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Entrevista com Simon Roy — Analista da OCDE
Entrevista com Simon Roy — Analista da OCDE

NÃO É SEMPRE UMA QUESTÃO DE GASTAR MAIS, MAS MELHOR.

ENTREVISTA COM SIMON ROY – Analista da OCDE

 

Com a experiência de quem tem analisado os principais sistemas para garantia da qualidade do Ensino Superior em diversos países – entre eles, o Brasil –, Simon Roy gosta de traçar comparações. E entende o desafio de avaliar os diferentes contextos: por isso, sempre relativiza ao falar sobre experiências educacionais que dão certo na América do Norte ou na Europa, por exemplo, quando traça paralelos com a realidade latino-americana. Roy é analista da Diretoria de Educação e Habilidades da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento econômico (OCDE), conhecida por muitos como um “clube de países ricos”, mas que tem como objetivo promover políticas que visem ao desenvolvimento econômico e ao bem-estar social em todo o mundo. Ele é um dos palestrantes do 2º Simpósio Nacional de Educação – Pensar o Presente para Construir o Futuro, encontro promovido pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) que acontece hoje e amanhã (aconteceu em 25 e 26 de julho) em Porto Alegre. Nesta entrevista, o britânico, fala sobre financiamento da educação – sugerindo, por exemplo, que a cobrança de mensalidades em universidades públicas seja considerada uma possibilidade –, a importância de investir no Ensino Superior – defendendo a manutenção de bolsas de pesquisa – e comparando o investimento por aluno no Brasil com a situação de outros países. Confira:

 

 

Como trabalhar com políticas públicas de maneira integrada em um cenário tão diverso quanto é o da educação no Brasil?

Esse sistema tão diverso, com um grande setor privado, não pé exclusividade brasileira: entre os países da OCDE, e particularmente nos Estados Unidos e no México, também há uma distribuição assim, ainda que no Brasil ela seja maior. O Brasil financia diretamente suas universidades públicas, ao mesmo tempo em que providencia financiamento público0 aos estudantes para apoiar seus estudos em instituições da rede particular através de programas federais (como o FIES e o PROUNI). Esse modelo, explicado da maneira básica, encontra similaridades com o padrão americano, que também prevê uma participação governamental, mas a principal diferença é que não há universidades federais nos Estados Unidos, e estudantes de universidades públicas pagam taxas. Sempre haverá prós e contras quanto ao uso dos escassos recursos públicos para o Ensino Superior. É preciso questionar: o quanto o país precisa (e pode arcar com os custos de) aumentar o número de vagas em universidades públicas dedicadas à pesquisa; se, apesar da natureza controversa da questão, deve-se pedir aos estudantes que contribuam financeiramente para estudar em universidades públicas, como fazem em instituições particulares; se e como (o país) deve desenvolver mais o Ensino Superior orientado para o mercado de trabalho no setor público; como pode refinar os sistemas de garantia de qualidade e de financiamento para apoiar a alta qualidade em todos os setores do Ensino Superior.

 

 

O investimento da iniciativa privada não é comum em instituições públicas de Ensino Superior no país. Mas o Ministério da Educação anunciou recentemente um programa, o Future-se que, entre outros objetivos, pretende mudar esse cenário. O que o senhor pensa sobre isso?

É intrinsecamente difícil atrair financiamento para universidades em sistemas sem uma forte tradição de cooperação entre universidades e o setor privado, além do terceiro setor. Os Estados Unidos têm uma longa tradição nesse tipo de cooperação. Por outro lado, muitos países europeus não têm essa tradição estabelecida e só agora estão criando ligações maiores. Em todos os sistemas com financiamento particular significativo de universidades, um a grande porção desses fundos sempre vem dos estudantes e de suas famílias por meio de taxas. Contudo, cobrar ou não cobrar isso de estudantes onde não há essa tradição é sempre uma questão controversa que precisa ser tratada com extremo cuidado.

 

 

Por outro lado, o investimento por estudante na educação básica brasileira fica muito abaixo da média da OCDE. Essa “preferência” pelo financiamento do Ensino Superior é um problema?

O Brasil realmente ainda investe pouco por aluno na educação básica. Dada a necessidade de “alcançar” países mais desenvolvidos, incluindo no que diz respeito aos padrões básicos de conhecimento em língua portuguesa, matemática e ciência, é importante garantir que todas as escolas no país recebam níveis adequados de investimento. Em alguns casos, isso vai significar aumentar o gasto por estudante. É importante que todos os recursos sejam bem utilizados, particularmente em áreas como na educação de professor, na liderança de escolas e na implementação eficaz de abordagens pedagógicas focadas nos alunos. Não é sempre uma questão de gastar mais, mas de gastar melhor.

 

Leia a entrevista completa em bit.ly/ocdesimontoy

 

Fonte: Jornal Zero Hora/Guilherme Justino (Guilherme.justino@zerohora.com.br) em 25/07/2019