ELEMENTOS DA TEXTUALIDADE
O ato da escrita requer um exercício constante de aperfeiçoamento, por isso, ao elaborar um texto, é importante reescreve-lo quantas vezes for necessário. Neste capítulo, serão vistos problemas frequentes na construção de textos e alguns dos principais elementos que estruturam a textualidade.
EM BUSCA DE UM TEXTO COESO
A clareza das ideias é obtida com o uso de palavras selecionadas e de construções bem elaboradas, para que o texto se torne conciso, coerente, sem ambiguidades indevidas e frases desgastadas. Deve-se evitar o uso de formas e frases desgastadas ou a repetição de algumas construções, como o emprego excessivo da voz passiva.
É importante escrever com criatividade, evitar modismos, lugares comuns ou chavões. Recorrer a termos considerados difíceis pode levar o leitor a acreditar que por trás de tais palavras há pouco conteúdo. E corre-se o risco de comprometer a compreensão.
Também é necessário adequar a linguagem, observando a finalidade do texto e a intenção comunicativa para que o resultado atinja o(s) interlocutor(es) de forma satisfatória. Nem sempre textos gramaticalmente corretos são considerados bons, e vice-versa. Uma frase de impacto em anúncio publicitário pode apresentar uma construção gramaticalmente incorreta em relação à norma culta mas cumprir a função a que se destina.
A maneira como são articuladas as ideias por meio das palavras e das frases é que determina se há uma unidade de sentido ou apenas um amontoado de frases desconexas.
“ARMADILHAS” DO TEXTO
Ao escrever um texto, devem-se observar certas construções inadequadas que podem dificultar a compreensão do que se quer transmitir. Algumas dessas “armadilhas” são a ambiguidade e a redundância.
AMBIGUIDADE
A ambiguidade pode ser usada para obter um efeito de sentido no receptor. Se ela for produzida de forma involuntária e não tiver essa finalidade como recurso textual, será considerada inadequada por dificultar a compreensão do texto pelo interlocutor.
Para obter coesão e coerência é preciso, portanto, evitar essa ambiguidade, causada por pontuação imprópria, por problemas de construção textual e por emprego de palavras com mais de um sentido, que podem gerar, de forma não intencional, mais de uma possibilidade de interpretação. Veja um exemplo:
O computador tornou-se um aliado do homem, mas esse nem sempre realiza todas as suas tarefas.
O sentido da frase ficou ambíguo, porque as palavras esse e suas podem referir-se tanto a “computador” quanto a “homem”. Ambos podem não realizar o seu trabalho por completo.
Para evitar essa ambiguidade, pode-se escrever essa frase assim:
O computador, apesar de ser um aliado do homem, não consegue realizar todas as tarefas humanas.
Observe alguns casos frequentes de ambiguidade e os sentidos possíveis de cada frase:
PROBLEMAS COM O USO DE PRONOMES POSSESSIVOS
Raquel preparou a pesquisa com Silvio e fez sua apresentação.
(Raquel fez a sua apresentação ou a de Silvio?
Reformulando:
Raquel e Silvio prepararam a pesquisa, e ambos fizeram a apresentação.
Raquel e Silvio prepararam a pesquisa, e ele fez a apresentação dele.
Raquel e Silvio prepararam a pesquisa, e ela fez a apresentação dela.
PROBLEMAS COM O USO DE PRONOMES RELATIVOS
Visitamos o teatro e o museu cuja qualidade artística é inegável.
(É o teatro ou o museu que possui qualidade artística?)
Reformulando:
Visitamos o teatro e o museu, os quais têm qualidade artística.
Visitamos o teatro e o museu, e aquele tem qualidade artística.
Visitamos o teatro e o museu, e este tem qualidade artística.
COLOCAÇÃO INADEQUADA DE PALAVRA
O cliente aborrecido recusou o vinho por causa da safra.
(O cliente era aborrecido ou ficou aborrecido naquele momento?)
Reformulando:
O cliente recusou aborrecido o vinho por causa da safra.
O cliente, que era aborrecido, recusou o vinho por causa da safra.
SENTIDO INDISTINTO ENTRE AGENTE E PACIENTE
A recepção dos noivos foi no salão do clube.
