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Ika Romagnolli
Ika Romagnolli

ENTREVISTA: Ika Romagnolli

 

 

Sua Biografia:

Paranaense, nascida em Londrina. Atriz Profissional (DRT 9341/SP) desde 1990, atuando nos espetáculos como: “Vestido de noiva” de Nelson Rodrigues; “Os Olhos Verdes da Neurose”, monólogo de José Expedito Marquês, onde ganhou o prêmio de melhor atriz nacional; “O Santo e a Porca”, montagem da Cia Multimídia de SP, direção Ricardo Karman; “Nossa Vida não Vale um Chevrolet” e “Leila Baby” de Mário Bortolloto.

Dubladora na SC Dublagens e atriz em espetáculos infantis da Cooperativa Paulista de Teatro; Arte educadora e professora de teatro nos Projetos “Escola Aberta” e “Outras Palavras na Escola”.

Proprietária da agência Ika Produções, criando textos, dirigindo espetáculos e contratando atores para merchandising de grandes empresas do Norte e Nordeste.

 

 

Sua Obra:

 

A Filha do Poeta

Um poeta idealista e aventureiro, com muita determinação e coragem rouba sua princesa judia de um colégio interno e juntos descobrem uma nova terra, cheia de oportunidades. Em um estilo fantasioso, o livro descreve a chegada de sua filha Nina, a garota poesia, que faz do cemitério seu quintal de amizades, sonhos e realidade. Uma aventura carregada de sentimentos, mostrando que a existência humana é fundamentada no amor.

Um romance inspirado em casos reais, com a narrativa de uma metrópole se desenvolvendo rapidamente com a chegada de imigrantes, entre 1890 a 1922 e a exploração de uma pequena cidade no meio de uma mata de terra vermelha.

 

 

Fale sobre a mulher, a atriz, a filha, a mãe, fale sobre Ika Romagnolli.

A filha: Sou a filha do meio de cinco filhos, uma menina e um menino mais velhos e uma menina e um menino mais novos, exatamente a do meio do nada, nem a menina mais velha, nem a caçulinha. Não tive as cobranças que a mais velha tinha, nem os mimos da caçula… acredito que por esta razão, fui criada mais livre. Tentei compreender que 80% da atenção da minha mãe, precisava ser do meu irmão mais velho que ficou ceguinho com sete anos e a partir daí, ela precisaria ser os seus olhos e, ela foi uma rainha diante dessa situação.…

Nasci em Londrina, interior do Paraná, mas ainda pequena, minha família mudou-se para a Capital Curitiba e minha formação foi lá. No meio da minha adolescência, com 14 anos, voltamos para Londrina e foi um grande impacto para mim. Apesar de ser o mesmo Estado, nada de parecido tem, são valores completamente diferentes… Mas aprendi muito, tentando adaptar-me ao “diferente”, foi assim que aprendi a usar a emoção como forma de chamar a atenção, já que não via razão em nada daquilo… Enfim, fui uma adolescente um pouco complicada, mas, mesmo assim, minha mãe diz que sou seu anjo da guarda.

 

A atriz: Minha mãe foi morar um tempo em Botucatu, interior de São Paulo. Ela faz doces deliciosos e precisou trabalhar na Rotisserie de um tio meu.

Eu tinha 17 anos, e foi quando conheci o teatro, e fui convidada pelo diretor de uma Cia para fazer a montagem do espetáculo “Vestido de Noiva” de Nelson Rodrigues. Claro que aceitei, descobri que era isso que eu queria fazer para o resto da minha vida… Meu primeiro papel foi Madame Clessi e só percebi que eu era boa nisso, quando, após a estreia todos os maquiadores queriam me maquiar e fazer o meu cabelo, o melhor figurino era o meu e depois fui aplaudida em cena... Chamei as atenções todas para mim, e como sempre, esforcei-me muito para isso.

De Botucatu de volta à Londrina, já um pouco segura “por demais da conta”. Montei um monólogo “Os olhos verdes da neurose”, foi muito interessante e ganhei um prêmio de melhor atriz nacional no Festival de Franca, interior de São Paulo. Também montei alguns espetáculos com Mário Bortolloto, e participamos de vários festivais de teatro, até nascer o espetáculo “Nossa Vida não vale um Chevrolet” de autoria do Mário, que futuramente virou filme.

