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Nelson Gonçalves: 50 Anos de Boemia em Quadrinhos
Nelson Gonçalves: 50 Anos de Boemia em Quadrinhos

AS AVENTURAS DE NELSON GONÇALVES

 

Vem aí a biografia em quadrinhos de um dos mitos da música popular brasileira.

À espera de uma chance no rádio, Nelson vagava pelo bairro boêmio da Lapa e sonhava com dias de glória;

Metralha” era o apelido do cantor, que entre outras coisas foi operário, garçom e até pugilista;

Entre os quadrinhos em preto e branco, livro terá cards lembrando os discos de Nelson.

 

Minha mãe e meu pai passavam o dia fora, trabalhando. Eu e meus irmãos fomos criados por nossa avó, que cuidava da ordem na casa tendo como trilha sonora o rádio sempre ligado. Adolescente romântico, eu decorava os sucessos musicais,escrevia as letras em cadernos – e Nelson Gonçalves ocupava várias páginas. Tempos de A VOLTA DO BOÊMIO, HOJE QUEM PAGA SOU EU, MEU VÍCIO É VOCÊ, ESCULTURA, NEGUE. Ele era um dos ídolos inatingíveis do garoto que também gostava de rock, bossa nova e música gauchesca. Imagine como me senti quase 20 anos depois, março de 1977, entrevistando-o longamente para uma matéria que ocupou três páginas da Revista ZH com o título de “Minha vida daria um romance”,

 

E qual não foi minha surpresa ao ler em 2008, na saudosa revista de cultura Aplauso, o texto de um jornalista (e roqueiro) 25 anos mais moço que eu, que, escrevendo sobre os 10 anos da morte do cantos, revelava-se apaixonado por sua história e aventuras.

 

Cristiano Bastos, esse jornalista, é um dos autores de METRALHA, biografia em quadrinhos de Nelson Gonçalves (1919-1998), em fase de produção, que será lançada em 2018 (marcando os 20 anos da morte e antecipando o centenário do nascimento). Pesquisador puro-sangue, Cristiano tem pelo menos três robustas referências no currículo: a co-autoria do livro GAULESES IRREDUTÍVEIS – CAUSOS E ATITUDES DO ROCK GAÚCHO (2001), o documentário NAS PAREDES DA PEDRA ENCANTADA (2011), sobre o mítico disco PAEBIRÚ, de Zé Ramalho e Lula Côrtes, e a biografia de Júlio Reny HISTÓRIAS DE AMOR E MORTE (2015). Ao lado dele, em METRALHA, estão o desenhista Gabriel Renner (ilustrador de ZH) e o corroteirista Márcio Júnior, quadrinista bissexto, doutorando em Arte e Cultura Visual pela Universidade Federal de Goiás.

 

 

- Nelson possui milhares de fãs, de todas as idades e épocas, espalhados pelo país, tamanho é o imaginário das canções que deixou – sublinha Cristiano.

- Um personagem controverso, icônico, destemido, fora da lei, que foi ao inferno e voltou. Um artista amado por seu público e, às vezes, detestado pela dita crítica especializada. Mas esta é também uma narrativa épica, que combina com o estilo e formato que a linguagem dos quadrinhos pode oferecer. É um absurdo, se levada em conta a dimensão da obra e a importância de Nelson para inúmeras gerações para as quais cantou, que tal personagem ainda não tenha sido biografado. São mais de 70 milhões de discos vendidos, da valsa SE EU PUDESSE UM DIA (1941) à derradeira AINDA CEDO (1997). Só perde para Roberto Carlos. E segue vendendo!

 

Nascido em 21 de junho de 1919 em Santana do Livramento, onde seus pais imigrantes portugueses viveram por dois anos até seguir para São Paulo, entre outras atividades Nelson foi engraxate, jornaleiro, operário, pugilista (peso pena) com algum destaque e garçom. Em busca da vida artística no Rio, no início viveu a barra pesada malandra da Lapa, até, contrariando opiniões de autoridades como Ary Barroso (recomendou que voltasse a ser garçom), encontrar seu lugar ao sol nos anos dourados do rádio e na história da música brasileira durante quase 60 anos de uma carreira às vezes entrecortada – como no período em que precisou se livrar do vício na cocaína.

 

Depois do lançamento da biografia em quadrinhos, que terá cerca de 200 páginas e é formato inédito para um astro da música brasileira, Cristiano promete trabalhar na biografia em texto mesmo. E de onde vem o título METRALHA?

- Era se apelido mais conhecido. Sempre se disse que Nelson era gago, o que, para muitos, explicava o apelido: ele “metralhava” as palavras. Na realidade sofria de taquilalia, aceleração exagerada da fala. Mas se falando era um desastre, cantando era impecável. E imbatível.

 

 

Fonte: ZeroHora/Paralelo 30/Juarez Fonseca (juafons@gmail.com) em 16/06/2017