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Luis Fernando Veríssimo, O Humorista de Petrópolis
Luis Fernando Veríssimo, O Humorista de Petrópolis

O HUMORISTA DE PETRÓPOLIS

 

Humor é uma visão de mundo que não se integra à vida institucional.

 

O bairro Petrópolis, em Porto Alegre, tem a sorte de ser iluminado pela beleza do Jardim Botânico. É o bairro da Igreja São Sebastião e do Centro Espírita da Caju. E também vive por aqui o humorista mais conhecido do Brasil. Acertou quem já imaginou que se trata do colorado Luis Fernando Verissimo. Um rebelde que nem aos 81 anos arrefeceu seu entusiasmo de viver e escrever. Diminuíram suas ilusões, como as de nós todos, mas ele mantém o princípio esperança.

 

LFV ficou realmente popular desde que nasceu o seu filho mais famoso, o Analista de Bagé. Este e o Amigo da Onça são os personagens mais marcantes do humor brasileiro, disse Millôr Fernandes. Em 2006, Verissimo já tinha vendido 5 milhões de exemplares e hoje está com quase cem livros publicados. Ainda foi pouco explicado como, no Estado que se orgulha de guerras, pode nascer um humorista que faz o Brasil rir. Dizem que também foi influência da sua vida no Rio de Janeiro, tanto que se casou com a carioca Lucia.

 

A velha e a jovem guardas do humor o aplaudem de pé. Escritor de livros de crônicas, novelas, redator para televisão, cartunista, emociona seus milhões de leitores. Utiliza um humor do absurdo na linha do grupo inglês Monty Python. Tem uma visão de mundo sonhadora, é um cético otimista, como escreve: “Viva todos os dias como se fosse o seu último. Um dia você acerta”. Acertou Furtado quando afirmou que ele é o melhor escritor de diálogos do Brasil. Seus recursos são o nonsense levado ao extremo, e às vezes chega a ser melancólico sem perder a leveza.

 

Soube escolher suas musas: “Escrevi uma vez que era um cético, só acreditava no que pudesse tocar: não acreditava na Luíza Brunet, por exemplo. Cruzei com a Luíza Brunet num dos camarotes de um carnaval. Ela me cobrou a frase e disse que eu podia tocá-la para me convencer da sua existência. Toquei-a. Não me convenci. Não pode existir mulher tão bonita e tão simpática ao mesmo tempo. Vou precisar de mais provas”.

 

Voltaire escreveu que os céus nos deram a esperança e o sono para compensar as vicissitudes da vida. Kant acrescentou o riso. Por isso, se nestes tempos temerosos ainda existem sábios, eles são os humoristas. O humor está sempre a revelar o outro lado do sentido, e abre, assim, as portas do absurdo. A vida sem arte perderia o encanto, sem humor perderia a graça. O humor nos dá um ponto de observação para ver o mundo com outra lógica, revelando o desconhecido. Aí constrói uma ponte com a Psicanálise, como Freud escreveu em 1927, mas o humor se mantém marginal no mundo psi. Aliás, o humor é uma visão de mundo que não se integra à vida institucional. Ter sentido de humor é ter um dom precioso e raro, pois diminui a mortificação de viver; já ter o dom de fazer humor é uma sabedoria.

 

Por tudo isso, imaginei que devíamos criar o Festival Verissimo. A cada dois anos, a cidade teria eventos musicais, teatrais, exposições e debates sobre a obra do LFV e o humor em geral. Neste ano, sugiro que a convidada especial seja a Escola de Samba Paraíso do Tuiuti. O Festival é só uma fantasia, mas imaginar é preciso.

 

Verissimo, tu sabes que o humor é uma graça, diminui os sofrimentos cotidianos. Os humoristas como tu alegram a existência. Por tudo e mais um pouco, muito obrigado, de coração.

 

Fonte: Zero Hora/Abrão Slavutzky/Psicanalista (abraoslavu@gmail.com) em 25/02/2018.