UM POTE ATÉ AQUI DE MÁGOA
“GOTA D’ÁGUA [A SECO]” TRAZ DE VOLTA À CAPITAL A ESTRELA DE “ELIS – A MUSICAL”
A estreia de Gota D’Água no Rio de Janeiro, em dezembro de 1975, foi um marco na cena nacional: o texto em versos de Chico Buarque e Paulo Pontes, inspirado em uma versão para a televisão feita por Oduvaldo Vianna Filho, transpunha a Medeia da Grécia clássica para o subúrbio carioca. A trágica personagem de Eurípedes foi rebatizada Joana e ganhou características brasileiras – mas a protagonista encarnada com vigor por Bibi Ferreira mantinha as mesmas paixão e fúria do original. Mais de 40 anos depois, a mulher abandonada que urde uma terrível vingança contra o marido traidor está de volta – agora, na pele de uma nova diva do teatro no país: a atriz e cantora Laila Garin. A premiada estrela de Elis – A Musical divide o palco com Alejandro Claveaux em Gota D’Água [a seco], espetáculo em cartaz na Capital de hoje a domingo, no Teatro do Bourbon Country.
Definido pelo diretor Rafael Gomes como uma “peça com música”, o espetáculo centra a ação no par Joana e Jasão, apenas citando outras figuras como o empresário Creonte e sua jovem filha Alma, que se casa com o ambicioso protagonista masculino. Além das canções celebrizadas por Gota d’água, como Basta um dia, o encenador – responsável também pela adaptação – acrescentou em sua montagem “a seco” outras músicas de Chico, como Eu te amo, Sem fantasia e Cálice. No palco, acompanhando o casal de atores, uma banda formada por cinco músicos, sob a direção musical de Pedro Luís, executa a trilha sonora.
- A trama concentra-se na relação dos dois, com foco na paixão deles, na relação homem e mulher, opressor e oprimido. Joana é expulsa da comunidade onde vive porque e3la não faz concessões, enquanto Jasão aceita as imposições de Creonte a fim de virar um compositor de sambas bem sucedido. Uma das coisas que a gente sempre quis foi que o espectador ouvisse os argumentos dos dois, para que não ficasse uma coisa maniqueísta. Por que o Jasão não pode querer fazer sucesso? Ao mesmo tempo, como é que um homem abandona os dois filhos? – argumenta Laila em entrevista a Zero Hora, falando um dia depois de receber em São Paulo o prêmio Reverên cia por sua atuação em O BEIJO NO ASFALTO, distinção que a artista já havia ganho no ano passado por sua atuação no musical sobre Elis Regina. – Sou bicampeã.
A intérprete baiana de 38 anos sempre teve a carreira atravessada pela música, seja em shows de espetáculos musicais que protagonizou recentemente. Encarnando a Pimentinha em voz e espírito a partir de 2013 com ELIS – A MUSICAL, êxito de público e crítica, Laila arrebatou os principais prêmios de atuação do Brasil: APCA, APTR, Bibi Ferreira, Cesgranrio, Quem, Reverência e Shell. Antes disso, já tinha participado dos musicais Eu te amo mesmo assim (1010) e Gonzagão – A lenda (2012). Em 2015, além de participar da versão musical de Claudio Lins para O BEIJO NO ASFALTO, clássico de Nelson Rodrigues, Laila estreou na TV na novela BABILÔNIA. Gota D’Água [a seco] é a realização de um sonho antigo.
- Tenho o desejo de fazer essa peça desde os 16 anos, quando ouvia as gravações da Bibi dizendo os textos. Depois, quando eu tinha meus 20 e poucos anos, sofri minha primeira traição, senti minha primeira dor de amor. Me senti como a Medeia. O texto é poético, fala de coisas fortes como rimas, mas sem perder a coloquialidade. É um exemplo de arte perfeita.
Fonte: Zero Hora / Roger Lerina (roger.lerina@zerohora.com.br) em 22 de julho de 2016.