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Biografia de Augusto Licks: Contrapontos
Biografia de Augusto Licks: Contrapontos

LICKS E A LENDA DO GUITARRISTA SEM CABEÇA

 

Misteriosa história de Augusto Licks, guitarrista que deixou os Engenheiros do Hawaii no auge do sucesso, é tema de livro

 

Livro: CONTRAPONTOS de Fabricio Mazocco e Silvia Remaso – Editora Belas Letras, 320 páginas

 

Pronta desde o ano passado e com pré-venda desde fevereiro, a biografia CONTRAPONTOS, que conta a história do guitarrista Augusto Licks desde sua infância até a conturbada saída dos Engenheiros do Hawaii, ainda não tem data oficial de lançamento. O motivo: Fabricio Mazocco e Silvia Remaso, os autores do livro, não conseguem convencer o biografado a sair de casa para participar da sessão de autógrafos.

 

Um dos mais célebres “bichos do mato” do rock nacional, Licks sempre teve sua trajetória cercada de mistério – mesmo quando tocava o riffs rebuscados e conceituais de Infinita Highway, Terra de Gigantes ou O Papa é Pop para milhares de fãs, era pouco afeito a entrevistas ou aparições fora do palco. No livro, os jornalistas paulistas Fabricio Mazocco e Silvia Remaso tentam desbravar esse terreno pantanoso por meio de entrevistas (foram mais de 50) e pesquisas. Dividida em duas partes – antes e depois da entrada de Augustinho, coo o músico é conhecido, nos Engenheiros –, a narrativa parte da infância do músico em Montenegro, passa por sua parceria com Nei Lisboa, a vida nos Estados Unidos e o trabalho como jornalista e radialista. O maior foco, claro, está nos bastidores dos sete anos que passou nos Engenheiros ao lado de Humberto Gessinger e Carlos Maltz.

 

Sempre fui fã de rock’n’roll e acompanhei o Engenheiros. Em setembro de 1990, fui a meu primeiro show deles e fiquei espantado com a figura do Augusto, de óculos de grau, cabelo penteado para trás, roupa social. Algo meio antirrock. Admito que comecei a tocar guitarra por causa dele – conta Mazocco, que, desde a conturbada saída de Licks da banda, em 1994, deixou fermentando a ideia de escrever o livro.

 

LICKS DEU DEPOIMENTOS APÓS MUITA INSISTÊNCIA

 

- Tudo bem – disse Licks, quando pela primeira vez ouviu falar da intenção de Mazocco de escrever sua biografia – Mas eu não vou falar, e você vão ter dificuldade em fazer.

 

O consentimento do guitarrista se deu com uma condição: incluir Silvia Remaso no projeto. Dona de um blog sobre o guitarrista desde 2008, a paulista de Osasco é provavelmente a maior fã do músico no Brasil. Há mais de 10 anos, dedica-se a juntar tudo sobre Licks que encontra pela frente, fruto de uma admiração que cultiva desde o início da década de 1990, época em que rodava o Brasil atrás de shows dos Engenheiros.

- Quando saí da faculdade, não tinha o que fazer e comecei a criar blogs, um deles sobre o Licks. Ninguém sabia o que tinha acontecido com ele, era a lenda do guitarrista sem cabeça, até que um dia peguei o telefone dele na lista telefônica e liguei. As pessoas acham que não, mas ele é muito comunicativo. Fomos mantendo contato. Acho que ganhei a confiança dele – conta Silvia, que ficou responsável pela primeira parte do livro.

 

Grande mistério envolvendo Augusto Licks, a saída dos Engenheiros do Hawaii em meio a xingamentos, processos e declarações atravessadas de lado a lado, é abordada nas últimas 50 páginas do livro. Licks não gosta de falar do assunto e não atendeu aos pedidos da reportagem para dar seu depoimento sobre o livro. Sua versão da separação da banda passa pelas protocolares divergências pessoais e artísticas e nada acrescenta ao que se torou público à época: a ruidosa separação envolveu até a disputa judicial pelo nome do grupo.

 

Depois de sair dos Engenheiros, Licks voltou a trabalhar como jornalista, compôs trilhas para teatro e, mais recentemente, passou a ministrar workshops musicais. Vive no Rio de Janeiro e, em outubro de 2018, depois de 25 anos, voltou a tocar em Porto Alegre, com seu irmão José Rogério, no projeto Licks Blues. Naquela ocasião, deu um raro depoimento sobre o episódio:

- Eu estava muito impregnado da banda, vivia em função disso. Tocava muitos solos em cada show e ficava sempre os reciclando, criando variantes para não repetir sempre a mesma coisa. Era muito intenso. No momento em que saí, não tinha como entrar direto em outra história. Já que a banda não existia mais para mim, era o caso de exorcizar isso, o que levou muito tempo – explicou a Alexandre Lucchese, jornalista de Zero Hora e autor de INFINITA HIGHWAY, biografia dos Engenheiros do Hawaii.

 

CONTRAPONTOS se escora em material de arquivo, depoimentos de pessoas envolvidas na trajetória do músico e em impressões de quem viu tudo de fora. Humberto Gessinger, líder dos Engenheiros do Hawaii e um dos pivôs do caso, trata a situação como uma inconsequência de jovens imaturos.

- Sabe o que eu acho de verdade? Acho que o Augusto se fechou porque sabia que a mídia nunca iria lhe dar espaço para expor o lado dele – especula Silvia.

 

Fabricio complementa:

- Conversamos pouco sobre isso. Ele não falou sobre o caso na época e não gosta de falar agora. Não foi uma saída normal, e acho que isso o tornou um cara ainda mais recluso.

  

Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno/Gustavo Foster (gustavo.foster@zerohora.com.br) em 26/03/2019