O TEATRO DE SIMÕES LOPES NETO
Editora Movimento lança antologia com 12 peças do pelotense, concluindo pesquisa iniciada em 1990.
Livro: TEATRO COMPLETO De Simões Lopes Neto. Teatro Movimento/IEL, 448 páginas.
Carlos Jorge Appel, da editora Movimento, havia estabelecido um compromisso em vida com o ator, diretor e pesquisador Cláudio Heemann (1930-1990), que foi crítico teatral de Zero Hora e organizou, em 1990, um histórico livro reunindo a produção teatral de autoria de Simões Lopes Neto (1865-1916). Ciente de que não havia tido acesso a todas as peças (o livro saiu como Volume 1), Heemann pediu a Appel que publicasse o teatro completo do autor assim que os textos restantes fossem encontrados. O editor, que em 1990 era o secretário de Cultura do Rio Grande do Sul, levou o compromisso a sério. Em coedição da Movimento e do IEL, foi lançado o TEATRO COMPLETO DE SIMÕES LOPES NETO.
O livro estava quase pronto há cerca de cinco anos, mas Appel e sua equipe queriam se certificar de que a edição estaria realmente completa. Entra aqui uma subtrama: no final de 2017, os pesquisadores João Luis Pereira Ourique e Luís Rubira, de Pelotas, publicaram o primeiro de dois volumes do teatro completo de Simões pela Zouk, também em parceria com o IEL. Aquele primeiro tomo, relativo ao século 19, já trazia peças que não constavam na edição de Heemann, como Mixórdia! (1894-1895), Coió Júnior (1896) e A Fifina (1899). Antes, em 2005, a opereta Os Bacharéis havia sido publicada pelo Instituto João Simões Lopes Neto, ganhando uma encenação.
ENGANO SOBRE AUTORIA DE PEÇA FOI DESFEITO
Beneficiando-se desses avanços, a edição da Movimento reúne 12 peças (A Viúva Pitorra aparece em duas versões), incluindo as citadas acima. A curiosidade fica pela ausência de Nossos Filhos, que havia figurado na edição de Heemann (sem o primeiro ato). Appel conta:
- Como não tínhamos todas as peças na época, Heemann optou por publicar as sei melhores, entre as quais incluiu Nossos Filhos. Mesmo tendo acesso apenas ao segundo e ao terceiro atos, ele a considerava a melhor de todas. Só não sabia que era uma tradução de uma peça do Florencio Sánchez (dramaturgo uruguaio, 1875-1910).
O editor ainda espera publicar as partituras da opereta Os Bacharéis. Com isso, acredita que o caminho estará aberto para novas montagens das peças:
- Até para ver a reação do público. Uma coisa é a plateia de 1900; outra, a de 2019. Acredito que o público de teatro mudou muito. Na época de Simões, o teatro preenchia uma curiosidade e refletia a sociedade. Hoje, disputa espaço com outros tipos de expressões que suscitam o interesse das pessoas, como as novelas.
É um tempo de redescoberta dessa vertente da obra do autor, mais conhecido pelas narrativas breves de viés regional dos CONTOS GAUCHESCOS (1912) e LENDAS DO SUL (1913). Suas peças, assim como as crônicas (reunidas no livro INQUÉRITOS EM CONTRASTE, organizado em 2016 por Luís Augusto Fischer e Patricia Lima), são de extração urbana e revelam uma faceta ainda relativamente pouco conhecida.
Mas é apenas o início da redescoberta. Os professores Ourique e Rubira esperam finalizar ainda em 2019 o segundo volume de sua edição do teatro de Simões, referente ao século 20. Somando os dois tomos, serão 14 peças, incluindo A Valsa Branca (que ficou de fora da edição da Movimento pelo fato de Cláudio Heeman, segundo Appel, considerá-la mais um esboço do que uma peça de fato) e Nossos Filhos, com a informação de que a última é um trabalho de tradução. Ourique defende:
- Sua produção é importante tanto como material de pesquisa quanto pela qualidade dos textos. Apesar de variarem, são relevantes, conforme apontamos no nosso primeiro livro, que desconsidera a inferioridade atribuída por parte da crítica às peças simonianas.
Fonte: Zero Hora/Segundo Caderno/Fábio Prikladnicki (fabio.pri@zerohora.com.br) em 06/05/2019.