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Van Gogh e Edvard Munch: no Museu Munch de Oslo
Van Gogh e Edvard Munch: no Museu Munch de Oslo

                                             Auto-retrato, 1886, Edvard Munch CORTESIA: NATIONAL MUSEUM OF ART, ARCHITECTURE AND DESIGN, OSLO 

                                           Auto-retrato com Chapéu de Feltro Cinzento, 1887, Van Gogh, Paris CORTESIA: VINCENT VAN GOGH FOUNDATION

 

Van Gogh e Munch: Juntos outra vez (e finalmente)

 

Exposição no Museu Munch de Oslo junta 75 pinturas e 30 trabalhos sobre papel dos dois artistas cujas semelhanças confundem o público e fascinam historiadores e críticos.

 

Não há qualquer prova de que se tenham conhecido, embora se movessem nos mesmos ciclos parisienses e, muito possivelmente, tivessem amigos em comum. Ambos se estabeleceram como artistas nos anos 1880 e neles se reconhece a mesma energia vital, a mesma urgência, que resultou numa pintura que é, segundo os historiadores de arte, um primado da emoção, atravessada por temas universais como o amor, a morte, o eterno ciclo da vida, a espiritualidade, o sofrimento.

 

 

Explicam os curadores no site do Museu Munch de Oslo que o objectivo da exposição Van Gogh+Munch, que ali estará aberta até 6 de Setembro, é explorar as ligações entre os dois artistas, das mais óbvias e trabalhadas pelos historiadores e críticos de arte logo desde o século XIX, às mais subtis. Para o fazer Magne Bruteig, de Oslo, e Maite van Dijk, do Museu Van Gogh de Amesterdão, começam por analisar o ponto de partida dos dois artistas – as influências a que estiveram sujeitos e as primeiras obras – e detêm-se mais tarde no apuramento técnico e na inovação de cada um. Só depois entram no jogo da comparação para mostrar, por exemplo, que tanto Vincent van Gogh (1853-1890) como Edvard Munch (1863-1944) fizeram de Paris um ponto de viragem e se esforçaram por “dar expressão” à arte moderna.

 

Desde 1912 que a obra dos dois artistas não aparecia, a esta escala, numa mesma exposição. As semelhanças entre o percurso dos dois homens e o seu próprio trabalho confundem os menos informados – não é raro os visitantes entrarem no Museu Van Gogh de Amesterdão e perguntarem por que razão O Grito, de Munch, não está ali – e intrigam os maiores especialistas.

 

Tanto a obra de Van Gogh como a de Munch são caracterizadas, garantem os curadores, por “uma paleta vibrante, uma linguagem profundamente estilizada, uma pincelada pessoal e arrojada e composições pouco convencionais”. Esta “descrição” da produção dos dois artistas pode ser testada no corpo de obras exposto em Oslo: 75 pinturas e 30 trabalhos sobre papel.

 

Ainda que não se saiba se chegaram a ser apresentados um ou outro, ou se chegaram a conversar, Van Dijk garante que Munch terá conhecido bem a obra do pintor holandês, lembrando que chegou a escrever, a propósito de Van Gogh: “O fogo e o ardor estiveram no seu pincel nos breves anos em que se deixou consumir pela sua arte.” Bruteig, o curador norueguês, diz mesmo que o primeiro se inspirou muito na obra do segundo. A curadora do Museu Van Gogh concorda com o colega de Oslo – não gosta da palavra “influência”, mas reconhece que os dois se encontram na ousadia da cor e nalguns aspectos da composição e da perspectiva. Além disso, ambos se cruzaram com Paul Gauguin (Van Gogh chegou a partilhar casa com o pintor francês por uns tempos e é famosa a desavença que pôs fim à sua amizade) mas com ele tinham uma divergência de base, explica Van Dijk – para Gauguin a arte vinha da cabeça, para Munch e Van Gogh ela nascia no coração.

 

Na exposição de Oslo, os visitantes podem agora ver como Munch e Van Gogh pintaram noites estreladas, trabalhadores nos campos e muitos, muitos auto-retratos. E, esperam os curadores, valorizar mais a obra dos dois artistas do que os seus percursos pessoais atormentados que ajudaram a compor o mito. É ela - a obra - que interessa.