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Uso das Telas por Bebês, Crianças e Adolescentes
Uso das Telas por Bebês, Crianças e Adolescentes

É COM A MOMO QUE DEVEMOS NOS PREOCUPAR?

 

O que mais nos assusta é a certeza de que nossos bebês, crianças e adolescentes estão, sim, expostos por muito tempo na internet, muitas vezes sem filtro e/ou fiscalização.

 

Perigo sempre existiu desde que o mundo é mundo. O que garante a sobrevivência das espécies é exatamente a capacidade de encontrar soluções para os problemas e os riscos do seu ambiente. Com o ser humano não deixa de ser diferente: a medida que evoluímos, surgem novos desafios, e precisamos pensar sobre novas soluções.

 

Um dos desafios dos últimos dias foi o perigo da Momo, uma figura que estaria em vídeos infantis incitando o suicídio, automutilação e agressão contra outras pessoas. O caso alertou novamente pais e especialistas e retomou a questão sobre o risco do uso da internet e das telas por bebês, crianças e adolescentes.

 

Penso que o que mais nos assusta na ideia da Momo é a certeza de que nossos bebês, crianças e adolescentes estão, sim, expostos por muito tempo na internet, muitas vezes sem filtro e/ou fiscalização, suscetíveis ao que aparecer. Hoje é a Momo, ontem era a Baleia Azul, o que será que virá mais adiante?

 

Porém, não adianta nos escandalizarmos, entrar em pânico e achar que o mundo atual é um lugar horrível para se viver. Isso só nos trava e impede nossa capacidade de pensar. A internet é incrível, e a tecnologia, uma facilidade. Esse é um caminho sem volta! É preciso refletir constantemente sobre o tema. Precisamos pensar sobre os impactos, as vantagens, os riscos de tudo isso. As consequências desse uso para o desenvolvimento de bebês, crianças e adolescentes, bem como dos adultos, vêm sendo discutidas por especialistas das mais diversas áreas, e os resultados são preocupantes. As telas estão sendo utilizadas numa frequência e intensidade muito maior do que o corpo e a mente humana são capazes de processar.

 

Bebês já nascem sendo fotografados por um smartphone. Crescem com seus cuidadores mexendo nesse aparelho todo tempo. Mesmo antes de falar, já sabem clicar nas telas com seu pequeno dedo indicador. Não há nada de “bebês digitais”, como muitos denominam: são apenas os bebês humanos de sempre exercitando sua incrível capacidade de observação, imitação e adaptação ao meio – que hoje está cheio de telas. Até aí estamos seguindo o curso natural da vida humana.

 

A questão é quando se perde o processo natural. Aí temos o risco: o risco à integridade humana. E essa integridade não está apenas ameaçada pelas possíveis sugestões de morte da Momo. A ameaça diária e sutil está no tempo de exposição às telas, na função que elas ocupam na vida das pessoas e no conteúdo das informações acessadas.

 

Essa é uma questão crucial porque atinge a todos nós. Temos hoje um aparelho mágico com conteúdo infinito que hipnotiza bebês, crianças, adolescentes e adultos, captura a atenção e aparentemente traz a paz para o ambiente. Em tempos de tanta agitação, demandas e falta de tempo, nós, adultos, naturalmente ofertamos esse recurso para os filhos para que fiquem quietos, parados, não atrapalhem, não reclamem, não corram no restaurante, comam a sua comida, aguentem o tempo de viagem, não se frustrem, não chorem, não demandem. E assim, sutilmente, mutilamos o desenvolvimento de habilidades essenciais para a vida humana. Em tempos de violência, parece ser menos arriscado para um adolescente ficar dentro de casa, jogando no computador ou vendo vídeos na internet. Mas, na era digital, essa aparente tranquilidade pode conter riscos, risco que entram de forma silenciosa e autorizada dentro da própria casa.

 

O desafio é novo, mas a solução é antiga. Evoluímos em termos de tecnologia, mas continuamos os mesmos em termos físicos e emocionais. Precisamos continuar, como sempre, protegendo bebês, crianças e adolescentes. Proteger, acompanhar, observar. É preciso protegê-los dos riscos digitais, assim como os protegemos das janelas, dos produtos químicos, dos remédios, das escadas em casa. É preciso estar junto, como fazemos na hora de atravessar a rua. É preciso informar-se com quem estão como quando vão dormir na casa de um amigo. Se não deixarmos uma criança sozinha no meio da multidão num shopping, porque a deixaríamos na internet, o tempo que ela quiser? Não podemos exigir que eles saibam o que é certo ou errado ou o limite de parar. Falta de tempo e disponibilidade para isso são a porta de entrada para os riscos da internet, aumentam a vulnerabilidade e a necessidade de maior uso das telas.

 

Cuidar é o limite! Acompanhar é o limite. Apenas estar junto. Olhar no olho. Sim, em tempos atuais, precisamos relembrar a olhar no olho do outro. Observar, dialogar, ajudar a compreender e a pensar são as melhores proteções contra qualquer perigo, ontem, hoje e sempre!

  

Fonte: Zero Hora/Caderno DOC/Giuliana Chiapin/Psicóloga, mestre em saúde mental e desenvolvimento infantil pela Tavistock Clinic/Londres em 24/03/2019.