RINGO STARR ENTRE FAMA, TRAIÇÃO E DESPREZO
Biografia do baterista dos Beatles lançada no Brasil ilumina altos e baixos de sua trajetória íntima e artística.
Biografias de John Lennon e Paul McCartney brotam nas livrarias a cada temporada. Relatos da vida de George Harrison também aparecem em intervalos cíclicos. Mas não é todo dia que Ringo Starr, 78 anos, baterista dos Beatles, ganha um volume sobre sua vida. Entre poucos títulos, sai agora(em outubro) no Brasil o mais ambicioso já produzido para ele.
RINGO foi escrito pelo jornalista americano Michael Seth Starr.
- É o que eu gosto de chamar de uma feliz coincidência. Não somos parentes. Starr é o sobrenome da minha família. Ele nasceu Richard Starkey – explica o autor.
Seu livro, lançado nos Estados Unidos há três anos, causou comoção entre os fãs. Nele, há um relato consistente do caso entre George Harrison e Maureen Cox, primeira mulher de Ringo e mãe de seus três filhos. A descrição do jantar no qual George Harrison admitiu a relação para o amigo Ringo, em 1973, é impactante.
Provocou surpresa e certa indignação a percepção de que Paul McCartney tratava com desprezo as habilidades musicais de Ringo. É notório que o produtor do grupo, George Martin, nunca valorizou muito o trabalho de Ringo na bateria dos Beatles, mas nenhum biógrafo levantou essa objeção de McCartney como o livro expõe:
- George Martin nunca foi grande fã dele como baterista da banda, mas, as fazer minha pesquisa, senti que Paul McCartney tinha uma atitude condescendente em relação a Ringo. Às vezes, ele o tratava quase como um músico contratado, não um parceiro.
O debate sobre as possíveis limitações de Ringo como instrumentista atravessa toda a narrativa do livro. Hoje, o músico tem fãs de seu estilo com as baquetas, mas ainda continua carregando uma legião de críticos impiedosos.
O biógrafo acredita que o mais famoso baterista do mundo merece mais respeito:
- É verdade que ele não era um compositor como os outros Beatles, mas sua contribuição como músico e como personalidade foi valiosa.
O livro traz um capítulo final em que o Ringo baterista é analisado, e muito elogiado, por grandes nomes do instrumento no rock, como Phil Collin, John Densmore (The Doors) e Max Weinberg (baterista de Bruce Springsteen).
Quanto ao caso extraconjugal de Maureen, o autor não acha que tenha tido tanto impacto na relação com George.
- Foi um choque para Ringo saber que um de seus “irmãos” tinha um caso com sua mulher, mas ele e George Harrison conseguiram passar por isso, tinham uma amizade muito forte.
PRIMEIRO DOS FAB FOUR A ESBOÇAR SAÍDA DO GRUPO
Em 1973, os casamentos de Ringo e George (com Pattie Boyd) andavam péssimos, com infidelidades de todos os lados. O caso foi o estopim para a separação de George. Ringo terminou sua relação com Maureen, mas eles continuaram amigos. Estava ao lado da ex-mulher quando ela morreu em 1994, com câncer.
O autor não conseguiu encontrar o músico, nada disposto a incentivar investidas sobre sua vida. Seth então fez dezenas de entrevistas para relatar a juventude de Ringo em Liverpool como um garoto de saúde frágil numa família que, abandonada pelo pai, teve dificuldades financeiras.
Ringo é classificado como “o Beatle engraçado”, ou “o pacificador”. Uma espécie de cola que uniu o quarteto em crises, por ser muito amigo dos três donos de grandes egos que o cercavam. Mas o biógrafo ressalta que Ringo foi o primeiro a esboçar uma saída do grupo, afastando-se durante uma parte das gravações do WHITE ALBUM, em 1968.
- Ringo saiu do estúdio sentindo-se subvalorizado e ignorado e passou algumas semanas no iate de seu amigo Peter Sellers, na Sardenha – revela o biógrafo – Quando ele retornou, George deixou o grupo por um tempo. Como sabemos agora, aquela fase foi o começo do fim dos Beatles.
O livro também explora o período pós-Beatles. O sucesso de Ringo, bom vendedor de discos nos anos 1970, empurrou o músico rumo ao álcool e às drogas. Ele e a segunda mulher, a atriz e “Bond girl” barbara Bach, conseguiram se reabilitar e estão juntos até hoje.
O lado agregador de Ringo, tão importante na dinâmica interna dos Beatles, permanece. Desde 1989, ele excursiona com sua All-Starr Band, na qual recruta veteranos do rock, sempre mudando a formação. (Em 2011, o músico fez show em Porto Alegre, como parte de uma turnê internacional). Em 2018, a banda reúne ex-integrantes de grupos como Toto, Journey, Men At Work, Santana e Kansas.
- Ringo era naturalmente sociável na juventude, então acho que teria muitos amigos em qualquer atividade que seguisse. Mas o mundo do rock ofereceu a ele um senso de fraternidade e camaradagem que ele não teve em casa, como filho único – define Starr.
Livro: RINGO de Michael Seth Starr – Laura Folgueira – Editora Planeta, 480 páginas.
Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno/Thales de Menezes (Folhapress) em 04/10/2018