(A recepção foi oferecida pelos noivos ou eles foram recepcionados?)
Reformulando:
A recepção foi oferecida pelos noivos no salão do clube.
Os noivos foram recepcionados no salão do clube.
USO INDISTINTO ENTRE O PRONOME RELATIVO E A CONJUNÇÃO INTEGRANTE
O motorista falou com o passageiro que era gaúcho.
(O motorista era gaúcho ou o passageiro?)
Reformulando:
O motorista disse que era gaúcho ao passageiro.
O motorista conversou com o passageiro gaúcho.
PROBLEMAS COM O USO DE FORMAS NOMINAIS
O pai viu o filho chegando em casa bem tarde.
(Quem chegou em casa bem tarde: o pai ou o filho?)
Reformulando:
O pai viu o filho que chegava em casa bem tarde.
O pai, ao chegar em casa bem tarde, viu o filho.
REDUNDÂNCIA
A redundância dificulta o entendimento do texto em virtude do uso de ideias e palavras repetidas ou desnecessárias que comprometem a clareza da mensagem. Para evitar essa repetição, é preciso tirar palavras supérfluas a fim de sintetizar informações e não comprometer a qualidade do texto.
A repetição pode ser um recurso estilístico para estabelecer a coesão no texto. É usada com intenção especial em textos humorísticos, publicitários, literários, etc. Mas há casos em que se deve evita-la, para que a linguagem não se torne deselegante, inadequada e monótona. Veja alguns desses casos a seguir:
PALAVRAS PRÓXIMAS E IDÊNTICAS
O povo exige seus direitos, os direitos do povo devem ser respeitados.
REPETIÇÕES EXAGERADAS
O ministro apresentou sua proposta de trabalho, mas o ministro não foi claro em várias questões e as argumentações do ministro não foram aceitas.
Alterar a posição de ideias na construção do texto ou omitir um vocabulário já citado auxilia na eficácia da mensagem que se pretende transmitir. Por exemplo:
Os professores exigiram o pagamento dos salários em atraso, mas o governador não os atendeu.
COESÃO TEXTUAL
A redação de um bom texto depende da articulação de ideias e palavras. Na elaboração de um texto coeso empregam-se, de forma adequada, elementos coesivos que formam uma estrutura clara e coerente nas frases.
Há vários recursos linguísticos que podem ser usados para unir orações e parágrafos linguísticos, criando uma unidade textual. Entre eles destacam-se: conjunções, preposições, pronomes e advérbios.
Um elemento de coesão bastante usado é a conjunção e, que indica adição, continuidade. Além desse, os elementos de coesão mais comuns, que podem ser citados de acordo com os sentidos que expressam, são: por isso, pois (causa e consequência); mas, contudo, embora (contraste, oposição); além disso, também, nem (adição, continuação) segundo, conforme (semelhança, comparação); principalmente, sobretudo (prioridade, relevância); por exemplo, ou seja (esclarecimento); logo, dessa forma, portanto (conclusão).
Se esses elementos forem mal empregados, o texto será uma junção desconexa de frases, com uma linguagem ambígua e incoerente. É preciso atenção na escolha do conectivo adequado para unir e organizar todas as partes de um texto.
CLAREZA TEXTUAL
Dizemos que um texto é claro quando as ideias expressas por meio dele são inteligíveis. Para que haja clareza em um texto é preciso que os objetivos da produção estejam bem definidos, assim como o leitor ao qual se destina. Estabelecidos esses parâmetros é possível adequar linguagem e contexto. O encadeamento das ideias e a objetividade colaboram também para a clareza textual.
Ao escrever um texto, devem-se evitar ainda os períodos muito longos, a repetição de termos, um vocabulário rebuscado e obscuro e a pontuação inadequada.
COERÊNCIA TEXTUAL
A coerência textual resulta da relação harmoniosa entre as ideias apresentadas num texto. Refere-se, dessa forma, ao conteúdo, ou seja, à sequência ordenada das opiniões ou fatos expostos de forma coerente, sem contradições ao que se afirma para os interlocutores.
A coerência textual é um dos principais elementos da textualidade.