UM SONHO DE LIVRARIA
PocketStore Livraria abre em Porto Alegre, sob o comando de sócios da editora L&PM, apostando na curadoria e em autores gaúchos
Há quase 45 anos à frente da editora L&PM, Ivan Pinheiro machado realiza um antigo sonho hoje (em 28 de março), com a abertura oficial da PocketStore Livraria. O projeto propriamente dito tem cerca de um ano, mas o editor, e agora também livreiro, aguardava o ponto perfeito. Encontrou-o no número 1.167 da Rua Félix da Cunha, uma das calçadas mais charmosas de Porto Alegre, repleta de pequenos estabelecimento, em frente ao Shopping Moinhos.
A PocketStore não é a “livraria da L&PM”, mas um projeto pessoal de Ivan e de seu sócio Paulo de Almeida Lima (o L e o PM do nome da editora). Com 70 metros quadrados, foi pensada como uma livraria de bairro, com foco no “bom livro”, segundo Ivan. Para a constituição do estoque, convidou o irmão, José Antonio Pinheiro Machado (o Anonymus Gourmet), e o professor de literatura Luís Augusto Fischer para colaborarem na curadoria. Há muita literatura, mas também títulos de não ficção, de diferentes editoras. O catálogo da L&PM ganhou uma parede só dele, com prateleiras iluminadas em LED.
O empreendimento funciona desde segunda-feira em soft opening, mas hoje sediará o primeiro evento, o lançamento do novo livro de Eduardo Bueno. Ivan acredita que uma editora deve ser “cosmopolita”, mas uma livraria, “provinciana”. Recorda o tempo em que a Capital era bem servida por duas redes locais: a Livraria do Globo e a Sulina. Pensando na missão de prestigiar a cultura do Estado, a PocketStore tem, logo na entrada, uma seção dedicada exclusivamente a autores sul-rio-grandense, dos clássicos aos novos.
- Quando digo que a livraria deve ser provinciana, não é que os títulos sejam provincianos. É que deve pensar em seu mundo, ter autores gaúchos sem possibilidade de exposição e também os conhecidos. Sergio Faraco é um dos maiores escritores brasileiros, mas é difícil encontrar seus livros (nas lojas das grandes livrarias). Aqui tem.
A EXPERIÊNCIA DO LIVRO FÍSICO
Ivan quer confrontar o que os francófonos chamam de idée reçue, ou seja, uma ideia amplamente aceita como verdadeira, mas que não necessariamente foi examinada. Uma delas é que os leitores estariam deixando de frequentar livrarias físicas para comprar pela internet. Ivan acredita que a experiência de descobrir títulos pessoalmente e folheá-los é insubstituível. Outra idée reçue é que uma livraria precisaria apostar em best-sellers. A PocketStore os têm, mas estão bem balanceados no mix.
- Nossa vida é uma pesquisa de mercado constante. Edito um livro e vejo, na lata, se vender ou não – diz Ivan, que espera “depurar” um modelo para a livraria nos primeiros quatro ou cinco meses, eventualmente ajustando os espaços para cada seção.
A crise que afetou o mercado livreiro no país com os pedidos de recuperação judicial da Livraria Cultura e da saraiva pode parecer um timing temerário, mas Ivan avalia que a crise é das megastores e que as pequenas e médias livrarias se fortaleceram, citando outros exemplos na Capital. Admite até a possibilidade de crescimento:
- Penso em fazer um modelo de livraria que, em um futuro próximo, possamos expandir para outros lugares, em Porto Alegre e em outras cidades, principalmente São paulo, onde temos uma boa entrada. Mas sempre desse tamanho, com 70 metros quadrados, nunca maior do que isso. Para ter uma personalidade, uma cara.
Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno/Fábio Prikladnicki (fabio.pri@zerohora.com.br) em 28/03/2019