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Primeira Circum-Navegação Brasileira
Primeira Circum-Navegação Brasileira

A CHINA MAIS PERTO

Autores contam processo de produção de livro que narra primeira volta ao mundo realizada pela Marinha do Brasil, no século 19, com uma polêmica missão que tinha como objetivo trazer mão de obra chinesa para o país

Livro: PRIMEIRA CIRCUM-NAVEGAÇÃO BRASILEIRA e Primeira Missão Diplomática do Brasil à China (358 páginas) - Publicação da editora Dois por Quatro, apresenta documentos e imagens da grande aventura, a primeira volta ao mundo de um total de oito já realizadas pela Marinha do Brasil, além de relatos, por exemplo, de como a expedição era recebida nos portos por onde atracava - "Com admiração", assinala o capitão Pierre Paulo da Cunha Castro, chefe do Departamento de História da Marinha do Brasil, na apresentação.

Jeff Franco e Marli Cristina Scomazzon são coautores das obras A CAMINHO DO OURO - Norte-americanos na Ilha de Santa Catarina (2015) e HISTÓRIA NATURAL DA ILHA DE SANTA CATARINA: o Códice de Noronha (2017), ambos publicados pela editora Insular.

 

Em 1879, o Brasil enviou à China uma missão diplomática com objetivo de promover a importação de mão de obra chinesa para substituir o trabalho escravo. A missão ocorreu em meio a uma grande polêmica, uma animada controvérsia que ficou conhecida como "A Questão Chinesa".

 

Descobrimos esse feito num jornal da Califórnia de 1880 durante pesquisas para um livro sobre a presença maciça de norte-americanos em Florianópolis durante a Corrida do Ouro (1849/1856). O periódico norte-americano falava de uma aventura feita pela corveta da Marinha do Brasil Império chamada Vital de Oliveira, que tentava dar a primeira volta ao mundo de um barco brasileiro. A tripulação tinha sido quase dizimada pelo beribéri durante a travessia do Japão à América do Norte. O barco já havia deixado na China a missão diplomática brasileira. A missão ficou centralizada na cidade de Tien Tsing, perto de Pequim, por quase três anos de muitas idas e vindas e intermináveis debates entre chineses e brasileiros.

 

Conseguimos documentos sobre a missão muito importantes no National Palace Museum (Taiwan) e nos arquivos do Itamaraty e descrevemos o clima das negociações que não era, por sinal, muito bem vista pelo Imperador Pedro II. Ao final, o Brasil obteve um acordo, mas a imigração de chineses não se efetivou, sobretudo por resistências do Império Chinês, atormentado que estava pelo tratamento desumano dado a seus concidadãos especialmente em Cuba e no Peru.

 

Nosso livro, intitulado PRIMEIRA CIRCUM-NAVEGAÇÃO BRASILEIRA E Primeira Missão Diplomática do Brasil à China, começa com a partida da corveta do Rio de Janeiro, levando cerca de 22 oficiais, 126 marinheiros imperiais, 15 foguistas e 21 soldados navais. Lemos cerca de 4 mil páginas manuscritas dos livros de bordo, ricos em detalhes sobre os incidentes e o dia a dia da Vital de Oliveira. É claro que, nesses livros, não estão descritas, por exemplo, as privações alimentares sofridas pela tripulação, mas depois relatadas detalhadamente pelo capitão e pelo médico da expedição.

 

A circum-navegação durou 430 dias, sendo 268 nos mares e 162 nos portos. A viagem chegou ao fim em 24 de janeiro de 1881, voltando com muito menos homens que embarcaram naquela difícil e imprevisível jornada. Nos dedicamos, principalmente, a levantar os nomes de todos marinheiros anônimos, pois acreditamos que eles deveriam ser resgatados do sofrimento e esquecimento a que ficou regalada aquela expedição.

 

Nesse trabalho, procuramos ainda relatar o clima político envolvendo as duas missões como forma de, ao ressaltá-los, demonstrar com o a polêmica sempre foi uma tônica na vida social brasileira. Além disso, narramos inúmeros episódios curiosos, seja pela admiração/estranhamento do encontro do novo (no contato com povos tão diferentes como egípcios, japoneses, malteses, ceilandeses e outros), seja pelas dificuldades encontradas nas negociações com uma civilização tão diferente da nossa ocasionaram.

 

 

Fonte: Zero Hora/Caderno Doc/Marli Cristina Scomazzon e Jeff Franco em 08/11/2020