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Turma da Mônica na Série Graphics MSP
Turma da Mônica na Série Graphics MSP

PEQUENOS PERSONAGENS, GRANDES PROBLEMAS

 

Turma da Mônica encara separação, desemprego e racismo na série Graphic MSP

 

Os pais da Mônica estão para se separar. O pai do Cebolinha perdeu o emprego. O pai do Jeremias é vítima de racismo por policiais.

 

Situações como essas, bem vida real, são frequentes na coleção Graphic MSP, HQs longas (96 páginas) publicadas pela Panini em que personagens criados por Mauricio de Souza são retrabalhados por novos autores. O público majoritário é o jovem ou o adulto que, na infância, lia os gibis da Turma da Mônica, mas uma das virtudes da série é conseguir se comunicar com a família inteira.

 

Com alguns limites (leia na entrevista abaixo), as crianças precisam lidar com problemas dos adultos. Em MÔNICA: FORÇA, a quadrinista Bianca Pinheiro impõe à dentuça um problema que coelhada nenhuma vai resolver: seus pais estão enchendo a casa de brigas, testemunhadas pela filha. “Pra mim, deu! Se for assim, é melhor a gente se separar!”, diz o pai. “Finalmente concordamos em alguma coisa!”, retruca a mãe.

 

Em CEBOLINHA: RECUPERAÇÃO, o porto-alegrense Gustavo Borges retrata a diferença de classe social, a inveja competitiva, a mentira e a burla, o abalo que uma hora difícil provoca em um lar. Ele traduz e adapta assuntos aos quais os pequenos já devem ter sido expostos nos noticiários, como a crise econômica e os escândalos de corrupção. Também passa mensagens bacanas, valorizando a criatividade (os famosos planos infalíveis do Cebolinha servem a outro propósito) e o engajamento familiar para superar perrengues.

- Entrar em contato com personagens que encaram situações semelhantes à da criança, além de ser uma ótima oportunidade de explicar sobre os fatos da vida, traz uma sensação de pertencimento. A criança pode perceber que não é a única que passa por aquilo ou sente daquela forma, e isso é fundamental em termos de saúde mental – comenta a psicóloga Giuliana Chiapin.

 

Aventura e filosofia se mesclam em HORÁCIO: MÃE, de Fábio Coala. Enquanto procura a mãe que nunca conheceu, o tiranossaurozinho nos fala sobre tolerância, sobre os preconceitos que nutrimos e que combatemos, sobre amizade e cooperação, sobre não desistir, sobre a importância de pensar. Em BIDU: JUNTOS, Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho ensinam pela voz de Franjinha: “Cuidar de cachorro não é moleza. Tem de dar banho, comida, limpar a bagunça toda. E passear também”.

 

JEREMIAS: PELE é contundente. Coadjuvante eterno, o menino negro virou protagonista para discutir justamente a falta de representatividade. Pelas mãos da dupla Rafael Calça e Jefferson Costa, enfrenta o preconceito e o racismo em um gibi para empoderar e conscientizar sobre uma realidade comum a milhões de brasileiros: os olhares de desprezo ou de desconfiança, as palavras desrespeitosas, as portas fechadas, o vazio ao seu lado em um ônibus lotado, o condicionamento pela cor, o estreitamento do futuro, a luta diária, não raro silenciosa e solitária.

 

ENTREVISTA: SIDNEY GUSMAN – Editor da coleção Graphic MSP

 

HQ da Tina terá uma importância e tanto para as mulheres”

 

 

Como é o processo de escolha dos temas a serem abordados? É de total liberdade dos criadores ou há um certo direcionamento?

Algumas Graphics MSP têm pautas. Na verdade, uma ideia de tema que proponho aos autores e eles desenvolvem. Foi assim com PENADINHO: VIDA (reencarnação da Alminha), MÔNICA: FORÇA (pais dela em vias de se separar) e JEREMIAS: PELE (racismo na infância). Penso que isso não deve acontecer sempre, mas pontualmente. Na maioria das vezes, o que peço aos autores é mais amplo: quero uma aventura, algo mais emocional etc. E o desenvolvimento é deles. Claro, com muita troca de ideias até que o roteiro esteja fechado.

 

 

Vocês recebem algum tipo de retorno de crianças ou famílias às quais as HQs foram bastante úteis?

Com certeza. Todas as Graphics MSP geram esse tipo de retorno. Porque os autores tocam em pontos que certamente geram identificação com o público. E isso independente do gênero da história. Mas, nesse sentido, Jeremias, sem dúvida, é a que mais nos fez ouvir dos leitores sobre a importância que essa história adquiriu desde que foi lançada. Muitos professores passaram a usá-la em sala de aula, mesmo sem ser um material didático. Isso mostra bem a relevância da obra.

 

 

Existem temas vetados? Assuntos como gênero, vício em tecnologia e obesidade infantil podem ser tratados?

Há temas que não são abordados por razões óbvias, como erotismo ou violência gratuita, porque não fazem parte do escopo dos personagens do Mauricio. Astronauta, Piteco, Papa-Capim, Turma da Mata e Capitão Feio trazem cenas de lutas. Mas não precisam ter cenas com sangue se espalhando pelas páginas e tripas voando, entende? Outro exemplo: Thuga termina grávida do Piteco em INGÁ. O Shiko (autor da HQ) não precisava mostrar os dois durante o ato sexual para informar isso. Temas que conversem com a sociedade de hoje certamente estão na nossa mira.

 

 

Pode adiantar alguns dos próximos temas da coleção?

O que posso dizer é que a Graphic MSP da Tina, assinada pela Fefê Torquato, vai ter uma importância e tanto para as mulheres (a personagem adolescente da Turma da Mônica estreia em setembro na coleção). E só, para não dar spoilers. As outras duas do ano, Piteco, agora com Eduardo Ferigato, e a segunda do Capitão Feio, com os gêmeos Magno e Marcelo Costa, terão uma pegada mais aventureira.

 

Bidu: Juntos

Damasceno e Garrocho falam sobre responsabilidade;

 

Mônica: Força

Bianca Pinheiro retrata o tema da separação dos pais;

 

Horácio: Mãe

Fabio Coala aborda tolerância e cooperação;

 

Jeremias: Pele

Rafael Calça e Jefferson Costa discutem o racismo;

 

Cebolinha: Recuperação

Gustavo Borges adapta crise econômica e corrupção;

 

Mônica: Tesouros

Bianca Pinheiro convida a estar aberto ao novo, a aprender com o outro a estender a mão, a fazer um novo amigo.

  

Fonte: Zero Hora/Caderno Vida/Ticiano Osório (ticiano.osorio@zerohora.com.br) em 14/04/2019