A LITERATURA E A SIGNIFICAÇÃO DAS REALIZAÇÕES EGÍPCIAS.
A escrita egípcia, denominada hieroglífica (do grego “hieróglifo” ou sinal sagrado) foi primitivamente pictográfica, isto é, cada sinal representava um objeto. Gradativamente os antigos sinais foram substituídos por caracteres que designavam sílabas, mais tarde reduzidos a vinte e quatro símbolos, que representavam sons da voz humana. Além da escrita hieroglífica, usaram os egípcios dois outros sistemas de escrita: o hierático, que era uma forma cursiva para fins comerciais e o demótico, usado nos últimos períodos e que consistia numa forma mais simples e mais popular do hierático.
Foi um sábio francês, Champollion, professor de História da Universidade de Grenoble, quem conseguiu pela primeira vez traduzir um texto de hieróglifos, gravado na famosa Pedra de Roseta. Esta pedra achada por acaso durante a expedição de Napoleão ao Egito, possui duas outras inscrições, além da hieroglífica: uma em caracteres demóticos e outra em grego, tradução da primeira. A comparação dos nomes de Ptolomeu e Cleópatra, escritos em grego, com seus correspondentes em demótico e em hieróglifos, ofereceu a chave para a decifração do enigma, iniciando-se, assim, uma nova fase no estudo da história do Egito.
A literatura foi de natureza, sobretudo, religiosa e filosófica. As suas mais antigas manifestações são constituídas por inscrições feitas nas pirâmides e em túmulos suntuosos. Merece citação a “Canção do Harpista”, repassada de cepticismo em relação à vida depois da morte e sugerindo o gozo dos prazeres mundanos. Além dos textos esculpidos nos túmulos e nas pirâmides, havia também escritos feitos em papiros com textos de argumento filosófico, contos, romances e hinos religiosos. O “Diálogo de um Misantropo com sua Alma”, ao contrário da famosa “Canção do Harpista”, é uma condenação das iniquidades e injustiças desta vida e uma exaltação da outra, verdadeira libertação de todos os infortúnios humanos.
Eram muito conhecidas “As aventuras de Sinehue”, autobiografia movimentada e repleta de episódios interessantes, “O Eterno Triângulo”, que se poderia chamar de tentativa de novela psicológica e a “História do Náufrago”, odisseia vivida por um marinheiro egípcio.
São famosos o “Hino a Amon-Ra” e o “Canto triunfal de Ramsés II”, que exaltam a grandeza da divindade amoniana e os feitos do faraó vencedor dos hititas. Merecem especial menção os chamados “livros dos mortos”, compilação de textos de fundo moral que deveriam ser recitados pela alma do morto ao comparecer ante o Tribunal de Osíris.
A literatura egípcia projetou-se na literatura de outros povos. No Livro dos Provérbios (Provérbios, Antigo Testamento/Bíblia) de Salomão, por exemplo, sente-se a influência de um livro egípcio intitulado “A Sabedoria de Amenemope”, obra de fundo ético e didático.
A contribuição da civilização egípcia para ideias religiosas e éticas é transcendental. No Nilo derivou-se uma grande parte do progresso intelectual das épocas posteriores. A filosofia, a astronomia, a matemática, a escrita e a literatura nasceram no Egito. Tal fato, por si só, já é suficiente para que se tenha uma ideia bem nítida da importância da herança que foi legada à posteridade pela velha civilização dos faraós.