A VOZ QUE DÁ VIDA À ARTE
Na última quarta-feira, dia 29, ele completou 77 anos. Com vigor, é a voz que a gente ouve sair da boca do ator James Gandolfini na versão dublada da série A FAMÍLIA SOPRANO. Ícone infanto-juvenil nos anos 1960 e personagem que rouba a cena a cada aparição nas telonas como ator, Pietro Mário, nascido Pietro Mário Francesco Bogianchini, é sonoridade conhecida e reconhecida por gerações. Basta ele soltar a voz que desfilam, por nosso imaginário, alguns dos personagens da infância ou juventude. Nascido na Itália e radicado no Brasil desde 1947, Pietro Mário esbanja jovialidade e sabedoria.
Àqueles que cresceram na frente da televisão entre os anos 1965 a 1968, a simples menção de seu nome basta para despertar nostalgia e boas lembranças, evocando seu trabalho como Capitão Furacão, no programa de televisão homônimo. “Sempre alerta e obediente!”: esse era o bordão do marujo que comandava brincadeiras e apresentava desenhos animados. Seus feitos o tornaram uma lenda na mídia e, por isso, até hoje, ele tem cadeira cativa em telenovelas e séries, com participações sazonais.
De 1978 a 2014, emprestou seu talento para vários personagens em telenovelas, mas é na dublagem de filmes e animações que tem impresso sua digital sonora. Foi o Tio Patinhas, da série MICKEY MOUSE; Sr. Ping, em KUNG FU PANDA; Mestre Mental, em X-Men : Evolution; Imperador Nicholas, em ANASTASIA; James Gandolfini, em POSSUÍDOS; Sr. Salt, em A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATES; Rafiki, de O REI LEÃO; Falcão 7, em HOMEM-PÁSSARO; e, mais recentemente, dublou também personagem na animação AS AVENTURAS DO PEQUENO COLOMBO, de Rodrigo Gava.
“Sigo muito as palavras do ator italiano Marcello Mastroianni: ‘Para mim é fácil criar os personagens. Basta fazer com simplicidade. Se eu fizer de um jeito simples, não vou nem precisar entrar numa clínica para tirar os personagens de mim’. É assim que eu crio”, diz o ator, que teve uma homenagem à sua trajetória, em 2013, no curta PIETRO, do diretor sino-brasileiro, Hsu Chien.
Seu mais recente desafio, em 57 anos de carreira, é como ator. Ele está ao lado do gaúcho Júlio Andrade no drama MARESIA, dirigido por Marcos Guttmann. Veterano da dublagem, o septuagenário fala com carinho e entusiasmo do personagem em sua recente exibição na edição 2016 do Cine Ceará, em Fortaleza: “É com sensibilidade que se desenha uma figura como a desse velho basco ligado à história de um pintor beberrão”.
Se o dublador é o profissional que, além de interpretar as falas, respira nos momentos certos, adaptando a voz à personagem e à cena, Pietro Mário será referência sempre neste mercado, que hoje ganha outras latitudes. E, apesar da idade avançada, segue firme na atividade cujo potencial de trabalho dos profissionais cresce em TV, DVD, games, cinema. Além disso, os atuais dubladores podem fazer locuções, narrações, audiobooks, audiodescrição (para deficientes visuais), spots para rádio e comerciais para TV. O dublador hoje pode fazer documentários, desenhos animados, filmes, seriados, trilhas, comerciais, jingles, novelas, entre outras coisas. Os tradutores tradicionais descobriram, ainda, um novo nicho da profissão: dublagem e legendagem. Mas há formação necessária e desejada: comprovante de que o curso de graduação em artes cênicas ou artes dramáticas (o que o coloca na posição de ator/atriz) já está concluído. E as marcas sonoras podem permanecer por muito tempo.
Fonte: Correio do Povo/Marcos Santuario em 3 de julho de 2016.