Depois fui para São Paulo sozinha, sem nunca ter ido. Passei em um teste para estudar em um colégio de Artes (Oswald de Andrade), e fiquei morando no colégio só com meninas que estudavam lá, tinha múltiplos cursos relacionados a arte… No meu primeiro mês, consegui fazer parte de um grupo profissional do assistente do diretor Antunes Filho, que me deixou muito surpresa. Também entrei em um grupo de teatro de bonecos com profissionais muito sérios.

E as coisas foram acontecendo dentro do teatro, fazia dublagens, passei no teste da banca e tirei meu DRT, comecei a dar aulas de teatro pela Secretaria do Estado e várias outras atividades. Consegui sobreviver em São Paulo apenas com o teatro e conheci um mundo novo. As corajosas garotas do colégio estão romanticamente retratadas, claro que do meu jeito, no meu novo livro “Garotas do Mundo”...

 

A mãe: O meu primeiro filho nasceu em São Paulo, fiz teatro com ele na barriga até os oito meses. Depois que ele nasceu ficou um pouco complicado trabalhar, porque queria amamentá-lo. Porém, “este povo autônomo” que trabalha com arte, ou trabalha ou não ganha, e foi assim que aprendi a nunca ficar doente.

Meu filho foi educado livre, porém vigiado, sabe aquela liberdade assistida? Gostava de vê-lo descobrindo as coisas sozinho, ficar preto de terra, só que quando o perigo se aproximava, como colocar a mão cheia de terra na boca, mamãe misteriosamente aparecia… E por isso, nunca impus nenhuma religião para nenhum dos dois… eles precisam descobrir por si só no que querem acreditar… E eu continuo vigiando, tentando estar sempre por perto.

Os garotos são difíceis pois questionam tudo e eu gosto assim. Em uma homenagem no colégio no dia das mães, todos os garotos falaram que a mãe representava o amor e compaixão. Quando chegou a vez do meu filho ele disse que eu era teimosa, (risos)… Acho que criei “monstrinhos pensantes”… Os meus príncipes.

 

Como surgiu a escritora Ika Romagnolli?

Já morando em Recife, por opção de qualidade de vida, fugindo da poluição de São Paulo, boas escolas e muito mais baratas, e o surgimento de muitas oportunidades profissionais, comecei a trabalhar com MKT Cultural.

Apesar de contratar atores, dirigi-los, e trabalhar com criação, deixei o teatro de lado e fiquei sufocada. Piorou mais ainda quando abri uma loja de fantasias e trabalhando com “comércio”, quase tive um ataque. Não consegui adaptar-me ao universo de compra e venda de mercadorias e um montão de papéis. Minha loja deveria ser para que todos se fantasiassem e virassem personagens de um mundo encantando. Mas acima de tudo isso, eu precisava vender, e isso não fazia parte da imaginação criativa. eu precisava fazer com que comprassem.

Meu mundo ficou triste… fechei a loja e em seguida, juntei minhas emoções sufocadas e comecei a escrever o livro. E senti a mesma emoção de fazer teatro… dando vida a todos aqueles personagens tão nítidos na minha imaginação.

 

O seu primeiro livro, a Filha do Poeta venceu o Concurso Leia Livros. Estava escrito ou escreveu-o para concorrer?

Já o tinha imaginado, mas o Concurso me deu muito mais esperança e animação em concretizá-lo. Sem dúvida nenhuma, foi uma grande oportunidade, parabéns e obrigada para as idealizadoras do mesmo.

 

É uma narrativa emocionante e ao mesmo tempo simples, que vai direto ao nosso coração. É impossível não se apaixonar pela Nina. A personagem é pura fraternidade. Quem foi a Nina?

Talvez o amor seguro da minha mãe… minha liberdade, não ser cobrada de nada e poder fazer minhas escolhas. Uma garota que não vê maldade em nada, possui um sentimento livre, não diria ingênua, mas sim, maravilhada com o mundo e com as pessoas. Nina é vida, paixão e poesia!

