PARECIA ATÉ UMA CIDADE
Sábado retrasado eu estava, nove da noite, em plena Praça da Alfândega. Eu e uma pequena multidão. Caminhávamos por ali, entre o Margs e o Memorial do RS, ou nos deslocávamos em direção à Casa de Cultura Mario Quintana, ou pegávamos a Ladeira para ir até o Museu de Arte Contemporânea. Ou ficávamos ali mesmo, no Margs, vendo a exposição do Ivan Pinheiro Machado – artista que, como dá para ver, é mesmo grande, com obra reconhecível –, ou a pequena mostra do acervo. Ou subíamos as escadas do Memorial, para tentar ver algo mesmo com a multidão presente.
Não fui até a Iberê, mas passei diante do Museu e do Planetário da UFRGS – e sabe o que vi, na cruzada? Multidão. Gente pra burro. Gente inteligente, querendo visitar os museus, aproveitar os microshows musicais nos prédios iluminados com destaque.
Muita gente que gosta de arte ou que quer gostar. Gente como eu, feliz, por motivos óbvios, mas não claramente discerníveis. E por que estávamos felizes?
Era a Noite dos Museus, uma sensacional iniciativa do Rodrigo Nascimento, com curadoria do incansável Francisco Marshall, sob apoio da LIC-RS, a lei de apoio à cultura do governo do estado, patrocínio da Vivo e, naturalmente, com cooperação da Secretaria da Cultura do estado e dos museus envolvidos.
Nada difícil de conceber, mas genial em sua simplicidade: museus abertos das 19h à meia-noite, entrada grátis, num sábado, com as ditas atrações musicais. Inspiração oriunda de Berlim, Alemanha.
Nas conversas rápidas com amigos, uma frase me veio espontânea e reiterada: “Parece até uma cidade isso aqui!”. Eu queria dizer da minha alegria, da felicidade geral que se via, simplesmente porque era possível concretamente, estar na rua. Isso, apenas isso: estar na rua, no centro da nossa cidade, diante dos museus. E entrar em museus, sair deles, ver gente como a gente, também interessada nessa vida, no rigor da palavra, cidadã.
(Uma só crítica, para reformar na próxima edição: nada se disse, em toda a divulgação, das exposições presentes em cada museu. Uma pena.)
Fonte> ZeroHora/Luís Augusto Fischer (fischerl@uol.com.br) em 31 de maio de 2016.