A ARTE E AS PAIXÕES DE BIBI FERREIRA
Com shows em Porto Alegre para cantar sucessos de Frank Sinatra, a diva fala da admiração pelo ídolo e por um tradicional símbolo gaúcho: o Laçador.
Bibi Ferreira chega a Porto Alegre neste fim de semana para renovar duas paixões. A primeira, um amor antigo que ela celebra no palco: um show inteiramente dedicado ao repertório de seu cantor favorito, Frank Sinatra. E tanta gente quis ver grandes clássicos como STRANGERS IN THE NIGHT e MY WAY na voz da diva brasileira que, além do show marcado para sábado, foi aberta uma sessão extra neste domingo.
Em entrevista por telefone, a artista de 93 anos declara seu amor por Sinatra, revê momentos de seus mais de 70 anos de carreira e explica por que não usa celular.
E a segunda paixão que Bibi vai celebrar em Porto Alegre? O Laçador.
A senhora chega a Porto Alegre com o repertório de Frank Sinatra. Como é dedicar um show a seu cantor favorito?
Não é somente meu cantor favorito, ele é considerado a voz do século. Desde que eu era muito mocinha, sempre tive um a grande admiração por ele. Tudo dele é maravilhoso, a maneira como canta e como expõe o sentimento.
A senhora disse que não queria encontrá-lo pessoalmente por medo de se apaixonar.
Ah, sim, tenho certeza de que se eu o encontrasse pessoalmente iria me apaixonar perdidamente. O Sinatra era um homem apaixonante, tinha um sex appeal incrível, era elegante, simpático e de um talento todo especial. É natural que qualquer mulher se apaixonasse por ele. Ele tem um público enorme, não sou só eu.
Este show marca a celebração de seus 93 anos, completados em junho. Em quase um século de vida, quais os grandes momentos no palco que a senhora destaca?
Primeiro, minha estreia com meu pai. Foi uma data realmente memorável, dia 28 de fevereiro de 1941 – e perigosa porque eu não tinha absolutamente nenhuma ideia do que era o teatro. Outra data memorável foi a estreia do grande musical MY FAIR LADY (1962), a primeira vez em que se fez um grande musical no Brasil. Foi com nosso saudoso Paulo Autran, e um momento muito importante na minha vida pela qualidade do espetáculo que conseguimos dar para o público, com uma esplêndida e enorme orquestra. Era com o Paulo e também o Jaime Costa – eu estava muito bem rodeada como poucas vezes estive no teatro na minha vida.
Nos últimos anos, vem crescendo a onda de musicais no Brasil. A senhora tem acompanhado essa movimentação?
Acho muito válida, e o público brasileiro cada vez mais se interessa por musicais – não só os estrangeiros, mas os nossos também. Isso é muito, muito bom. Quando comecei minha carreira, o musical não era tão importante assim. Ao contrário: quando o público ia assistir a um musical, ficava meio ressabiado porque não gostava daquele momento em que o ator para de representar e começa a interpretar uma canção.
A senhora planeja voltar ao palco como atriz ou diretora?
Se eu conseguir uma peça à altura, com a qualidade, por exemplo, da última que eu fiz, AS FAVAS, do Juca de Oliveira, aí volto. Agora, voltar com uma peça qualquer, não, é muito arriscado. Tenho que voltar para o palco quando encontrar uma peça de muita categoria, se possível cômica porque prefiro as engraçadas.
E fora do palco, que momentos na sua trajetória a senhora destaca?
Levo uma vida muito simples, por isso não tenho muito a destacar da minha vida particular. Posso destacar que sou católica apostólica romana, vou à igreja, rezo toda noite e dou muito valor à minha reza. E minha melhor prova é a maneira como me comporto na vida, uma maneira muito simples, muito amiga dos meus, dos que me rodeiam.
A senhora é, então, adepta da simplicidade no dia a dia?
Sou assim, que vou fazer. É muito importante não complicar.
E hoje as pessoas complicam bastante, não?
Sim, e isso é complicado (risos).
A senhora costuma usar internet ou celular?
Não
Por quê?
Porque eu facilito a minha vida. Os outros fazem isso e me contam (risos). Não sei se você sabe, falar ao telefone para quem canta é muito ruim, porque desloca a voz. Eu não gosto de futrica, de mexerico, de ficar o dia inteiro pápápápá no telefone, comentando coisas com uma amiga. Não tenho como nem por quê. Não faz meu gênero.
A senhora é referência por sua carreira tão longeva.
Levei uma vida muito simples, muito correta. Estar a postos nas minhas obrigações parece muito corriqueiro e simples, mas é verdadeiro: você deve ter respeito por seu trabalho. É isso que me conservou Bibi Ferreira até hoje, esses 75 anos de carreira. Minha correção, meu respeito a tudo que rodeia minha carreira e minha vida.
E o segredo de sua vitalidade?
Não gosto muito de falar, não é muito bom a gente estar sempre lembrando as coisas boas que Deus e o destino nos deu. Acho que é boa saúde. Tendo saúde, você tem tudo. É só fazer um pouco de esforço e vai trabalhar, vagabundo, né (risos)?
Quais são os seus planos para 2016?
Vou lhe dizer uma coisa: eu não faço planos. Organizo quando tenho de organizar minhas turnês, meus trabalhos. Mas nunca tive planos nem sonhos, penso só nas coisas práticas da vida, o que vou fazer a seguir. Tenho de me apresentar em Porto Alegre e pretendo estrear bem, e com isto vou, cheia de entusiasmo. Inclusive porque, como meu pai dizia, essa é a melhor plateia do Brasil.
Quando a senhora vem a Porto Alegre, há algum lugar que faça questão de rever?
Acho a coisa mais bonita e sensual aquele gaúcho maravilhoso, aquela estátua que a gente vê quando salta do aeroporto. Tenho paixão pelo laçador, demonstra todo o vigor e a virilidade do homem gaúcho.
Fonte: Revista DonnaZH/Patricia Rocha em 06/12/2015