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Conforto para Estimular a Leitura
Conforto para Estimular a Leitura

CONFORTO PARA DEIXAR A LEITURA MAIS GOSTOSA

 

Biblioteca de escola ganha almofadas e capas para colchonetes coloridas doadas por um pai para incentivar gosto por livros.

 

Bem acomodado sobre uma cama improvisada com suporte de madeira e colchonetes, um menino de seis anos, deitado e de pernas cruzadas, folheava, dias atrás, um exemplar de BAMBOLETRAS, do escritor Dilan Camargo. Aluno do 1º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Matias de Albuquerque, ele ainda não está alfabetizado, mas se concentrava nas páginas como se pudesse decifrar o texto.

- O que você está fazendo? Questionou Cláudia Adriana de Souza Campos, diretora da instituição no bairro Aberta dos Morros, na Capital.

- Tô lendo, diretora. Não me atrapalha! - respondeu o pequeno.

 

O episódio ilustra o quanto agradou à garotada uma das principais novidades deste início de ano letivo na instituição de ensino. Em novo espaço, agora exclusivo, a Biblioteca Mario Quintana, que antes dividia a mesma área com o laboratório de informática, ganhou um atrativo e tanto: uma coleção de aproximadamente 30 almofadas, além das capas para os colchonetes que cobrem o móvel para deitar, construído com pallets, o mais disputado. Os acessórios foram doados pelo estofador Marco Aurelio Martimbianco, 52 anos, pai de um ex-aluno da escola.

 

Apreciador do valor que os professores da Matias de Albuquerque dão à presença da literatura no dia a dia das crianças, Martimbianco resolveu contribuir, confecionando as peças com sobras de courino, um tecido resistente e impermeável, e espuma picada. O gesto fez a alegria dos mais de 200 estudantes.

- Achei incrível! A gente tem bastante conforto – empolga-se Maria Eduarda dos Santos Inacio, 10 anos, do 5º, manuseando ERA UMA VEZ UMA BOTA, de Graça Abreu e Liz Zatz, recostada em uma pilha de almofadas.

 

EMPENHO PARA CRIAR INTERESSE E HÁBITO

 

Nos últimos anos, o colégio vem concentrando esforços no incentivo ao gosto pelas histórias. Toda segunda-feira, pela manhã e à tarde, toca-se uma sineta parra avisar que está na hora de ler. Os alunos circulam entre a biblioteca e as salas de aula, escolhendo, retirando e devolvendo livros. No dia seguinte, os professores conduzem alguma tarefa relacionada às leituras, como escrever, desenhar ou confeccionar objetos.

 

O prédio tem, além da biblioteca, cinco cantinhos de leitura, com bancos, mesas e livros, tudo muito colorido e convidativo.

- A vida tem de ser colorida – acredita Cláudia.

 

Por falta de uma bibliotecária, o vaivém dos livros entre a casa e a escola é de total responsabilidade dos alunos. Os títulos são transportados em uma sacolinha específica para esse fim, entregue pela direção a cada um dos estudantes. Isabella dos Santos Pereira, sete anos, do 3º ano, fã do clássico JOÃO E O PÉ DE FEIJÃO,é uma cliente ativa. Sorri quando fala sobre a paixão pelas letras:

- Cresce a imaginação!

 

Isabella gosta de ler para o irmão, Gabriel, quatro anos, “quando meus pais estão ocupados”. Às vezes, degusta o livro primeiro, sozinha, para depois compartilhar a história com ele, mas prefere quando ambos descobrem juntos o enredo. Gabriel já está aprendendo as primeiras letras e consegue escrever o próprio nome.

- Eu que ensinei – orgulha-se ela.

 

No pátio da frente, avista-se a “bibliobike”, invenção da diretora: a partir de doações de objetos sem uso, ela pintou e deu nova cara a uma bicicleta que puxa, por uma corda, uma cadeira de rodas, onde estão diversos títulos, adultos e infantis. Membros da comunidade podem escolher exemplares para empréstimo, devolvendo ao final da leitura.

- Observamos que os pais não tinham acesso a livros. Queríamos que as famílias participassem para incentivar as crianças – justifica Cláudia, informando que escolas de Rio Pardo e de Santana do Livramento também se interessaram pelo projeto.

 

Foi assim que uma senhora, frequentadora de um programa de Educação para Jovens e Adultos (EJA), conseguiu realizar o sonho de ler seu primeiro livro, com a emoção adicional de compartilhar a leitura com a neta.

- Eu nunca poderia comprar. Ou compro o pão, ou compro o livro – contou a avó a Cláudia.

 

RESULTADO JÁ É VISÍVEL NO DIA A DIA

 

O corpo docente comemora os benefícios que a intensificação do hábito de ler tem trazido: ampliação do vocabulário, melhora na ortografia e na maneira de expressão, incentivo à espontaneidade e à criatividade – durante a entrevista, uma menina usava o cenário de um teatrinho de dedoches para reinventar o drama de Chapeuzinho Vermelho, que desta vez fora assaltada e teve todo o seu dinheiro roubado.

- É uma leitura do mundo real inserida na ficção – comenta Cláudia.

- A biblioteca é o coração de uma escola. Eles têm vontade fr vir à biblioteca, vontade de ler. Não importa a ferramenta que você use, o importante é fazer alguma coisa

 

Larissa Paim, sete anos, do 2º ano, conta que tem lido com a mãe para superar algumas dificuldades na composição de palavras: ainda confunde o “d” com o “b”. Admiradora de princesas, em especial Rapunzel, a menina, vestindo uma camiseta com os dizeres Fight Like a Girl (lute como uma garota), disse que vinha procurando livros sobre o tema na Biblioteca Mario Quintana, mas ainda não havia conseguido encontrar nenhum. Por coincidência, uma estante a poucos metros dela exibia A REVOLTA DAS PRINCESAS, de Lisbeth Renardy e Céline Lamour-Crochet.

Surpresa, Larissa falou:

- Prometo que vou ler.

 

PARA AJUDAR:

 

A Biblioteca Mario Quintana, da Escola Estadual de Ensino Fundamental Matias de Albuquerque (Avenida Juca Batista, 3450, bairro Aberta dos Morros, em Porto Alegre), aceita doações de livros. Mais informações pelo telefone (51) 32647148.

 

 

Fonte: Zero Hora/Sua Vida=Educação/Larissa Roso (larissa.roso@zerohora.com.br) em 19/03/2019