 

Você dedica o livro ao seu avô, o poeta ítalo-mineiro, Mário José Romagnolli. Fale a respeito da relação de vocês e os ensinamentos.

Convivi muito pouco com meu avô, pois fui criada na Capital e ele morava em Londrina. Mas entrou na minha vida, no momento que eu mais precisava, ele foi um ícone importante da minha adolescência. Estávamos ali, em uma cidade quase desconhecida e ele chegava, quase todos os dias, esticava suas mãos para que desse sua benção, então eu a beijava e era como uma união da família. Depois sentava-se à mesa da cozinha e recitava uma poesia nova, e apesar de ter quase 50 netos, sempre fazia uma poesia só para mim, exclusiva com meu nome, chamando-me de estrelinha entre outras coisas… Sentia-me única e muito importante para aquela família enorme, ali representada por ele. Uma família que até então, há tão pouco tempo, era tão indiferente a mim....

E como ele mesmo declamou em um dos seus poemas:

” Amor! Amor!

Palavra doce e sublime

O que sente o seu calor

De todo o mal se redime!”

 

Mário Romagnolli, é homenageado em Londrina, pela dedicação e trabalho em benefício da cidade e seu desenvolvimento. Há ruas e avenidas com o seu nome. Na sua opinião, o que foi e ainda é mais importante na trajetória do poeta: a família, a cidade, a poesia…?

Tudo ao mesmo tempo. Um encontro com o nascimento e desenvolvimento da cidade, como se suas ruas, suas construções, fossem poeticamente parte dele e através dele, também da família...

Paulo Leminsky chamou Londrina de “cidade mais inquieta do planeta” e para mim, decifrou assim, também o meu avô...

 

 

Sabemos que não há interesse por parte de políticos em investir na área cultural. O que existe são profissionais dedicados, que fazem o que podem ou que os recursos permitem, e isso é variável de região para região. O que falta (de mais importante), e o quê poderia ser feito, com poucos recursos, para melhorar o cenário?

Contratação de profissionais sérios e realmente envolvidos em “didática cultural” Acredito em projetos a longo prazo, com começo, meio e fim, entretenimento é importante, porém a meu ver precisamos focar mais em “reflexão” da cultura nacional e o rumo que está tomando, trazendo para projetos culturais, aulas de cidadania, autoconsciência cultural e também filosofia.

 

Na sua opinião, qual a solução para a educação pública, além de salários dignos para os professores?

Vai além de salários dignos, passa por capacitação, vocação e paixão.

 

O que você acha de ser escritora em um país de poucos leitores, onde a literatura nacional não é valorizada e o custo de edição é alto?

Preciso ter a consciência que como escritora, devo criar “também” obras acessíveis e interessantes ao não leitor. Com relação aos custos de edição, acredito que já deveria existir algum programa do governo dentro das Escolas Públicas e Privadas, para incentivar alunos a tornarem-se futuros autores e com isso, também novos leitores. Esses projetos se encaixariam perfeitamente em aulas de literatura, não estou falando de aulas de redação, que hoje em dia estão focadas em técnicas para passar na prova do Enem.

 

Fale sobre seus projetos literários e da sua produtora.

Um dos projetos que mais gosto da produtora é o cinema itinerante que levamos para comunidades carentes. Os atores passam pelas casas convidando a todos da comunidade para o dia do cinema… Monta-se uma enorme tenda; tela de cinema com data show como projetor; cadeiras com capas coloridas; pipoca e refrigerante de graça; contadores de história fazem a abertura com brincadeiras interativas e começa o filme... É incrível o comportamento das crianças e também dos adultos dessas comunidades, quando são bem tratados e amados. A Comunicação torna-se universal através da cultura e transforma comportamentos, insistindo, qualquer comportamento.

 

Por que você recomenda a leitura de seu livro?

Porque possui uma linguagem simples, porém profunda e reflexiva a respeito do amor verdadeiro; quase impossível não se emocionar.

 

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“A vida pode ser bem mais leve e a morte também”