento longo, fiquei 18 anos casada e me vi na pista de novo. O luto da separação é muito específico. Só quem se separou, consegue entender. Tive imensa sorte de me unir a mulheres que estavam passando por uma separação, ou tinham acabado de passar, e elas foram o meu colo, os meus melhores conselhos. 

Aí pensei: “É muito legal poder contar com mulheres para se reerguer, para entender que a vida está só começando”. Comecei a escrever um livro, mas aí falei: “Isso não vai ser um livro, vai ser minha primeira série.” Olha como sou abusada (risos). Sempre quis fazer séries, porque consumo muito. 

Hoje nem acredito que estou envolvida com um projeto com o Juntas e o da Garota Esquisita. Quero ajudar as mulheres a se sentirem empoderadas, quero mostrar que está tudo bem estar sozinha, que está tudo bem não equilibrar os 200 pratinhos que a gente acha que tem que equilibrar.

 

Como foi recomeçar a vida depois de um casamento longo e ter que lidar com a carreira e o dia a dia?  

Separação é sempre difícil, mas depois que passa e você começa a ter um relacionamento sério com você mesma, a magia acontece. Precisei ficar sozinha para perceber que sou uma ótima companhia. Claro, fiz besteira, me relacionei com caras que não foram bacanas comigo, mas a sorte é que tudo se estorna. Fui uma solteira muito feliz, mas agora achei o amor da minha vida (Renato Caminha). 

A gente é de uma geração que transformou em vício a ideia de que a mulher precisa ter um homem do lado para ser feliz, mas estamos desconstruindo isso. E o que puder fazer para ajudar a mulherada a acreditar mais nelas, eu estou aí junto.

 

Você tem alguma rotina de bem-estar que não abre mão? 

Com 50 anos e na menopausa, não tem como: tem que malhar. Vou na força do ódio, mas malho todo dia. Eu estou gostosa, sabe? (risos). É muito legal fazer vídeo e (ver) mulheres da minha idade dizendo: “Não para de postar aquilo porque estou malhando com aquele vídeo”. E você não está se mexendo para ficar gostosa, mas para ter mobilidade na velhice. Então, o exercício físico é o maior autocuidado que a gente pode ter. A gente não precisa de absolutamente nada, a não ser da nossa força de vontade. 

No meu caso, que malho na força do ódio, pode até liberar a tal da endorfina, que te deixa feliz. Não é papo furado. Tudo que a ciência diz é verdade. Então, vai com ódio mesmo (risos). E eu amo fazer exame, amo me cuidar. Estou toda vacinada, sou uma paciente muito maravilhosa. Tomo colágeno, faço reposição hormonal, que é um autocuidado também. E a terapia, que não dá para não fazer.

 

 

O que você projeta para os próximos anos? O que espera realizar ainda mais? 

Estou gostando muito de trabalhar com os gringos, viu? (risos). É muito bacana estar trabalhando na “Meca do cinema”. Fazendo audiovisual no lugar que respira audiovisual e ensina como se faz. Espero que seja o primeiro de muitos trabalhos. Quero dar atenção a essa carreira que está vindo de uma maneira tão bonita. 

Suzana Pires, uma grande amiga, que é roteirista e atriz, está morando em Los Angeles, fez a ponte entre mim e os produtores que compraram os direitos da Garota Esquisita. Então, devo muito a ela, e ela foi uma das amigas que se aproximaram de mim na época em que me separei. Eu acho que é isso que a gente está aqui para fazer: dar a mão para a outra e puxar para cima.

 

Fonte: Zero Hora/Revista Donna/Lou Cardoso em 03/10/25